Pedro Simon vê Lula 'fora do páreo' e Bolsonaro 'sem condição de governar'

Nathan Lopes

Do UOL, em Porto Alegre

  • Pedro Ladeira-21.out.2013/Folhapress

    Para o ex-senador Pedro Simon, efeitos de prisão de Lula são 'imprevisíveis'

    Para o ex-senador Pedro Simon, efeitos de prisão de Lula são 'imprevisíveis'

Sem cargos públicos desde que deixou o Senado, em 2014, Pedro Simon (PMDB-RS) agora anda "fazendo campanha ética, pela seriedade", como ele diz. Foram 41 anos seguidos exercendo cargos públicos, de deputado estadual a governador do Rio Grande do Sul. Prestes a completar 88 anos, na próxima quarta-feira (31), ele se vê ainda mais à vontade para falar de política. "Não estando na política, eu tenho mais autoridade para falar. Temos que buscar uma solução a favor do Brasil", disse ao UOL.

Simon analisou o cenário político para a eleição presidencial de outubro e não enxerga o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) nele após o julgamento do TRF-4 (Tribunal Regional Federal da 4ª Região) que o condenou a 12 anos e um mês de prisão.

Ele também acha que o adversário mais próximo do petista nas pesquisas de intenção de voto, deputado federal Jair Bolsonaro, não reúne capacidade para governar.

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Ainda para Simon, o atual presidente e colega de partido, Michel Temer (PMDB), não deveria sequer cogitar disputar a eleição. E para Marina Silva (Rede), que considera ser o nome certo, ele só tem elogios: diz que o Brasil não a merece.

Na entrevista, o veterano recordou a última eleição que disputou, há quatro anos: "minha candidatura foi de mentirinha". "Meu nome foi preenchido para ajudar na campanha do Sartori", comentou, citando o atual governador do Rio Grande do Sul, José Ivo Sartori (PMDB).

Sobre a ideia de membros do PMDB gaúcho de lançar seu nome na disputa presidencial deste ano, ele ri e diz: "meu tempo já passou".

Confira os principais trechos da entrevista:

O que o senhor achou da decisão do TRF-4?

O voto foi muito claro, foi muito preciso. Eu acho, com toda sinceridade, que a questão está consumada. O Lula pode querer insistir, mas esse vai ser um trabalho que não vai redundar em nada porque não vejo como refazer a posição. Ele está fora do páreo.

Condenado, Lula pode ser candidato?

O PT tem reafirmado que, mesmo com a condenação, vai registrar a candidatura de Lula. O senhor acha que ele estará na eleição presidencial?

Acho que não. Acho que ele não vai estar na eleição presidencial. Tem gente que está a pé. Ciro Gomes [pré-candidato do PDT] está fazendo uma campanha na expectativa de que o Lula não seja candidato. Se o Lula não for candidato, ele quer ter o apoio do PT. Eu acho que está consumada essa posição: o Lula está fora do páreo.

Ciro atrairia mais votos do Lula do que Marina Silva?

Não sei. Acho que a Marina vai ser a mais beneficiada com a saída do Lula. É uma candidatura mais séria, mais responsável. Em duas eleições, ela fez 20 milhões de votos. É uma biografia limpa, absolutamente limpa, correta, decente. A Marina, acho que, hoje, dos nomes que estão aí, é a candidata ideal. Só que ela é boa demais para nós, né? Ela é integra, correta, é séria. Não tem defeitos. Então não serve para nós.

O PT está certo em não ter um plano B, em querer exclusivamente Lula?

Ele [partido] está dizendo o que tinha que dizer. Se já tivesse apresentado plano B, o PT tinha acabado na quarta [dia 24, quando aconteceu o julgamento]. Então, eles dizem: não tem plano B, é o Lula. O PT tem que ir com essa tese até o momento em que eles vão ver que não tem chance do Lula, e aí vão preparar, arranjar um nome.

O TRF-4 indicou que vai pedir o cumprimento da pena de prisão contra Lula, que tem apoiadores criticando intensamente a Justiça. Que efeitos a prisão de Lula teria?

É imprevisível. Ele é uma bandeira muito forte para o PT. Ele é uma vítima, e a gente gosta de uma vítima. Esse é um argumento que eles vão usar muito na campanha. Eu vejo com muita preocupação esse negócio da prisão.

Eu acho que para a política, para o bem-estar da sociedade brasileira, é melhor ter o Lula solto do que preso
Ex-senador Pedro Simon

Confrontos políticos têm marcado o país desde 2013, deixando de lado propostas e planos de governo. O senhor vê algo diferente no horizonte quanto a isso?

Não, lamentavelmente, não. Uma coisa que pode ser é terminar com a corrupção, né? Assim como o Lula não pode ser candidato porque, com a condenação dele, ele está comprometido com a Ficha Limpa, tem muita gente que é candidato aí, deputado que quer ser candidato que tem a ficha até dez vezes mais suja que a do Lula. Se retirar da política os que são "ficha suja", já é uma grande coisa.

Atualmente, o cenário eleitoral de 2018 está polarizado entre extremos, com Lula de um lado e Bolsonaro de outro. O senhor acha que esse cenário se sustenta até outubro?

Bolsonaro não reúne nenhuma condição para governar o Brasil

O nome de um cidadão que não apresentou nada a não ser essa tese de defender a ditadura militar, de que vai botar comunistas ou quem mais na cadeia, não tem condições de que ele seja capaz de empolgar a sociedade. O Lula, sim. Se for ele, claro que empolga. Mas se o Lula não for candidato, também acho difícil que alguém substitua a figura dele para polarizar.

O nome, hoje, para mim, seria o da Marina. Se o Lula não for candidato, o nome que tem para preencher esse vazio é a Marina. Em 2014, ela estava espetacularmente bem. Aí, quando veio a televisão (horário eleitoral), ela se esvaziou. Ela tinha um minuto. A Dilma tinha dez. Isso é um problema sério no Brasil

Se tiver uma frente em torno dela, ela [Marina Silva] pode ser o grande nome desta eleição

Com os indicadores econômicos apresentando sinais de melhora, o senhor acha que Temer deve disputar a eleição de 2018?

De jeito nenhum, acho que a pior coisa que ele poderia fazer seria disputar a eleição. Acho que ele vai entender que ele não tem nenhuma chance. Ainda que ele faça um bom governo, que ele vá bem --Deus queira que vá--, não há condições de ele ser candidato à Presidência.

As pessoas têm muita dificuldade em entender o PMDB, que, em cada Estado, pensa de uma forma. Como o senhor explicaria o PMDB?

Eu estou dentro da sua tese. Eu sou daqueles que também não consegue explicar o PMDB. Cada lugar é um PMDB diferente. É exatamente isso. Agora não há um comando-geral, não tem uma chefia. Então, na verdade, o senador Renan [Calheiros] é um PMDB; o Sarney, outro PMDB; nós do Rio Grande do Sul, mais outro. Infelizmente, não temos um fator de unificação nacional.

Em 2 minutos, como foi o julgamento de Lula

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