Candidatos à Presidência ignoram Aids em programas de governo e debates

Fátima Cardeal

Da Agência Aids

Se os candidatos à Presidência da República dependessem da defesa da Aids, ou, pelo menos, de uma simples menção a ela, nenhum deles seria eleito. O tema só não foi absolutamente esquecido dos programas de governo porque Aécio Neves, do PSDB, o incluiu no item 21 de sua proposta, da seguinte maneira: "Retomada da prioridade necessária para a manutenção do Programa HIV/Aids, com a qualidade que o tornou mundialmente reconhecido".

Levando em conta justamente o fato de que o programa brasileiro de combate à aids é referência mundial, decidimos ouvir algumas lideranças no tema sobre a ausência dele da campanha para as eleições 2014. A doença, afinal, também tem ficado de fora dos debates e não só dos programas registrados no Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

Todos os entrevistados disseram que o fato de um compromisso estar registrado num programa não significa que será cumprido. "Em 2010, Dilma Rousseff e José Serra assinaram uma carta de compromisso do Fórum de Ongs/Aids do Estado de São Paulo (Foaesp) e nada aconteceu", lembra o professor e pesquisador Jorge Beloqui, ativista do Grupo de Incentivo à Vida (GIV), de São Paulo.

José Araújo Lima, presidente do Espaço de Prevenção e Atenção Humanizada (Epah) , de São Paulo, diz que a aids é apenas mais uma entre inúmeras questões esquecidas pelos candidatos. "A política brasileira nessas eleições tem a marca de ataques pessoais e do conservadorismo", avalia Araújo. Ele também reclama do fato de Dilma não ter cumprido "com nenhum dos itens" da carta de compromisso assinada nas eleições passadas.

Beloqui destaca que as taxas de incidência de aids hoje são maiores ou iguais as de 1996, entre os homens, e só esse dado já seria preocupante o bastante para chamar a atenção dos políticos e exigir deles compromisso.

Vando Oliveira, coordenador da Rede Nacional de Pessoas Vivendo com HIV/Aids (RNP+) do Ceará, enumera outros dados. "A aids é uma doença que não tem cura, ainda há muitos registros de óbitos em consequência dela, sem contar que o tratamento provoca inúmeros efeitos colaterais", diz Vando.

Falta, na opinião de Rodrigo Pinheiro, presidente do Foaesp, vontade política para tratar do assunto. "A aids é um problema de saúde pública mas deixou de ser prioridade para os governos. Entre enfrentar a doença, e tudo o que a cerca, e manter as bases aliadas conservadoras que vão lhes dar suporte, talvez os candidatos prefiram não se comprometer. E, assim, vamos regredindo no contexto mundial da aids", analisa Rodrigo.

Falta de vontade política também foi o motivo apontado por Marcio Villardi, coordenador do Grupo Pella Vida Rio de Janeiro, para a ausência do tema aids da atual campanha. "É um reflexo do que vem acontecendo em todas as esferas do governo", diz Marcio. "Para você ter uma ideia, divulgamos há umas três semanas, por meio do Fórum de Ongs/Aids do Rio, uma carta de compromissos para os candidatos de nosso estado. O retorno foi quase zero."

Marcio diz que a candidata a presidente Luciana Genro, do PSOL, acabou assinando a carta porque soube dela por meio dos candidatos a deputado de seu partido, Jean Wyllys (federal) e Marcelo Freixo (estadual). "Fora isso, nem o presidente da Frente Parlamentar de Luta Contra HIV/Aids e Tuberculose do Estado , o deputado Gilberto Palmares (PT), nos deu retorno", continua Marcio.

"O enfrentamento da aids está ausente da cabeça dos candidatos", reforça Marcio. "Mesmo com toda a atenção que o movimento social chama para a causa, mesmo depois de a mídia ter divulgado tanto o relatório da Organização das Nações Unidas (ONU) mostrando aumento de 11% no registro de novos casos nos últimos anos."

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