Apoiado pelo MBL, Marchezan já teve doação de empresas ligadas à Lava Jato

Pedro Lopes

Do UOL, em São Paulo

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    Nelson Marchezan Júnior (centro), acompanhado de seu vice, Gustavo Paim

    Nelson Marchezan Júnior (centro), acompanhado de seu vice, Gustavo Paim

Depois de ganhar força durante o processo de impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, o MBL (Movimento Brasil Livre) finalmente "chegou" ao poder executivo. Nelson Marchezan Jr. (PSDB) é um dos principais candidatos chancelados pelo movimento a chegar a uma prefeitura de capital nessas eleições. Ele foi eleito em Porto Alegre (RS) com 60,5% dos votos, contra 39,5% do atual vice-prefeito e candidato, Sebastião Melo (PMDB).

Movimento composto principalmente por jovens e que se denomina liberal, o MBL cresceu durante o processo de impeachment e organizou diversas manifestações pelo país. Atualmente, possui "células" em diferentes Estados e tem atuado contra as ocupações estudantis em escolas estaduais no Paraná. Tem como líderes e fundadores Renan Santos e Kim Kataguiri.

O MBL lançou 45 candidatos a vereador e um a prefeito nas eleições deste ano. Conseguiu eleger sete vereadores, além do prefeito de Monte Sião (MG), Zé Pocai (PPS).

Na capital gaúcha, o grupo teve seu nome envolvido na maior polêmica da eleição municipal: a morte de Plínio Zalewski, coordenador da campanha de Melo. Pessoas ligadas a Zalewski afirmaram que, antes de morrer, ele disse que estava preocupado com vídeos feitos contra ele por membros do MBL. A coligação de Melo solicitou que o caso fosse investigado como possível crime eleitoral, mas o pedido foi negado, e a morte é investigada como suicídio.

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Marchezan: deputado por duas vezes

Apesar de ocupar um cargo executivo pela primeira vez, Marchezan não é novato na política: ele ocupa o cargo de deputado federal pela segunda vez. Tanto seu discurso quanto sua atuação como deputado mostram-se alinhados com o MBL. Marchezan defende um Estado mais eficiente e com custos sob controle, e apresentou projetos nessa linha.

Por outro lado, apesar de se ligar a um grupo que se apresenta como nova alternativa à classe política, ele tem em seu passado recente traços da velha política, como o apoio de empreiteiras e partidos citados na Lava Jato em eleições anteriores.

Lado A: Estado eficiente

Em dois mandatos como deputado federal, Marchezan apresentou 27 projetos de lei (PL), sendo parte deles sobre enxugamento de custos estatais, redução nos impostos e eficiência, bandeira do MBL. Por exemplo, o PL 1165, de 2015, prevê que presos indenizem o Estado pelos valores gastos com a sua manutenção durante o período de cumprimento de pena. O PL 4407 busca estender a isenção de imposto de renda aos portadores de doenças pulmonares.

Como prefeito, Marchezan prega a redução de custos e o aumento da eficiência do Estado. "A ideia é diminuir e melhorar a gestão. A prefeitura tem que aumentar os serviços públicos, tanto em termos de quantidade como em termos de qualidade, mas não necessariamente contratar mais funcionários ou aumentar a máquina pública", disse ao UOL em setembro. "[A primeira medida será] apresentar o projeto de reforma administrativa para tentar nos aproximar dos problemas da cidade através de uma estrutura menor de poder."

Lado B: empreiteiras e partido ligado à Lava Jato

Neste ano, as doações de empresas para campanhas eleitorais foram proibidas. Mas em 2014, quando ainda eram liberadas, a campanha de Marchezan para deputado federal recebeu doações legais de empreiteiras e de empresas envolvidas na Lava Jato e em outras investigações.

A Odebrecht e a Quantiq (distribuidora da Braskem, ligada à Odebrecht) doaram, juntas, R$ 55 mil à campanha do tucano. Por meio do diretório nacional do PSDB, a campanha de Marchezan recebeu, ainda, mais R$ 100 mil da Odebrecht Óleo e Gás, R$ 100 mil da Hangar (que tem a Odebrecht como uma de suas sócias) e mais R$ 60 mil da Quantiq.

Marchezan também conta com o apoio do PP do Rio Grande do Sul. O partido tem vários membros envolvidos no centro da Lava Jato e foi da base de apoio até os últimos meses do governo de Dilma Rousseff.

"Nós não temos vigaristas de estimação. Se alguém tiver que ser processado, que seja. Se alguém tiver que ser condenado, que seja. Vamos seguir a linha de sempre. Tenho certeza de que os cidadãos que escutassem todas as nossas conversas [entre ele e o candidato a vice, Gustavo Paim, do PP] iam ficar orgulhosos. Minha relação com esse partido foi límpida, transparente, leve, honesta e, diria até, bonita. Não tenho nenhum problema em ter o apoio", disse Marchezan ao UOL em setembro.

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