Conjunção de eventos, e não só o mau tempo, explicará queda de jato

Ana Ikeda

Do UOL, em São Paulo

  • Sebastião moreira/ EFE

    Militares carregam destroços do avião Cessna 560 XL, que caiu nesta manhã em Santos (SP)

    Militares carregam destroços do avião Cessna 560 XL, que caiu nesta manhã em Santos (SP)

Especialistas em aviação afirmam que é impossível atribuir apenas ao mau tempo a queda do jato que matou o candidato à presidência Eduardo Campos (PSB) e mais seis pessoas em Santos (SP), nesta manhã de quarta-feira (13). Outros eventos, como falha técnica e até a falta de treinamento dos pilotos podem ajudar a explicar o acidente.

Em nota, a Aeronáutica afirmou que o avião, um Cessna 560 XL, arremeteu devido ao mau tempo quando se preparava para pouso. O procedimento de arremeter – o cancelamento do pouso durante a aproximação à pista – indica que os pilotos identificaram alguma ameaça à segurança da manobra.

Apesar disso, a "arremetida" é um procedimento comum e com raros registros de acidente. Durante a manobra, o avião em velocidade baixa tem de voltar a acelerar para recuperar altitude. O piloto então decide se tenta efetuar um novo pouso naquele local ou em outro aeroporto.

"Por vários motivos os pilotos podem optar pela arremetida. Desde condições climáticas ruins, que prejudicam a visibilidade, a até a obstrução da pista por um cachorro passando ali ou outro avião ainda taxiando", explica Paulo Villas Boas, comandante e professor da Faculdade de Ciências Aeronáuticas da PUC-RS.

No caso da "arremetida" por mau tempo, uma hipótese provável nesta manhã em Santos teria sido a ocorrência de fortes "ventos de través" (laterais ao avião) ou ventos de cauda (traseiros ao avião). "Essa condição de vento de través é muito crítica. Dependendo da força do vento e do tamanho da aeronave, o piloto precisa arremeter", afirma Paulo Greco Júnior, professor do Departamento de Engenharia Aeronáutica da Escola de Engenharia da USP São Carlos.

Outro motivo comum para aviões arremeterem são falhas técnicas identificadas pelos pilotos. "Para solucionar uma pane, como mau funcionamento no trem de pouso ou algum outro sistema, o pouso é cancelado para checagem de tudo que está funcionando, item a item",  esclarece Villas Boas.

Combinação de eventos

Embora seja impossível indicar causas preliminares, ambos os especialistas concordam que uma sequência de eventos poderá explicar o acidente com o jato. "Os acidente aéreos são sempre uma combinação de vários fatores, e nunca ou quase nunca um único fator", frisa Júnior.

Entre os eventos possíveis -- e posteriores à manobra de arremeter -- estão uma nova ocorrência de condições meteorológicas desfavoráveis (como fortes ventos e chuva), alguma falha mecânica no avião (que chegou a apresentar problema em 16 de junho deste ano) e até mesmo a falta de treinamento dos pilotos, que podem ter realizado algum procedimento não indicado para aquela situação crítica. 

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Apenas uma investigação detalhada, que já está sendo feita pelo Cenipa (Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáutico), poderá apontar esses elementos. Haverá ainda uma investigação criminal pela Polícia Civil, independente à do Cenipa, para apurar eventuais responsáveis pelo acidente. 

Além de analisar dados das caixas-pretas do Cessna 560 XL, com dados da conversa dos pilotos e o controle aéreo e informações do avião, os peritos do Cenipa devem avaliar testemunhos de moradores do local do acidente. O relatório final sobre as causas do acidente, disseram os especialitas, pode levar "meses" para ser concluído.

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