Operação Lava Jato

Única chance do PT é manter Lula até último minuto, diz cientista político

Juliana Carpanez

Do UOL, em São Paulo

"A única chance que o PT tem de sair vitorioso nessas eleições é manter a candidatura do Lula em pé até o último minuto", afirma Bruno Bolognesi, cientista político da UFPR (Universidade Federal do Paraná) e pesquisador do Lapes (Laboratório de Análise dos Partidos Políticos e Sistemas Partidários).

"Se não for o Lula, eles não ganham", continuou o especialista em entrevista ao UOL nesta quarta-feira (24), dia em que o TRF-4 (Tribunal Regional Federal da 4ª Região) condenou em segunda instância do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Com a decisão, o petista cai na Lei da Ficha Limpa e pode ser impedido de disputar a eleição presidencial, marcada para 7 de outubro. De qualquer forma, diz Bolognesi, trata-se de uma situação em que o PT sai ganhando.

Se ele concorrer, pode vencer. Se for impugnado, o partido usará o discurso de vítima pelos próximos 30 anos, de que foi um golpe dentro do golpe. O melhor para a estabilidade democrática seria ele concorrer e perder nas urnas
Bruno Bolognesi, cientista político

O ex-presidente lidera todas as pesquisas de intenções de voto. Para Bolognesi, sua saída fragmentaria ainda mais essa disputa, dificultando a vitória do partido.

"O PT ficou refém do Lula. Com uma liderança carismática, ele criou uma relação direta com o povo: 'nós contra eles, contra a elite'. Esse discurso populista tende a aniquilar o peso das entidades de intermediação entre sociedade e estado, que é a função primordial do partido político", explica.

"O fenômeno do lulismo garante ao PT uma probabilidade de chegada ao poder. O fenômeno do petismo não garante nada. É preciso separar uma coisa da outra: o petismo é muito mais fraco que o lulismo, diz  Bolognesi.

Sucessores "fracos"

Arquivo pessoal
Para Bruno Bolognesi, Lula não preparou um sucessor forte como ele
Parte dessa importância do político no partido, avalia o especialista, deve-se ao fato de Lula não ter realmente preparado um sucessor. 

"Ele não deu espaço para alguém crescer com uma carreira consolidada, sempre colocou pessoas sem condição de se catapultar para uma posição de destaque.  Escolheu gente fraca para continuar controlando o partido, houve um cálculo para ele continuar com sua posição de poder muito clara", diz, citando como exemplo a ex-presidente Dilma Rousseff e a senadora Gleisi Hoffmann, presidente nacional do PT. 

Sobre a condenação desta quarta, Bolognesi avalia que o impacto é simbólico. "É pregar para os convertidos. Quem já odiava [o Lula] vai odiar mais, quem apoiava vai defender mais. Do ponto de vista do comportamento político, não muda muito. O que muda é o cálculo eleitoral que o PT vai ter de fazer, considerando que a candidatura de Lula pode ser barrada."

Ele faz a ressalva de que esse impacto pode ser muito maior em caso de prisão, o que causaria grandes estragos à imagem do partido e do político. "Por enquanto, ninguém vai se dar por derrotado porque foi condenado."

Receba notícias do UOL. É grátis!

UOL Newsletter

Para começar e terminar o dia bem informado.

Quero Receber

Veja também

UOL Cursos Online

Todos os cursos