Agronegócio não teme Marina como temia ex-ministra, mas ainda há cautela

Roberto Samora e Gustavo Bonato

Em São Paulo

  • Reuters

Aquela Marina Silva que deixou o Ministério do Meio Ambiente do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva contrariada pela expansão de grãos e da pecuária na Amazônia Legal já não preocupa tanto representantes do agronegócio, embora parte do setor ainda tenha algumas ressalvas.

A avaliação de duas importantes entidades representativas do setor é que, como herdeira da candidatura de Eduardo Campos à Presidência da República, Marina estaria comprometida com as propostas do ex-governador de Pernambuco morto tragicamente em acidente aéreo em Santos nesta semana.

Na hipótese de Marina ser indicada como substituta de Campos na cabeça de chapa do PSB, avaliaram líderes de associações do agribusiness brasileiro, ela defenderá as mesmas propostas do socialista, que considerava possível produzir alimentos de forma sustentável, contando inclusive com mais apoio do governo.

"O que mais me agradou no discurso do Eduardo Campos era o discurso efetivo sobre a sustentabilidade do agronegócio, o quanto ele considerava, e o quanto precisava de política pública para o desenvolvimento dessa sustentabilidade", disse à Reuters o presidente da Associação Brasileira do Agronegócio (Abag), Luiz Carlos Corrêa Carvalho.

"Nisso, nós ficamos muito animados com o discurso (de Campos). Quando ele falava nisso (sobre sustentabilidade ambiental do agronegócio), entendíamos que ela (Marina) estava por trás apoiando o discurso dele", acrescentou Carvalho.

O dirigente da Abag acredita que o posicionamento de Campos foi construído juntamente com Marina. Por isso, avalia ser improvável que haja grandes guinadas, na hipótese de ela ser a candidata à presidência da República pelo PSB.

O futuro da coligação "Unidos pelo Brasil"
  • Reprodução/Facebook
    Marina Silva
    A atual candidata a vice é o principal nome cotado para assumir a candidatura. Além do capital eleitoral acumulado desde as Eleições de 2010 (quando recebeu quase 20% dos votos), a política acreana tem a seu favor o apoio declarado do irmão de Eduardo Campos, Antônio Campos. Contra Marina pesa sua intenção de deixar o PSB em 2015 para criar um novo partido, o que desagrada lideranças do PSB.
  • Arte/UOL
    Outro nome da coligação
    Pela legislação eleitoral, qualquer afiliado a um dos partidos da coligação "Unidos Pelo Brasil" poderá substituir Eduardo Campos. Até agora, porém, nenhum político das siglas coligadas figura como alternativa posta em debate. Na quinta (14), Roberto Amaral, presidente do PSB desde a morte de Campos, disse que o partido tomará, a seu critério, as decisões sobre a condução do processo eleitoral.
  • Arte/UOL
    Desistir da candidatura
    O PSB e demais partidos da coligação podem ainda optar por desistir da candidatura, e apoiar informalmente outra candidatura já existente. Neste caso, o horário eleitoral na TV reservado à chapa desistente (1min49s) não seria dividido entre os demais concorrentes, e sim ocupado por uma imagem vazia. Alguns analistas afirmam que políticos do PSB próximos ao PT ou PSDB seriam defensores desta opção.

"Ela tinha esse compromisso com ele (Campos) e conosco... Ambos tinham objetivo claro de mudanças e construíram juntos um padrão de mudança no qual o agronegócio era uma plataforma fundamental de crescimento e desenvolvimento do país."

A Abag congrega desde as principais multinacionais do agronegócio, empresas agrícolas listadas na Bovespa e bancos até associações como a União da Indústria de Cana-de-açúcar (Unica). A posição de seu presidente, porém, contrasta com a de outros integrantes do setor, que ainda veem Marina com posições antagônicas ao agronegócio e até contra o plantio de transgênicos.

  • 34126
  • true
  • http://noticias.uol.com.br/enquetes/2014/08/15/qual-sera-o-caminho-que-a-coligacao-liderada-para-o-psb-tomara-em-relacao-a-eleicao-presidencial.js

A ex-seringueira acriana deixou o governo Lula em maio de 2008, após ocupar o Ministério do Meio Ambiente desde o primeiro mandato do petista, em meio a conflitos relacionados à concessão de licenças ambientais para hidrelétricas, que geraram embates inclusive com a hoje presidente Dilma Rousseff, na época ministra da Casa Civil.

Também pesaram questões como a demarcação de áreas indígenas e a expansão das atividades agropecuárias em áreas na Amazônia Legal. Representantes do agronegócio não perderam a oportunidade de criticá-la quando deixou o governo.

O diretor-executivo da Associação Nacional de Defesa Vegetal (Andef), Eduardo Daher, considera que seria uma "excelente ideia" Marina fazer uma Carta aos Brasileiros, no estilo daquela feita por Lula ao mercado financeiro antes da eleição de 2002. Agora, a carta seria especificamente endereçada ao agronegócio.

Isso talvez ajudaria a tranquilizar os mais cautelosos, já que, conforme observou a MCM Consultores Associados, as dúvidas do agronegócio permanecerão até uma eventual eleição de Marina.

Para a MCM, o "risco Marina" na infraestrutura e no agronegócio continua alto e "só cairá se ela, uma vez eleita, provar ao longo do tempo que sua agenda ambientalista não prejudicará de fato os negócios desses setores".

Aberto ao diálogo

A Sociedade Rural Brasileira (SRB), uma das mais tradicionais no Brasil e atualmente sob a direção de um jovem presidente, reduziu a resistência em relação à ex-senadora.

"Ela (Marina) sempre colocou que é a favor de um desenvolvimento que olhe o lado da sustentabilidade como uma das premissas. Em nenhum momento ela colocou que a proteção unilateral do meio ambiente é conflituosa com o desenvolvimento", afirmou o presidente da SRB, Gustavo Junqueira, eleito para o cargo este ano aos 41 anos.

"É possível produzir e proteger os nossos ativos naturais. O conceito que eu vejo nas conversas com a Marina... é que ela também avalia que é possível fazer isso", comentou ele, destacando estar aberto a discussões.

Veja também

UOL Cursos Online

Todos os cursos