Pezão dedica vitória a Cabral e diz que "apanhou igual a cachorro sem dono"

Hanrrikson de Andrade

Do UOL, no Rio

  • Marcelo Carnaval/Agência O Globo

    Pezão comemora junto com o seu vice, Francisco Dornelles (PP), e suas respectivas mulheres, no hotel Windsor Flórida, no Catete

    Pezão comemora junto com o seu vice, Francisco Dornelles (PP), e suas respectivas mulheres, no hotel Windsor Flórida, no Catete

Reeleito neste domingo (26) para mais um mandato à frente do governo do Rio de Janeiro com 55,78% dos votos válidos, o governador Luiz Fernando Pezão (PMDB), 59, dedicou a vitória nas urnas contra o senador Marcelo Crivella (PRB), que teve 44,22%, ao antecessor e correligionário, Sérgio Cabral, de quem foi vice-governador por mais de sete anos. Este será o terceiro mandato seguido de um político do PMDB no governo do Estado.

Segundo ele, o "irmão Cabral" foi o grande responsável pela sua candidatura, quando "todos duvidavam" de sua capacidade para concorrer à chefia do Executivo, inclusive dentro de seu próprio partido.

"Eu quero agradecer muito ao ex-governador Sérgio Cabral, uma pessoa que, em sua entrevista no primeiro dia após a reeleição, me lançou como candidato. Todo mundo achou que foi precipitado, uma ousadia. Mas ele acreditou", afirmou Pezão, durante entrevista concedida em um hotel na zona sul da capital fluminense. "Eu dedico essa vitória a ele", declarou.

O peemedebista lembrou de pesquisas eleitorais divulgadas no começo do ano, antes da campanha, que o colocavam com cerca de 5% das intenções de voto. "As pessoas duvidavam da escolha que ele [Cabral] tinha feito dentro de um partido grande como o PMDB. O Sérgio sempre esteve ali, firme", declarou.

Questionado se o ex-governador poderia ser indicado a um cargo do governo estadual, Pezão desconversou e disse que Cabral será uma espécie de consultor. "Ele vai ser a minha fonte permanente", resumiu. Pezão também não entrou em detalhes sobre nomeações e escolhas de quadros políticos.

Como fez diversas vezes durante o segundo turno, Pezão voltou a lembrar as críticas recebidas no primeiro turno do pleito. Ele disse ter apanhado "igual cachorro sem dono" dos três principais adversários: Crivella, o ex-governador e deputado federal Anthony Garotinho (PR), e o senador Lindberg Farias (PT).

Na primeira declaração pública após a confirmação da reeleição, Pezão agradeceu "muito à população do Estado do Rio de Janeiro essa grande vitória". "Nem nos meus melhores sonhos eu podia imaginar que um dia chegaria como governador reeleito. Nunca sonhei nem em chegar a vice-governador. Ter chegado a governador e ser reeleito é uma alegria muito grande", disse.

Ele disse não saber, inclusive, se o secretário de Segurança, José Mariano Beltrame, continuará à frente da pasta. "Ainda é muito cedo para isso", comentou. Os primeiros nomes só devem ser anunciados a partir de dezembro.

A respeito dos principais adversários, Pezão afirmou que, no começo do ano, muitos consideravam "inimaginável derrotar Garotinho, Lindberg e Crivella". "Mas a gente conseguiu derrotar os três juntos", completou ele, referindo-se à aliança dos opositores no segundo turno.

Pezão disse, por fim, que não pretende "parar para descansar" e que o foco inicial da nova gestão será a saúde. Ele afirmou que pretende inaugurar 30 leitos na Santa Casa de Misericórdia até a próxima semana. "Adoro trabalhar, entregar e fazer. Eu vou ser um leão para responder a essa votação que a população do Estado me concedeu", finalizou.

Alvo de alta rejeição desde a série de manifestações iniciada em junho do ano passado, Sérgio Cabral pouco apareceu na campanha de Pezão, atuando principalmente nos bastidores. A estratégia foi criticada pelos adversários do atual governador, que o acusaram de "esconder" Cabral.

