Em Porto Ferreira (228 km de São Paulo), que há nove anos era destaque nacional pela prisão de seis vereadores acusados de envolvimento com menores de idade, pouco ainda se fala sobre o assunto. Alguns moradores demoram a lembrar o que aconteceu de polêmico na cidade em 2003. Entretanto, basta pronunciar as palavras meninas e vereadores para que as pessoas demonstrem rapidamente lembrar muito bem do que viveram.
"Foi o maior bafafá na cidade", lembra a doméstica Raquel Pereira Leme. "Os vereadores tinham culpa, porque eles não podiam levar menores de idade para chácaras para fazer este tipo de coisa", afirma a promotora de vendas Samanta Aparecida de Luca. As denúncias indicaram que vereadores e empresários pagavam de R$ 30 a R$ 50 a meninas para manter relações sexuais com elas ou participar de jogos sexuais. Seis vereadores envolvidos foram condenados, em primeira e em segunda instância, por crime contra os costumes, liberdade sexual e corrupção de menores. O atual prefeito, Mauricio Sponton Rasi (PT), era delegado na época e investigou o caso. O UOL visitou a cidade dentro do projeto UOL Pelo Brasil --que percorrerá municípios em todos os Estados do Brasil durante a campanha eleitoral deste ano.
Praticamente todos os entrevistados pela reportagem concordaram que a denúncia e toda a investigação que resultou dela mancharam a cidade, mas talvez o fato de a pena imposta contra os vereadores já ter sido cumprida faça com que alguns moradores julguem que a história é superada na cidade. "Houve o comentário e passou. Como passa em qualquer outro lugar, né?", conclui Lia Leite Cardoso, comerciante.
Moradores reclamam de saúde e usuários de drogas
Se a polêmica sobre o escândalo parece superada, hoje os moradores de Porto Ferreira reclamam do funcionamento do sistema de saúde e do aumento na quantidade de usuários de drogas, principalmente do crack.
Uma das reclamações mais frequentes é a dificuldade em conseguir remédios nos postos de saúde. “Muita gente vai ao postinho e sai de lá sem medicamento. O certo seria ser atendido e já sair com o medicamento na mão, e aqui não tá sendo o caso. Você vai lá e nunca acha remédio”, conta a auxiliar de limpeza Maria Aparecida da Mota. A pensionista Maria José de Assis conta que por seis meses tentou conseguir uma medicação para o filho nos postos, mas não conseguiu. “Só este mês eu consegui achar no posto, porque eu estava mantendo ele há seis meses”, reclama.
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- http://eleicoes.uol.com.br/2012/enquetes/2012/09/03/voce-votaria-em-condenados-por-crimes-envolvendo-pedofilia-mesmo-que-eles-tivessem-cumprido-pena-e-fossem-elegiveis.js
O Departamento Municipal de Saúde informa que a distribuição é feita de acordo com um decreto federal que determina diversas obrigações e que muitos usuários não aceitam a existência de um protocolo para a dispensação dos remédios e declaram que o município não atende aos seus pedidos. De acordo com o decreto n°. 7.508/2011, as medicações devem ser oferecidas apenas quando prescritas por profissionais ligados ao SUS, e em unidades do SUS, e devem estar em conformidade com a Relação Nacional de Medicamentos Essenciais (Rename) e com as diretrizes estaduais e municipais impostas. Essas regras seriam o motivo de em alguns casos os moradores não conseguirem os medicamentos dos quais precisam.
Hoje há violência dentro da cidade e falta de segurança
Ailton Cesar de Souza, caminhoneiroQuem mora em Porto Ferreira relata ter percebido nos últimos anos um aumento na quantidade de usuários de drogas. É o caso do caminhoneiro Ailton Cesar de Souza, que vive na cidade há 39 anos. “Há violência e falta de segurança. Muitos jovens têm entrado na droga. E quando falta o dinheiro eles optam pelo roubo”, conta.
O atendimento médico a usuários de drogas que procuram ajuda no SUS é feito em cidades vizinhas que têm serviços especializados. De janeiro a abril de 2012, o Departamento Municipal de Saúde encaminhou 99 pacientes para as cidades vizinhas de Santa Rita do Passa Quatro e Araraquara. O Departamento não soube informar quantas pessoas receberam o mesmo tipo de atendimento no ano passado, para que fosse feito um comparativo.
A reportagem do UOL foi abordada por uma usuária no dia em que esteve em Porto Ferreira. A mulher se escorou no carro da equipe e pediu R$ 10. Após algumas negativas, ela confessou: “É só pra eu comprar uma pedra”.
Líder comunitária mira Tiririca para ser vereadora
Maria Aparecida Batista Zanelato é a presidente da Associação de Moradores do Bairro Jardim Anésia 2, que tem cerca de 3.000 moradores. Mas, na verdade, ninguém a chama por esse nome em Porto Ferreira. Maria Aparecida é a Côti, que trabalha como faxineira e vende salgados. Mesmo sem ter concluído o Ensino Fundamental, ela planeja se candidatar como vereadora nas próximas eleições --para as deste ano, não pôde por não ter se filiado a nenhum partido em tempo hábil. Ela promete que, se eleita, vai doar R$ 1.000 do salário de vereadora para melhorias no bairro. Atualmente, um vereador de Porto Ferreira ganha R$ 2.357,19.
O bairro que ela representa ainda é chamado por muitas pessoas de "favela" e é um dos mais vulneráveis do município. Hoje com cerca de 2.800 pessoas vivendo em pelo menos 395 imóveis, começou a ser ocupado ilegalmente no início da década de 1990. A área pertencia à antiga Ferrovia Paulista SA (Fepasa) e à Rede Ferroviária Federal SA (RFFSA). Em 2009 a Prefeitura de Porto Ferreira assumiu provisoriamente a posse dos terrenos do bairro. Desde então foram feitos diversos levantamentos sobre o bairro e negociações com órgãos ligados ao governo federal para regularização da área. Entre eles, o Ministério do Planejamento, que detém a atribuição de deliberar sobre a massa falida da extinta Rede Ferroviária Federal.
Atualmente é a Gerência Regional do Patrimônio da União que responde pela área. De acordo com a prefeitura, a Gerência aguarda que o inventário da RFFSA seja concluído para que seja feita a cessão das áreas para o município de Porto Ferreira. Ainda conforme a prefeitura, há um projeto de urbanização pronto para ser apresentado ao PAC 3 (Programa de Aceleração do Crescimento) em 2013.