Candidatos humoristas defendem política séria e criticam "método Tiririca"

Carlos Eduardo Cherem

Do UOL, em Belo Horizonte

Eleito com 1,3 milhão de votos em 2010, o deputado federal Francisco Everardo Oliveira Silva (PR-SP), o palhaço Tiririca, 49, defendeu o voto "deboche" em sua campanha: "pior que tá não fica". Em 2013, o parlamentar afirmou que deixaria a atividade pública para se dedicar somente aos palcos e TV: "deputado trabalha muito e rende pouco".

Este ano, porém, o deputado voltou atrás e optou por tentar a reeleição. O "método Tiririca" de disputar uma eleição, porém, não agrada a outras humoristas profissionais.

"Eu não discuto o humorista, o ator. Mas eu passo longe do Tiririca político, do Tiririca 'quanto pior, melhor'. A política pode ser alegre sem ser cômica. As coisas sérias podem ser feitas com alegria", diz Geraldo Freire de Castro Filho, 74, o Castrinho, candidato a deputado estadual pelo PRB do Rio de Janeiro.

Ator, comediante e redator de programas de TV e espetáculos teatrais há 55 anos, o candidato do PRB defende em sua campanha eleitoral o tripé segurança (fortalecimento de comitês de moradores nos bairros), educação (investimentos em escolas em tempo integral) e saúde.

Evangélico, ele defende a candidatura de Marcelo Crivella (PRB) ao governo fluminense, diz porém que não apoia a candidatura presidencial da legenda. "Não sou Dilma de jeito nenhum. PT nunca mais". E diz não ser conservador.

Tiririca foi procurado pelo UOL durante cinco dias, mas não atendeu ao pedido de entrevista. Sua assessoria de imprensa não confirma, mas o candidato teria combinado com a direção do PR paulista de não dar entrevistas no período de campanha eleitoral.

O "antitiririca"

O candidato a deputado estadual pelo PSD da Paraíba Marcio Tadeu de Lima, 48, o Marcio Tadeu, tem a mesma opinião de Castrinho e diz ser um "antitiririca".

"Não concordo com essa linha. Não quero fazer piada com política. Política é para ser levada a sério. Sou um antitiririca", diz.

"Explico isso pra todo mundo. O que eu falo para os meus eleitores é que terei, como sempre tive, bom humor no trabalho", afirma. Apesar disso, o candidato admite que sua popularidade como humorista, sobretudo na Paraíba, é o que sustenta sua candidatura.

Há 28 anos, Marcio Tadeu é comediante na Paraíba e há seis ampliou seu trabalho, atuando no programa "Zorra Total", da TV Globo, e em três novelas da emissora.

"Minha plataforma política contempla dois pontos principais: a descentralização das atividades culturais no Estado, que hoje estão concentradas no eixo João Pessoa e Campina Grande, e a educação integral para as crianças e adolescentes", afirma.

Marcio Tadeu apoia a candidatura de Cássio Cunha Lima (PSDB) para governador da Paraíba e de Aécio Neves (PSDB) para a presidência: "acompanho meu partido".

Ceguinho defende educação

O candidato a deputado federal pelo PSB de Minas Gerais Geraldo Sebastião Magela Dias, 56, o Geraldo Magela Ceguinho, explica que sua plataforma política contempla a cultura e a educação, além da defesa de bandeiras de deficientes.

"Pretendo dar uma atenção especial à questão cultural. É necessário que criemos condições para que os artistas tenham acesso aos teatros do interior. A grande maioria pertence aos municípios e eles poderiam oferecer condições melhores para os artistas", diz.

O candidato cego ainda defende mandato de cinco anos, com direito à reeleição, para ocupantes de cargos executivos e legislativos, e coincidência das eleições.

"No Congresso Nacional vai estar o deputado, não o humorista. Vou continuar brincando, mas tratando as coisas com seriedade. Mesmo como humorista, posso fazer um trabalho sério. Um projeto pode beneficiar tanta gente".

Ceguinho diz que não é um candidato "Tiririca", mas não faz comentários sobre o colega humorista, nem o deputado paulista. "É meio complicado", afirma.

Ele apoia as candidaturas do PSB, Tarcísio Delgado para governador de Minas Gerais e Eduardo Campos para presidente, porém "vai arregaçar as mangas mesmo" para trabalhar, além da sua, é na campanha para o senado do ex-governador mineiro Antonio Anastasia (PSDB).

Escova, dentifrício e pedágios

Uma defesa de uma inserção maior da arte e da cultura na educação formal de jovens, como forma de evitar a violência, a inclusão da escova de dentes e do dentifrício na cesta básica, além da dedução no IPVA (Imposto sobre a Propriedade de Veículos Automotores), no ano posterior, de parte dos valores pagos de pedágio pelos proprietários de veículos, são as principais bandeiras do candidato a deputado federal pelo PRP do Espírito Santo Múcio Rossini Macedo, 48, o comediante Tonho dos Couros.

"Os palhaços são aqueles que se esquecem do povo. Sou humorista e uso na campanha o slogan: se você sempre votou no palhaço e se deu mal, desta vez vote em um profissional, que é uma forma de alertar a população", afirma o candidato.

Tonho dos Couros é um dos 15 personagens do humorista de Picuí, Paraíba, que relata em forma de comédia "o sofrimento do povo nordestino" em teatros do Sudeste do país, sobretudo o Espírito Santo.

"Bancada do riso"

"Tiririca até entrou (elegeu-se) como um deboche. Mas soube mudar isso e tornou-se um deputado muito bom. Ele é só um na bancada do riso e conseguiu aprovar o projeto de lei do artista mambembe, do artista de rua. Ele fez muita coisa pelo palhaço, pelo artista de rua", diz o candidato a deputado federal pelo PRTB do Ceará Lailton Rocha Melo, 49, o humorista Lailtinho Brega.

Membro ativo da Associação Cearense de Humor, que reúne 90 humoristas do Estado, o candidato tem dois eixos em sua plataforma eleitoral: a defesa da utilização de arte e cultura para a recuperação de dependentes químicos e a bandeira de maior inserção da população LGBT (lésbicas, gays, bissexuais, travestis, transexuais e transgêneros) na sociedade.

"O Ceará é um celeiro de humoristas. O Estado é um caldeirão cultural. Temos de participar disso tudo", afirma. "Minha praia não é o deboche. Vou lá [Câmara dos Deputados] para trabalhar".

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