Com crise do PT, candidatos patinam nas pesquisas de capitais do Nordeste

Aliny Gama

Colaboração para o UOL, em Maceió

  • Reprodução/Facebook

    Com a presença do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o PT oficializou a candidatura de Luizianne Lins à Prefeitura de Fortaleza

    Com a presença do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o PT oficializou a candidatura de Luizianne Lins à Prefeitura de Fortaleza

Em meio às denúncias no cenário nacional e o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, o PT patina nas pesquisas eleitorais nas capitais da região Nordeste, onde historicamente tem bons resultados. Dos nove candidatos do partido ou que disputam em coligação, cinco aparecem com até 10% nas pesquisas de intenção de voto -- Maceió, João Pessoa, Natal, Teresina e Salvador. Apenas quatro -- Aracaju, Fortaleza, Recife e São Luís -- teriam chances de segundo turno ou de se elegerem ainda no primeiro.

A crise nacional do partido com as acusações de corrupção descobertas com a Operação Lava Jato, o impeachment e o sentimento anti-PT vêm causando impacto direto nas pesquisas municipais. Analistas políticos entrevistados pelo UOL acreditam que, mesmo que a discussão nacional não paute todas as intenções de voto, as notícias do que acontece em âmbito federal causaram, sim, impacto negativo no desempenho de candidatos petistas municipais e os que estão coligados evitam vincular o partido no horário eleitoral para não "manchar" suas imagens.

Em Maceió, o candidato Paulão do PT aparece com 2% das intenções de voto, segundo pesquisa Ibope divulgada no último dia 14. Na primeira pesquisa, Paulo estava com 3%.

Outro desempenho fraco está em João Pessoa, onde o candidato Professor Charliton (PT) pontuou apenas 2% das intenções de voto nas duas pesquisas Ibope feitas durante a disputa municipal. Charliton é o segundo candidato com maior índice de rejeição, com 38%, atrás de Victor Hugo (PSOL), que tem 42% de rejeição de 2% das intenções de voto.

Em Natal, o candidato petista Fernando Mineiro é outro com poucas chances de segundo turno, alcançando 5% das intenções de voto. Segundo a pesquisa Ibope, Mineiro é o candidato com maior índice de rejeição, com 36%.

Em Teresina, o candidato Amadeu Campos (PTB), que tem o PT na coligação, oscilou negativamente de 12% para 10% nas últimas pesquisas Ibope. Já em Salvador, a candidata Alice Portugal (PCdoB), que tem como vice a deputada estadual Maria del Carmen (PT), tem apenas 10% intenções de voto, segundo o Ibope. O candidato ACM Neto (DEM) disputa a reeleição e, segundo as pesquisas, e deve ser eleito ainda no primeiro turno. No último levantamento do Ibope, ele obteve 68% das intenções de voto.

A candidata Luizianne Lins (PT), que tenta retorno à Prefeitura de Fortaleza, tem 18% das intenções de voto, situando-se na terceira colocação nas duas pesquisas Ibope divulgadas até o momento. Ela tem 40% de rejeição e está em segundo lugar no quesito candidata que o eleitor não votaria caso as eleições fossem hoje. O candidato mais rejeitado é Tin Gomes (PHS), com 41%.

No Recife, a situação é parecida com Fortaleza. O partido lançou o ex-prefeito João Paulo, que segundo o Ibope, tem 27% das intenções de voto -- ele pontuou o mesmo percentual na primeira e segunda pesquisas. O cenário na capital pernambucana deverá forçar um segundo turno entre João e Geraldo Julio (PSB). Geraldo Julio, na última pesquisa, saltou de 26% para 38% das intenções de voto.

Divulgação
João Paulo (PT), ex-prefeito do Recife, pode disputar o segundo turno, segundo o Ibope

Os dois candidatos com melhor desempenho na região terão o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva nas suas campanhas. Lula viaja nessa semana para Recife e Fortaleza para participar de comícios.

Em duas capitais, candidatos apoiados ao PT lideram. Em Aracaju (SE), o candidato à prefeitura Edvaldo Nogueira (PCdoB), que tem como vice Eliane Aquino (PT) --viúva do ex-governador Marcelo Déda--, está à frente do candidato à reeleição João Alves (DEM). Nogueira vem liderando as pesquisas e obteve o aumento de 28% para 36% das intenções de voto, segundo o Ibope.

O candidato à reeleição a prefeitura de São Luís (MA), Edivaldo Holanda Júnior (PDT), lidera as pesquisas. O PT está na coligação, mas não indicou o vice. Nas duas últimas pesquisas Ibope, Edivaldo Holanda Júnior cresceu de 29% para 37%. O segundo colocado, Wellington do Curso (PP), saltou de 20% para 31%, enquanto Eliziane Gama (PPS) oscilou de 16% para 10%.

Análise

O cientista político e professor da UFPE (Universidade Federal de Pernambuco) Michel Zaidan Filho afirma que, apesar de as eleições municipais serem despolitizadas e, em geral, com foco na gerência das cidades, não há como fugir do cenário nacional. "O afastamento da Dilma e denúncia contra Lula vêm causando desgaste nas imagens dos candidatos às prefeituras que são do partido. Qualquer um vinculado a Lula e ao PT numa conjuntura como essa corre risco negativo", afirma Zaidan Filho.

O cientista político Zoroastro Pereira de Araújo Neto, do Ifal (Instituto Federal de Alagoas), acredita que o eleitor de 2016 está cismado com o partido. "O governo do PT, seja nacional ou local, deixou o povo com a pulga atrás da orelha: fez muito, mas alguns mancharam as conquistas. Sem dúvida, a queda na pesquisa eleitoral dos candidatos do PT é reflexo da ausência do agir no período da gestão. O perfil do eleitor que está cada vez mais crítico e obriga o político a ter mais atenção e faça mais pelas comunidades", diz Araújo.

Para o cientista político e historiador Wagner Cabral, professor da UFMA (Universidade Federal do Maranhão), casos com o Aracaju e São Luís podem ser explicados pelo fato de os candidatos não serem do PT. Ele explica o caso da capital maranhense. "Nem o PT, nem nenhum petista aparece na campanha de Edivaldo Holanda. A eleição em São Luís não se federalizou, tendo o impeachment como ponto central de discussão. O tema do impeachment pode ter afetado apenas a candidatura da deputada Eliziane Gama (PPS) [à prefeitura de São Luís], que votou a favor, num cenário em que metade do eleitorado local não concordava com o impeachment", destaca o historiador.

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