"Ninguém" ganha mais votos do que Pezão no Rio

Rafael Barifouse

Em São Paulo

O segundo do turno da eleição para o governo do Rio de Janeiro consagrou Luiz Fernando Pezão como o vencedor da disputa, mas o candidato do PMDB não foi quem recebeu o maior número de votos: a maioria dos eleitores fluminenses não escolheu ninguém como seu próximo governador. Pezão recebeu 4.343.298 votos, enquanto 4.348.950 eleitores não foram às urnas ou votaram em branco ou nulo no último domingo (5.652 a mais).

A abstenção chegou a 22,35% neste domingo (26), um número considerado dentro da média nacional. O que mais chama a atenção é o índice de 17,3% de votos em branco e nulos, o segundo maior índice destas eleições para governador nos dois turnos. Só Alagoas teve uma taxa de brancos e nulos maior, com 20,3%, na eleição resolvida em primeiro turno para governador.

Se forem considerados somente os votos nulos (não os brancos) no Rio de Janeiro, o índice de 13,96% foi o maior do país. Estes índices sinalizam uma grande insatisfação dos fluminenses com a política atual e são um reflexo da falta de identificação com Pezão e Marcelo Crivella, do PR, que disputava o governo estadual com o candidato do PMDB, segundo analistas ouvidos pela "BBC Brasil".

Insatisfação

O cientista político Jairo Nicolau, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, explica que, em uma votação de segundo turno, normalmente os votos brancos e nulos somados giram em torno de 10%.

Ele acredita que o índice no Rio, de quase o dobro do normalmente esperado, é um reflexo dos protestos de junho de 2013. "O Rio de Janeiro foi o principal palco das manifestações contra a política no ano passado, e uma parte deste movimento se refletiu nos votos", afirma Nicolau. "Ao mesmo tempo, os dois nomes que foram para o segundo turno não representam uma grande parte do eleitorado jovem, das camadas médias e mais de esquerda."

Para Carlos Pereira, cientista político da Fundação Getúlio Vargas do Rio de Janeiro (FGV-RJ), esta falta de identificação dos fluminenses com Pezão e Crivella se traduziu nas urnas com um expressivo "voto de protesto".


"As duas candidaturas não empolgaram o eleitor do Estado, que ficaram meio perdidos no segundo turno e decidiram anular o voto. O alto índice foi um fruto da falta de alternativa, de um desencantamento com o que a política ofereceu neste ano", diz Pereira.

Rejeição

O cientista político Ricardo Ismael, da PUC-Rio, credita este índice a uma força de um movimento em prol do voto nulo no Rio de Janeiro. "O voto nulo é uma rejeição completa ao sistema político", diz.

Ismael não acredita que este índice terá uma repercussão no governo de Pezão. "Quem votou nulo é um eleitor mais difícil de conquistar. Não acho que Pezão tentará fazer isso, mas governará para quem votou de fato, seja nele ou no Crivella", afirma Ismael.

Pereira, da FGV-RJ, não compartilha da mesma opinião. Para ele, o novo governador do Estado terá, sim, de prestar atenção a esta parcela do eleitorado. "Como ele não teve uma votação expressiva em números absolutos, Pezão chega fragilizado ao governo", afirma.

"A legitimidade e o capital político são obtidos com o apoio eleitoral. Sem isso, a lua de mel após a votação é mais curta e, na primeira crise, o eleitor parte para oposição. O Pezão precisará tomar cuidado no início para cativar este eleitor que não votou em ninguém."

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