O peemedebista justificou a opção lembrando que também era cobrado porque o prefeito do Rio, Eduardo Paes, "um dos mais bem avaliados do país", não aparecia nos seus programas. "Em toda a nossa concepção de campanha eu tinha que mostrar quem vai governar. O Sérgio prestou o maior serviço que esse Estado já teve", declarou.

"Ele sabia que eu tinha que ser protagonista. Ele apareceu no primeiro programa me apresentando. Eu tenho um orgulho imenso disso. Sempre defendi o governo em todos os debates. Em todos os debates, eu apanhei ali igual a um cachorro sem dono no primeiro turno. Mas sempre defendendo o governo", concluiu.

O ex-prefeito de Piraí, cidade no sul do Estado, vai governar uma população estimada em 16,4 milhões de pessoas distribuídas entre 92 municípios, segundo dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

No segundo turno, Pezão recebeu apoios de peso, como o do ex-jogador de futebol Romário (PSB) que venceu a disputa pelo Senado, e se aliou a nove de dez prefeitos do PT no Estado e a cinco dos seis deputados eleitos pela sigla. A presidente Dilma Rousseff (PT) esteve em seu palaque, assim como no de seu adversário.

Durante a entrevista na noite deste domingo, também agradeceu ao seu vice na chapa, o senador Francisco Dornelles (PP). "É uma alegria muito grande ser protagonista de uma eleição majoritária e ter ao meu lado um grande homem público, um orgulho pra mim, uma pessoa que sempre me acolheu, que é o Francisco Dornelles", afirmou.

Durante o segundo turno, Pezão atacou a ligação de seu Crivella com a Iurd (Igreja Universal do Reino de Deus). O peemedebista acusou o senador de ser instrumento da igreja para tentar controlar o Estado --ele é bispo licenciado e sobrinho do líder da instituição, Edir Macedo. Para reforçar sua posição, ele exibiu um vídeo de 1995 que mostra Macedo ensinando os pastores a arrecadar contribuições dos fiéis.

Crivella promete lutar na Justiça

Após a confirmação da derrota nas urnas, Crivella agradeceu aos eleitores, mas prometeu entrar na Justiça para questionar a reeleição de Pezão. Segundo ele, é preciso esclarecer primeiro as 13 ações da PRE (Procuradoria Regional Eleitoral) contra o adversário. "É prematura qualquer comemoração do PMDB", afirmou.

"Vamos acompanhar com os nossos advogados a tramitação das ações. Se não for esclarecido aqui, vamos à Brasília. Primeiro no TSE (Tribunal Superior Eleitoral), e, se for preciso, no Supremo (Tribunal Federal)". Nossa luta agora é na Justiça", declarou. "Aceitamos a resposta das urnas, desde que a eleição se dê conforme as regras, o que não ocorreu", afirmou.

Momentos antes, o vice na chapa do candidato a governador Marcelo Crivella, o general José Alberto da Costa Abreu, classificou a campanha como uma vitória e desejou boa sorte a Pezão. "Foi uma campanha dificil, mas saímos fortalecidos", afirmou.

Parte da equipe do candidato do PRB acompanhou a apuração no comitê de campanha do candidato, no centro do Rio. Assim que a vitória do atual governador se mostrou irreversível, os assessores deixaram a sala e se abraçaram, visivelmente abalados.

"Tocador de obras"

Natural de Piraí, Luiz Fernando de Souza é formado em economia e administração de empresas. Iniciou a carreira política em seu município de origem, onde foi duas vezes vereador e duas vezes prefeito.

No período como vice-governador, exerceu também o cargo de coordenador de Obras do Estado. Em sua apresentação para os eleitores, classificou-se como um "tocador de obras" e buscou reforçar a imagem de um político desenvolvimentista.

Eleições 2014 no Rio de Janeiro
Eleições 2014 no Rio de Janeiro

Luiz Fernando Pezão
  • Partido
    PMDB
  • Coligação
    O Rio em 1º lugar (PMDB, PP, PSC, PTB, PSL, PPS, PTN, DEM, PSDC, PRTB, PHS, PMN, PTC, PRP, PSDB, PEN, PSD, SD)
  • Data de nascimento
    29/03/1955
  • Município de nascimento
    Piraí (RJ)
  • Escolaridade
    Superior completo
  • Ocupação
    Governador
  • Estado civil
    Casado

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