Os candidatos a prefeito têm motivos para se alegrar em Sorriso. Nada a ver com o nome da cidade, batizada por antigos colonos italianos que cultivavam arroz. Os moradores contam que os imigrantes diziam que plantavam “só riso” (arroz em italiano). A atual alegria dos políticos vem do plantio da soja, que domina a paisagem da autodenominada “capital nacional do agronegócio” e "maior produtor individual de soja do mundo".
O UOL visitou Sorriso dentro do projeto UOL pelo Brasil, série de reportagens multimídia que percorre municípios em todos os Estados da federação durante a campanha eleitoral.
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- http://eleicoes.uol.com.br/2012/enquetes/2012/09/21/ter-um-grande-patrimonio-e-ponto-positivo-para-um-candidato.js
Todos os quatro candidatos à prefeitura são ligados à lavoura ou à pecuária, e fizeram fortuna com a valorização da terra na cidade e do grão no mercado internacional. O preço da saca de 60 kg de soja subiu 75% na cidade este ano em relação a 2011, segundo produtores, e chegou a R$ 71 (valor do dia 21 de setembro).
Na cidade, que tem 60% de sua área ocupada por lavouras --5.700 km² de área cultivada segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística)--, tudo gira em torno da produção de grãos. A evolução deste mercado colocou o município em evidência. Sorriso se transformou em um lugar conhecido por oferecer oportunidades de ganhar muito dinheiro. A população passou de 16 mil moradores em 1991 para 66 mil em 2010, segundo o Censo do IBGE.
A onda de prosperidade que varre o município é verificada facilmente: a reportagem do UOL se surpreendeu com a quantidade de caminhonetes que circulam pelo centro. Em Sorriso, 14% da frota de veículos são desta categoria, sendo que no Brasil este número gira em torno de 7%, segundo o IBGE. Na cidade existem mais caminhonetes do que ônibus.
No entanto, a apenas alguns quilômetros de distância do centro comercial, a reportagem encontrou bairros sem asfalto e com moradia precária, onde a população se queixa da falta de oportunidades de emprego. "Aqui [no meu bairro] ninguém tem motivos para sorrir", diz Leidiane Bonometo, moradora do Jardim Amazonas.
A prefeitura afirmou que vem trabalhando para melhorar a infraestrutura dos bairros mais pobres de Sorriso, com pavimentação e instalação de postos de Saúde da Família. "Já funcionam no município institutos e universidades com cursos de qualificação gratuitos, com vagas muitas vezes não preenchidas", diz o prefeito e candidato à reeleição, Chicão Bedin (PMDB).
Candidato tem dois motivos para sorrir
Dilceu Rossato (PR), ex-prefeito e candidato, tem motivos para sorrir: além de liderar a última pesquisa Ibope de setembro, com 47% das intenções de voto, ele teve um crescimento patrimonial de R$ 50 milhões em quatro anos, segundo dados do TSE (Tribunal Superior Eleitoral). Passou de R$ 2 milhões em 2008, para R$ 52 milhões em 2012, uma alta de 2.500%.
Seu maior rival na corrida eleitoral, o prefeito Chicão Bedin, também enriqueceu de 2008 para cá. Passou de R$ 966 mil para R$ 5,6 milhões (alta de 480%). Ele afirma que o salário de prefeito, que é de R$ 11 mil, "é irrisório perto dos meus ganhos pessoais".
Tonico Gemmi, do PRB, completa o trio milionário: ele declarou um patrimônio de R$ 23 milhões. "Não me considero milionário. Para mim, isso não é muito dinheiro", afirma.
Todos dizem que a valorização da terra no município e o aumento da produtividade das fazendas explicam suas fortunas, que somadas valem mais do que a metade do Orçamento da cidade deste ano, que é de R$ 156 milhões.
Conceição Missio, do PSOL, é a mais "pobre" entre os candidatos: declarou "apenas" R$ 464 mil.
O segredo da fortuna
Para os candidatos, qualquer um disposto a trabalhar duro, "de sol a sol", consegue virar um milionário. "Praticamente ninguém da minha geração chegou aqui com dinheiro", diz Rossato. "Quando cheguei aqui em 1984 eu trabalhava de dia catando raiz, e de noite em cima de um trator".
Quando cheguei aqui em 1984 eu trabalhava de dia catando raiz, e de noite em cima de um trator
Dilceu Rossato, candidato e milionárioEm seguida o candidato alugou uma terra e começou a plantar. "A partir daí as coisas foram acontecendo", afirma. "Em primeiro lugar é preciso ter vontade. Tem muita gente que vem para cá sem vontade e acaba voltando".
O prefeito diz que com seu trabalho conseguiu transformar terras que valiam "um par de botas" em um agronegócio bem sucedido. "A nossa velocidade [em Sorriso] é diferente da velocidade do Brasil: aqui você não tem sábado, domingo ou feriados, e trabalha de 14h a 16h por dia".