Um mês com Aécio: uma eleição na montanha-russa

Vinícius Segalla

Do UOL, no Rio

Para o político, eleição é um momento extremo. Qualquer eleição é um momento extremo. De extremo trabalho para os candidatos, de extrema convivência com o eleitor, de extrema exposição e contato com a imprensa, de extremo estresse, extremos litígios, de afirmações extremas. Se a este receituário se acrescentam as emoções de reviravoltas extremas no cenário eleitoral, como a morte trágica de um dos competidores, gráficos de pesquisas de intenção de voto que evoluem como trilhos de montanha-russa, ataques pessoais surpreendentes e um embate que ultrapassa a esfera eleitoral, caminha para a sociológica, envolve luta de classes, diferenças regionais, aí se tem um quadro do que está sendo esta eleição para Aécio Neves (PSDB) e sua candidatura.

Até o dia 13 de agosto deste ano, o tucano era o candidato absoluto no espectro da oposição. Em terceiro lugar nas intenções de voto vinha Eduardo Campos (PSB), cuja candidata a vice era Marina Silva (PSB), mas sem ameaçar a condição de Aécio de dono da vaga no segundo turno para enfrentar a candidatura oficial. Ainda sem o horário eleitoral, sem o olhar atento de muitos, o processo parecendo seguir um curso quase monótono de repetição de pleitos anteriores.

Aí, morre Eduardo Campos. Aí, assume Marina, já à frente de Aécio Neves nas pesquisas.

Aécio vive um mês de ator coadjuvante na disputa, à espera de uma "onda da razão" que salve sua candidatura. Chega a ter apenas 14% das intenções de voto no dia 29 de agosto, contra 35% e 34% de suas adversárias do PT e PSB. A menos de um mês da eleição, no dia 12 de setembro, só Aécio parecia acreditar que anda tinha chances. "Não vamos desistir. Essa eleição, que vai acontecer daqui a menos de um mês, não tem um voto na urna para ninguém. Está tudo zerado", dizia ele.

Nesse período, quando a campanha de Aécio era feita de caminhadas pelas cidades do Brasil afora, mas principalmente das regiões Sul e Sudeste, a reportagem do UOL passou a seguir diariamente Aécio Neves. Do dia 24 de setembro para cá, todas suas agendas foram cobertas. 

A reportagem viu o tucano andando pelas praças de Uberaba (MG), Caxias do Sul (RS), Osasco (SP). A maioria dos que o acompanhavam eram cabos eleitorais contratados, com bandeiras em punho, defendendo o candidato e o pão de cada dia, garantindo belas imagens para a propaganda eleitoral na TV.

Ou então curiosos, mais querendo ver os políticos famosos ou os famosos que andavam com eles, como o ex-jogador Ronaldo

E então, devagar, as coisas foram mudando. Aécio foi subindo ponto a ponto, não como uma grande onda, mas como uma maré enchendo lentamente. Os atos de campanha passaram a ter não só cabos eleitorais contratados, mas também apoiadores legítimos, uma militância espontânea, de eleitores que passavam a acompanhar, se preocupar e se envolver com o processo eleitoral .

Até que chegou o dia da eleição. Ele começou indefinido e terminou, aí sim, com uma onda de votos que surpreendeu até os tucanos mais otimistas. Aécio foi ao segundo turno com 33,5% dos sufrágios  -- mais de 40 milhões de eleitores votaram 45, contrariando todas as pesquisas.

Então, veio o segundo turno. Então, começou o Fla-Flu tão conhecido do Brasil pós-redemocratização, já em sua sexta reedição . Os discursos que abriram essa fase final davam o tom do que viria pela frente, embora poucos talvez previssem o grau que atingiu o antagonismo entre as candidaturas. "Esse ciclo de governo tem que se encerrar em benefício do Brasil", começou Aécio. "Teremos, novamente, uma disputa com o PSDB, que governou apenas para um terço da população, abandonando os que mais precisam", iniciou Dilma.



No caminho da montanha-russa eleitoral, Aécio começou por cima nas pesquisas. Mudou o perfil de seus atos de campanha, mudou o público desses atos. Passaram a ser atos políticos ou comícios, em espaços de eventos ou praças públicas, sem abrir mão das caminhadas. A campanha entusiasmava. Os militantes encheram discursos em Curitiba, no Recife, no Rio de Janeiro.

UOL - 24.out.2014
Repórter Vinícius Segalla se prepara para acompanhar mais uma entrevista coletiva de Aécio Neves
 
Mas o Fla-Flu estava em pleno andamento, e o clássico dava mostras que poderia descambar para a rivalidade infrutífera. Os ânimos e os ataques de lado a lado aumentavam. "Vemos uma candidata à beira de um ataque de nervos. A mentira e a infâmia são as únicas armas que restam à outra candidatura", dizia Aécio, no dia 13 de outubro, em Curitiba.

Enquanto a campanha caía de nível, Aécio acumulava apoios. Eduardo Jorge (PV) e Pastor Everaldo (PSC) em Brasilia (PV) em Brasília , família de Eduardo Campos no Recife, Marina Silva em Aparecida (SP)
  
Os apoios chegavam, mas não traziam junto com eles os votos esperados. Aécio caiu nas pesquisas, foi ultrapassado por Dilma. A candidatura tucana parecia voltar ao vale da montanha-russa.

Mas Aécio não esmoreceu, tampouco seus eleitores. O antagonismo foi crescendo no país, o clima eleitoral acirrado foi tomando conta de todos. Pessoas perderam amigos em discussões em redes sociais. Militantes de PSDB e PT chegaram às vias de fato em São Paulo

É neste ponto que estamos agora. Apesar de ter caído nas pesquisas, Aécio diz estar confiante, diz que as pesquisas erraram no primeiro turno e que podem estar erradas agora, diz que está sentindo um ambiente cada vez maior de apoio à sua candidatura, de manifestações espontâneas de eleitores, de atos organizados pelo país afora mesmo sem a sua presença.

É tudo verdade. Ele pode estar caindo nas pesquisas, mas seus eleitores o apoiam mais do que nunca, e ele sente isso mesmo nos atos que organiza, que lotam praças em Belo Horizonte e praias no Rio de Janeiro. Seus eleitores estão fortemente envolvidos na campanha, na eleição. Querem muito que Aécio vença e querem muito que Dilma e o PT percam. E a mesma coisa vale para a candidatura de Dilma e de seus apoiadores.

Campanha presidencial 2014
Campanha presidencial 2014

Veja também

UOL Cursos Online

Todos os cursos