Não é bem assim: veja as contradições de Alckmin, Padilha e Skaf em debate

Guilherme Balza

Do UOL, em São Paulo

Em debate realizado nessa segunda-feira (25) pelo UOL, Folha, SBT e Jovem Pan, o governador e candidato à reeleição, Geraldo Alckmin (PSDB), o empresário Paulo Skaf (PMDB) e o ex-ministro da Saúde Alexandre Padilha (PT), três concorrentes mais bem posicionados nas pesquisas ao governo de São Paulo, citaram informações contraditórias ou equivocadas, fizeram promessas pouco críveis e se esquivaram diante de temas espinhosos.

Transporte sobre trilhos

Ao fazer uma pergunta ao candidato Laercio Benko (PHS), Alckmin afirmou que o governo está fazendo "101 km sobre trilhos", mas não explicou que o montante inclui obras em execução e outras que foram contratadas mas ainda não saíram do papel, nem possuem prazo de conclusão.

Carro-chefe das campanhas tucanas em São Paulo, a ampliação do metrô avançou pouco perto do que foi prometido e esbarrou em atrasos sucessivos.

Há dois anos, em entrevista ao UOL, Alckmin prometeu entregar 30 km de metrô até 2014, mas deverá entregar apenas 4 km, o que representa 13% do anunciado. Desde que o PSDB assumiu o governo de São Paulo, em 1995, 80% das inaugurações das estações ocorreram em anos eleitorais.

Declaração de voto presidencial

A exemplo do que fez no debate realizado pela Band no sábado (23), Skaf não confirmou, nem desmentiu se irá votar em Dilma, candidata presidencial da sua coligação. No debate de sábado, o empresário disse que votaria em Michel Temer, vice na chapa de Dilma.

Na segunda-feira (25), foi provocado duas vezes por Laercio Benko, que o perguntou sobre quem será o seu candidato presidencial. "Se votar no Temer, vai apertar o 15 e vai anular o voto."

Na resposta, o pemedebista afirmou que seu "foco é totalmente em São Paulo", onde "PT e PSDB são meus adversários", e novamente foi evasivo. "Quanto ao meu voto [a presidente], eu tenho um voto pessoal em 140 milhões de habitantes. Esse voto eu voto com o meu partido. Eu já respondi isso."

Skaf evita declarar voto em Dilma em função da alta rejeição da petista entre o eleitorado de São Paulo. O empresário já chegou a divulgar um vídeo declarando que não votaria no PT. Após a publicação, sofreu reprimenda de seu partido, principal aliado do PT.

Execução de obras

Já Padilha afirmou no debate que a diferença entre PSDB e PT é que seu partido "tira do papel", enquanto que os adversários, não. "O PSDB estuda, estuda, estuda, apresenta diagnóstico. Enquanto nós estudamos, fazemos o diagnóstico, realizamos as obras e atendemos a população."

No entanto, um das principais obras anunciadas pelas gestões petistas no governo federal, o trem bala para ligar São Paulo ao Rio de Janeiro, que seria utilizado na Copa do Mundo, sequer saiu do papel. A obra também não ficará pronta até as Olimpíadas de 2016, no Rio, já que a previsão de conclusão é para 2020.

A maior parte das obras na área de saúde, contratadas durante a gestão de Padilha no Ministério da Saúde, ainda não foi entregue, segundo dados do Conselho Federal de Medicina. Até março deste ano, das 24 mil obras realizadas pela pasta ou pela Funasa (Fundação Nacional de Saúde), pouco mais de 2.500 foram concluídas, o que representa 11% do total.

Dinheiro do Estado de SP na Copa do Mundo

No debate, Alckmin disse que "em São Paulo não teve um centavo em dinheiro para estádio" da Copa do Mundo. "O que nós fizemos foram obras importantes de metrô, de trem", afirmou.

Apesar de, ao contrário de outros Estados, não usar recursos no estádio da cidade para o Mundial, o Itaquerão, a administração de Alckmin deu R$ 12 milhões para a Prefeitura do Guarujá (SP) reformar um estádio que seria utilizado pela seleção da Bósnia como centro de treinamento. A obra, no entanto, não ficou pronta a tempo.

Parte dos recursos deveria ser utilizada em obras no entorno, mas todo o dinheiro acabou sendo gasto na revitalização do estádio. O governo federal repassou R$ 4,5 milhões à Prefeitura de Guarujá para a reforma do estádio.

Violência policial

Em resposta a Padilha, que afirmou haver policiais em São Paulo que "assassinam jovens nas periferias, sobretudo jovens mais negros", Alckmin disse que "a polícia de São Paulo não é assassina, é firme e legalista". No entanto, entre 2006 e 2010, nas gestões de Alckmin e José Serra (PSDB), a Polícia Militar de São Paulo matou 2.262 pessoas, nove vezes mais do que as polícias dos Estados Unidos.

No segundo trimestre deste ano, policiais em serviço mataram 163 pessoas, o que representa 85% a mais se comparado ao mesmo período de 2013. O número é o maior desde o segundo trimestre de 2006, época dos ataques do PCC (Primeiro Comando da Capital) seguidos de uma série de mortes cometidas por policiais.

Salários dos professores

No debate, Padilha prometeu que irá dobrar o salário dos professores estaduais, conforme previsto no Plano Nacional de Educação. O prazo estipulado no plano é 2020, dois anos depois do final do mandato do próximo governador.

Gestões petistas, como a de Fernando Haddad na capital paulista e as de Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff no governo federal, não dobraram o salário dos professores. Ao contrário, estes governos petistas tiveram de enfrentar longas greves de professores exigindo melhores salários.

Falta de água

Questionado sobre a falta de água no Estado, Alckmin afirmou que São Paulo enfrenta a "maior seca deste último século. "A maior foi em 1953. Esse ano choveu a metade do que choveu em 1953", afirmou.

Estudos realizados pelo IAG (Instituto de Astronomia e Geofísica) da USP (Universidade de São Paulo), no entanto, apontam que houve 12 secas piores que a atual desde que começaram as medições, em 1934. Já segundo pesquisadores da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (USP/Esalq), estiagens como a atual acontecem a cada 25 anos.

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