Eleições 2018

• Apuração
• Raio-x
• Pesquisas
• Candidatos

A ex-primeira-dama Marisa Letícia, falecida há um ano, seria frequentadora de uma padaria em Atibaia (SP), cidade onde há um sítio cujas reformas teriam sido pagas por empreiteiras em benefício do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). O relato foi feito nesta sexta-feira (23) à Justiça por Gesuldo Bueno, gerente do estabelecimento, no processo da Operação Lava Jato que trata das obras no imóvel.

Em depoimento ao juiz Sergio Moro, Bueno reafirmou o que declarou ao MPF (Ministério Público Federal) em fevereiro de 2016, descrevendo situações em que disse ter visto Marisa Letícia acompanhada de pessoas que seriam seguranças.

"Sempre de terça e quarta-feira, entre sete e sete e meia da manhã, era quase sagrado ela estar passando na padaria. Era um carro preto, sempre um Omega ou um Fusion, parava em frente à padaria, sempre dois seguranças. Um ficava do lado dela fora do carro, o outro entrava na padaria", contou.

Bueno afirmou ainda ter reconhecido um dos supostos seguranças de dona Marisa ao ver imagens, pela televisão, da posse de Lula como ministro da Casa Civil, em 2016 --pouco depois, a Justiça impediu o ex-presidente de assumir o cargo. Segundo o gerente da padaria, a pessoa que ele reconheceu estava fazendo a segurança de Lula na cerimônia de posse.

Ainda de acordo com Bueno, depois que a imprensa começou a noticiar as investigações sobre o sítio e a relação de Lula com a propriedade, as pessoas que ele via na padaria pararam de frequentar o local.

Cozinha teria sido paga em dinheiro vivo

Também prestaram depoimento na tarde desta sexta dois funcionários da empresa Kitchens, que instalou uma cozinha de R$ 170.000 no sítio. Elaine Abib disse que o valor foi pago em dinheiro e que as notas fiscais da compra foram emitidas em nome do empresário Fernando Bittar, formalmente um dos donos do imóvel e sócio de um dos filhos de Lula.

Já Rodrigo Garcia disse que quem pagou pela cozinha foi Paulo Gordilho, da construtora OAS e réu no processo sobre as reformas. Segundo Garcia, Bittar não participou da compra.

Lula é acusado pelo MPF de ter recebido propina de R$ 1,02 milhão das empresas Odebrecht, OAS e Schahin na forma de obras feitas no sítio, que era frequentado pelo ex-presidente e sua família. A vantagem indevida seria oriunda da participação dessas empresas no esquema de corrupção na Petrobras desvendado pela Lava Jato. O MPF também afirma que Lula comandava tal esquema e se beneficiava do mesmo "não só para enriquecimento ilícito, mas especialmente para alcançar governabilidade com base em práticas corruptas e perpetuação criminosa no poder".

O advogado de Lula, Cristiano Zanin Martins, disse em nota que nenhum dos depoimentos confirmou a acusação contra o ex-presidente, "que diz respeito a suposto vínculo entre oito contratos firmados pela Petrobras e reformas realizadas em um sítio situado na cidade de Atibaia. Lula não é e jamais foi o proprietário desse sítio e tampouco solicitou ou recebeu qualquer vantagem indevida."

A advogada de Fernando Bittar, Luiza Oliver, disse que ele é dono do sítio e tem uma "relação familiar" com Lula e seus parentes. Segundo a defesa, as obras foram feitas a pedido de Marisa Letícia, com autorização de Bittar. A advogada também diz que testemunhas "narraram que a OAS orientou a Kitchens" para que a nota fiscal fosse emitida em nome do empresário, e que "por diversas vezes" ele procurou a OAS para regularizar a situação, "mas não teve resposta por parte deles".

A reportagem não conseguiu contato com os advogados de Paulo Gordilho.