Ingá (PB)

Campanha eleitoral em cidade paraibana com sítio arqueológico despreza potencial turístico

Candidatos ignoram registros de 6.000 anos de idade em pedra

Ingá é um município que fica entre as duas principais cidades da Paraíba: João Pessoa e Campina Grande. O local tem fama internacional por conta das itacoatiaras (técnica de gravura em rocha). Na cidade, três candidatos disputam a prefeitura, mas nenhum deles tem propostas para a Pedra do Ingá.

Carlos Madeiro, Fabrício Venâncio, Leandro Moraes e Noelle Marques

Do UOL, em Ingá (PB)

A cidade de Ingá (a 105 km de João Pessoa), encravada no agreste paraibano, guarda um dos mais importantes achados arqueológicos do país. A Pedra do Ingá tem registros dos paleoíndios (primeiros seres humanos a povoar o Brasil) de aproximadamente 6.000 anos atrás, que fizeram gravuras em rochas e tornaram a cidade referência internacional quando o assunto são as itacoatiaras --as de Ingá são consideradas as mais expressivas do mundo.

O UOL visitou a cidade dentro do projeto UOL pelo Brasil --série de reportagens que percorre municípios em todos os Estados do Brasil durante a campanha eleitoral deste ano-- e viu que a cidade é mais um exemplo típico de potencial turístico pouco explorado.

Tombado pelo patrimônio histórico em 1944, o parque da Pedra do Ingá tem infraestrutura precária e acesso difícil. No local não existe um museu, a única lanchonete vive fechada e as visitações só são feitas com marcação de um guia, que leva o turista ao encontro da pedra, às margens do rio Ingá.

Candidatos não têm propostas para desenvolver turismo

Em Ingá há três candidatos a prefeito disputando as eleições municipais de 2012, entre eles o prefeito Luiz Carlos Silva, o Lula (PMDB). Na cidade, três cores dominam as ruas: o azul, o vermelho e o amarelo. Apesar da disputa acirrada, nenhum político usa o potencial turístico como plataforma de governo, e a Pedra do Ingá é assunto esquecido.

No plano de governo de Biurity (PP), por exemplo, há apenas a citação da pedra, em meio a um projeto que cita preservação e recuperação de mananciais dos rios. Já os candidatos Lula e Manoel Batista Chaves Filho, Manoel da Lenha (PSD), não fazem nenhuma referência sequer ao assunto.

“Nas eleições a Pedra do Ingá não é lembrada porque é uma coisa que não traz voto. Quem visita é o estrangeiro, é o pessoal de outros estados. Como o pessoal da cidade não se interessa, nas eleições a pedra não é lembrada”, conta o historiador e guia de turismo oficial do parque, Dennis Mota.

O casal Renato e Cecília Alves da Silva trabalha no parque há 24 anos e reclama da prefeitura, que teria tirado deles a chave do parque, o que passou a dificultar o acesso de turistas. “Nós sempre ficamos ali cuidando de tudo, pagava até a energia. Hoje, o parque recebe pouca gente. Acabou a visitação porque não se divulga mais, não se faz melhoria, nada. Hoje, no máximo, tiramos R$ 300 por mês de lá”, disse Renato.

A chave do parque passou para as mãos da prefeitura após acordo com o Ministério Público.

População reclama de esquecimento dos políticos

Para a população, não há dúvidas de que a fama das pedras poderia ser usada para melhorar a vida dos moradores. Eles reclamam dos políticos que não fazem propostas. Todos os moradores ouvidos pelo UOL na cidade disseram que não existem investimentos para tornar a cidade um ponto turístico.

  • Leandro Moraes/UOL

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“É um lugar muito bonito, mas pouco preservado pela parte política, que não desenvolve um projeto de melhoria. Aos poucos, o parque vai se deteriorando”, conta a dona de casa Lilian do Nascimento Santos.

Para o professor José Honório da Silva, o assunto não tem a importância que merece dos candidatos. “Não percebemos nenhuma vontade política. Estamos num momento político, e não vemos nenhum candidato a prefeito ou vereador tocar no assunto. É triste para a gente. Sousa [onde está o parque dos Dinossauros] é a única cidade turística fora de João Pessoa”, diz.

O desprezo também é percebido por outros moradores. "Até aqui não vi nenhum candidato fazer promessa. É nosso ponto turístico, mas, infelizmente, está abandonado. Os políticos vão lá, mas não fazem tudo que é preciso. Ali precisa de uma coisa que chame a atenção. Era para ter um hotel, um restaurante. A gente mesmo daqui não admira nada”, afirma o aposentado José Celestino.

Segundo Celestino, a cidade também sofre com a falta de políticas públicas para os jovens. “Precisa cuidar dessa juventude. Hoje não temos uma faculdade para formar eles”, diz.

Sem estrutura, Ingá vira roteiro rápido

Apesar de ser cidade turística, Ingá não possui hotéis ou bons restaurantes. Parte disso pode ser explicado pela proximidade com Campina Grande (38 km), cidade-polo do agreste paraibano.

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  • http://eleicoes.uol.com.br/2012/enquetes/2012/09/20/voce-acha-que-o-eleitor-da-o-devido-valor-ao-patrimonio-arqueologico.js

A falta de estrutura faz com que Ingá seja apenas um roteiro rápido. "A verdade é que a cidade não se movimenta com o parque. Antes, as festas de São João aconteciam aqui e aí, sim, gerava dinheiro. Hoje não se investe no turismo, não temos boas pousadas, bons restaurantes. É um ponto de visitação, mas só de passagem”, afirma o guia de turismo Dennis Motta, que é funcionário da prefeitura.

Segundo ele, a prefeitura tem interesse em fazer melhorias, com um projeto pronto, mas o terreno onde está o parque foi desapropriado apenas no papel, sem a conclusão da compra. O local ainda possui três donos, o que impede a execução das obras de melhorias.

Diário de Bordo

  • Leandro Moraes

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Polpa doce

  • Janduari Simões/Folhapress

    A cidade paraibana leva o nome da árvore Ingá, chamada também de Ingazeira. O nome tem origem indígena e significa embebido, ensopado e empapado. Isso se deve ao fruto da planta (foto), uma vagem com polpa aquosa e doce que envolve sementes pretas.

Contagem regressiva eterna

  • Reprodução

    No mês de julho, durante o processo de pré-produção da reportagem de Ingá (PB), a equipe do UOL se deparou com o site da prefeitura inoperante. Um relógio com uma contagem regressiva marcando 0 hora e 0 minuto era, e continua, como única página do site.

Enigma

  • Leandro Moraes/UOL

    As itacoatiaras são gravuras em rochas nos leitos dos rios. Até aí, fato conhecido. Porém, não se sabe o que elas querem dizer nem as motivações que as levaram a ser feitas. Segundo estudiosos, as gravuras da Pedra do Ingá foram feitas por paleoíndios, há cerca de 6.000 anos. Eles usariam substâncias alucinógenas durante rituais de produção. Alguns acreditam até que as inscrições foram feitas por extraterrestres.

Cidade: Ingá
Estado: Paraíba
Distância da capital: 105 km
População: 18.180 (2010)
PIB per capita: R$ 3.976,52 (2009)
Área (em km²): 287,990
Número de eleitores: 13.592 (2012)
Data de fundação: 19 de novembro de 1904

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