Alto índice de votos inválidos no RN e em AL foi resposta do eleitor

Aliny Gama

Do UOL, em Maceió

O Rio Grande do Norte teve na eleição de domingo (5) um índice de 30,45% de votos inválidos. Foi a maior taxa de votos brancos ou nulos registrada no país.

Segundo os dados do TRE (Tribunal Regional Eleitoral), 546.502 votos foram anulados para ao menos um dos cinco cargos que estavam em jogo neste pleito nos três maiores colégios eleitorais do Estado - Natal, Mossoró (a 276 km de Natal) e Parnamirim (região metropolitana de Natal). Nestes três municípios também foram registrados 266 mil votos em branco.

Ao todo, a capital registrou 495.350 votos inválidos -- 155.876 em branco e 339.474 nulos. O maior número foi para governador, com 115.757 votos inválidos -- 30.202 em branco e 85.555 votos nulos. Já em Mossoró e em Parnamirim a maior reprovação foi para os candidatos ao Senado.

Para especialistas, foi uma maneira de o eleitor protestar contra as opções de candidatos existentes.

O cientista político João Emanuel Evangelista, professor de ciências políticas da UFRN (Universidade Federal do Rio Grande do Norte), diz que o que ocorreu no Estado foi um fenômeno localizado, ocasionado pela insatisfação do eleitor com as opções de candidatos. "O eleitor potiguar está cada vez mais seletivo para escolher seus representantes, por isso ocorreu essa quantidade de nulos ou brancos. Foi um voto de protesto", disse o professor.
 
Evangelista observou que os eleitores tinham opções de votar em "candidatos de grupo oligárquicos" e "deram esta resposta". "Tanto é que nos causou surpresa a votação do Robério Paulino", diz. O candidato do PSOL ao governo obteve 129.116 votos e ficou em terceiro lugar. Apesar do protesto quanto aos candidatos, os eleitores escolheram deputados pertencentes a famílias de tradição política.
 
No Rio Grande do Norte haverá segundo turno no próximo dia 26. Henrique Eduardo Alves (PMDB), atual presidente da Câmara dos Deputados, e Robinson Faria (PSD), vice-governador do Estado, disputam o cargo.
 
Para o cientista político, o segundo turno reflete a indecisão do eleitor. Ele afirma que o índice de votos inválidos no segundo turno deverá seguir a tendência registrada no primeiro turno.
 
"Dezoito eleitos para a Câmara e a Assembleia são herdeiros políticos. Isso causa controvérsia com o protesto para presidente e governador. Porém o eleitor potiguar também escolheu pela primeira vez um candidato que não pertence a algum grupo oligárquico, como a senadora Fátima Bezerra (PT)."
 
Fátima conseguiu se eleger senadora pelo Rio Grande do Norte, derrubando a vice-prefeita de Natal, Wilma de Faria (PSB). A candidata petista obteve 54,84% dos votos válidos, contra 43,23% de sua adversária pessebista.
 
O Rio Grande do Norte teve um índice de 18,3% de abstenções, ou seja 112.344 eleitores não compareceram aos locais de votação. O TRE não quis opinar sobre os dados, mas destacou que não ocorreu nenhum problema relevante na votação para que fossem registrados esses altos índices no Estado. 

Já Alagoas ficou em segundo lugar no número de votos inválidos, com 25,48%. Segundo o TRE, nas três maiores cidades do Estado – Maceió, Arapiraca e Palmeira dos Índios – foram contabilizados 299.284 votos anulados e 245.795 em branco.

Ao todo, o maior número de votos inválidos em Maceió foi para senador, com 113.001 votos inválidos – 48.421 em branco e  64.580 votos nulos.

O senador Fernando Collor de Mello (PTB) foi reeleito após disputa com Heloisa Helena (PSOL).

Para o analista político Zoroastro de Araújo Neto, os dados significam o início da construção da consciência de um grupo que está "gritando" por mudanças.

"A explicação para esse alto índice de votos nulos ou brancos em Alagoas tem sua protoforma no esquecimento dos políticos sobre a função-chave de ser eleito pelo povo e para o povo. Dizer ou prometer uma mudança de serviços públicos, seja na educação, na moradia, na segurança, na saúde, no lazer, ou mesmo nas ações comunitárias não é mais garantia de voto", destaca.

"O cidadão, o jovem, o trabalhador já perceberam que a promessa se distancia do fazer, quando eleito. E, quando eleito, a categoria do esquecimento se faz presente sem nenhum pudor com a relação do capital e da exploração dos menos favorecidos. Não é mais uma questão de ideologia partidária, e sim, de projeto possível para mudar, para fazer valer a democracia, para construção de um plano estratégico com foco na mudança."
 

Votação em papel

O Rio Grande do Norte também teve votação em cédula de papel no último domingo. No município de Santo Antônio (a 76 km de Natal), 133 eleitores da 54ª seção escolheram seus candidatos manualmente, pois a urna apresentou defeito e não havia outra para substituí-la.

Segundo o TRE, não houve prejuízo para candidatos e eleitores, pois a votação e a apuração dos votos ocorreram normalmente.

O TRE justificou o caso como "isolado" e destacou que o Estado possui mais de 7.000 seções eleitorais.

Eleições 2014 no Rio Grande do Norte
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