Do Capão a Itaquera, PT perde para PSDB na periferia e busca 'reinvenção'

Guilherme Balza

Do UOL, em São Paulo

No dia 20 de outubro, seis dias antes do primeiro turno das eleições, o PT conseguiu reunir rappers, sambistas, artistas populares, lideranças comunitárias, movimentos sociais, entre outros, em um grande comício de Dilma Rousseff e Luiz Inácio Lula da Silva na Cohab José Bonifácio, no coração da periferia da zona leste de São Paulo

Reprodução - Arte/Folha
Aécio (azul) venceu no centro expandido e nos bairros da periferia menos distantes; já Dilma saiu vitoriosa nas regiões mais extremas da capital paulista

Intitulado "Periferia com Dilma", o ato empolgou a militância petista e foi tratado como um marco na reta final da campanha. Naquele dia, Dilma aparecia numericamente à frente de Aécio Neves (PSDB) nas pesquisas pela primeira vez (52% a 48%). Ao contrário do que enunciava o comício, a periferia de São Paulo, pela primeira vez desde que Lula chegou ao poder, não esteve com o PT.

Na zona eleitoral que engloba a Cohab José Bonifácio, Aécio venceu Dilma com oito pontos de vantagem (54% a 46%). E foi assim também em Itaquera, São Miguel Paulista, Capão Redondo, Campo Limpo, Brasilândia e vários outros bairros da periferia em que o PT estava acostumado a vencer os tucanos com folga, o que desconstrói o discurso de que Aécio sustenta-se apenas no apoio da chamada elite branca paulistana.

Em 2010, na zona da Cohab José Bonifácio, Dilma obteve 56% dos votos contra 44% de José Serra (PSDB). No Capão Redondo, o placar há quatro anos foi de 62% a 38% para a petista. Nas eleições atuais, Aécio levou com 50,4% dos votos. Em Itaquera, Dilma obteve 55% dos votos em 2010 ante a 43% nestas eleições. Na Brasilândia, a petista conquistou 56% do eleitorado há quatro anos contra 45% neste pleito.

Campanha presidencial 2014
Campanha presidencial 2014

Nestas eleições, o PT venceu em apenas dez das 58 zonas eleitorais paulistanas --em 2010, Dilma ganhou em 23--, todas nos bairros mais extremos da periferia, exatamente os que possuem os piores indicadores sociais --Cidade Tiradentes, Guaianazes, Iguatemi, Jardim Helena, Itaim Paulista, Piraporinha, Valo Velho, Grajaú, Parelheiros e Perus.

Mesmo nestas áreas o PT perdeu apoio na comparação com as eleições de 2010. Dilma obteve seu melhor desempenho nestas eleições em Parelheiros e Grajaú, com 60% dos votos. Há quatro anos, recebeu 75% dos votos nessas áreas.

Dilma também foi derrotada por Aécio no conjunto de cidades da Grande São Paulo apelidado de "cinturão vermelho" em função do bom desempenho eleitoral do PT. O tucano venceu em cidades como Guarulhos, Osasco, Carapicuíba, São Bernardo do Campo e Santo André, todas governadas por prefeitos petistas.

A presidente sagrou-se vitoriosa em apenas três municípios da Grande São Paulo, Diadema, Ferraz de Vasconcelos e Itapevi, que, curiosamente, não são governadas pelo PT.

Onda antipetista

A Executiva Municipal do PT em São Paulo irá se reunir na próxima segunda-feira (2) para avaliar as razões do mau desempenho da sigla em seus antigos redutos.

O vereador Paulo Fiorilo, presidente do PT paulistano, aponta três hipóteses: incapacidade do partido em dialogar com a chamada classe C paulistana; esgotamento das políticas sociais do governo federal; e a adesão deste segmento ao conservadorismo mais característico da classe média tradicional em função do que chama de "onda antipetista".

"Essa onda antipetista teve um peso muito grande em São Paulo e chegou até este segmento. A mídia explorou muito o antipetismo, o que provocou impacto nesta parcela da população. É uma coisa que foi muito disseminada nas redes sociais", afirma. "Outra possibilidade é que esse público, a partir da ascensão social, tornou-se mais crítico e se distanciou do PT."

Fiorilo afirma que o partido precisa "se reinventar". "Precisamos dialogar mais com esse público, com a juventude, com os movimentos sociais, e se adequar a essa nova realidade."

O poeta Sérgio Vaz, coordenador do sarau da Cooperifa, realizado na região do Capão Redondo, afirmou que a baixa votação do PT na periferia foi provocada pela influência da mídia e pelo afastamento do partido.

"O maior cabo eleitoral do Aécio foi a mídia, que a população assiste diariamente e não tem formação crítica suficiente para analisar", disse. "Antes o PT era muito mais presente. Nestas eleições, nem o Suplicy, que é um cara que todo mundo da quebrada gosta, apareceu. O partido precisa voltar para as bases."

Eleitor de Dilma, Vaz afirma que grande parte da população não associa as políticas sociais com o PT.

"Vejo que há uma falta de comunicação do partido. Tem gente que tem o Prouni, não sabe que é do governo Lula e Dilma e acaba votando no PSDB. Esses jovens que estão na periferia não cresceram no 'miserê' da era FHC, eles já cresceram na 'hora do bife' e acha que isso sempre existiu. São 12 anos de governo Lula e Dilma. Se hoje ele tem 20 anos, tinha oito quando o Lula se elegeu [em 2002]. Ele ascendeu socialmente e acha que sempre foi assim."

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