De um lado, problemas na cidade que parecem longe de uma solução. De outro, campanhas milionárias de candidatos a prefeitos. Este contraste é um retrato presente em muitos dos mais de 5.000 municípios do Brasil na campanha eleitoral de 2012. Entre as necessidades e as prioridades, os desejos da população e a ambição pelo poder, há um longo caminho.
O projeto UOL Pelo Brasil --que percorrerá municípios em todos os Estados do Brasil durante a campanha eleitoral deste ano-- estreia mostrando a situação de Nova Friburgo e Teresópolis, as cidades mais afetadas pelo temporal que deixou cerca de 900 mortos na região serrana do Rio de Janeiro, em janeiro de 2011. O grande anseio dos eleitores dessas cidades é que os prefeitos eleitos este ano consigam definitivamente reconstruir os municípios.
Na região serrana do Rio, além da limpeza e de ações emergenciais, falta resolver os problemas dos moradores que continuam em áreas de risco. Em Teresópolis, são aproximadamente 55 mil pessoas nesses locais. Em Nova Friburgo, são cerca de 10 mil moradores, segundo a Defesa Civil dos municípios.
Questões administrativas prejudicaram o andamento das obras de reconstrução. Os prefeitos de Teresópolis e Nova Friburgo foram afastados na época da tragédia acusados de desviar verbas federais. Dermeval Barboza Neto (ex-PMDB, agora filiado ao PT do B), que governava Nova Friburgo, foi afastado em agosto de 2011 pela Justiça Federal. Em Teresópolis, o prefeito Jorge Mário Sedlaceck (ex-PT, atual PHS) foi afastado em agosto do mesmo ano e depois cassado pela Câmara em novembro.
É em meio a essa situação que candidatos para prefeitos e vereadores saem às ruas para fazer campanha nas cidades. Nas regiões mais afastadas e afetadas pelo temporal são poucos os candidatos que se arriscam a pedir votos. Nesses locais, por enquanto, apenas santinhos e placas com propaganda política foram distribuídos. Na opinião dos moradores, os candidatos estão com “vergonha”. Até candidatos da oposição são vistos com desconfiança pelos eleitores, que se mostram descrentes quanto ao futuro da região.
Uso da tragédia
Na campanha, candidatos prometem soluções para os problemas gerados pela tragédia. A catástrofe aparece nos nomes das coligações e também nos programas de governo.
O candidato do PMN à Prefeitura de Nova Friburgo, Marconi Jair Medeiros, é um dos que promete a solução, pelo menos, no nome da coligação: “Para Chegar e Resolver”. Mas sua proposta tem apenas 14 itens, expostos de forma simplificada e a respeito da tragédia ele anuncia - sem detalhar - a “construção de casas e muros de contenção de encostas”. Os gastos para sua campanha devem ser de R$ 1,45 milhão.
Já a candidata do PSB Maria da Saudade Braga, que anunciou gastos de R$ 1,7 milhão, fez sua proposta de governo com base nos estragos causados pelo temporal e estampou no nome de sua coligação: “Nova Friburgo Vai Dar a Volta Por Cima”. Entre suas promessas estão: eficiência e investimentos para melhorar a atuação da Defesa Civil e campanhas para esclarecer a ocupação do solo.
Em Teresópolis, o candidato Nilton Wilson Salomão (PT) também promete ações para as áreas de risco. O nome da coligação é “Reage Tere” e sua campanha deve sair por R$ 2,5 milhões.
Arlei de Oliveira Rosa (PMDB), prefeito interino de Teresópolis há um ano e candidato, estima gastar R$ 1,5 milhão. Em seu programa de governo, ele explica que “já fez muito mais, em muito menos” e que “concentrou seus esforços para áreas mais emergenciais” e cita algumas ações que pretende fazer, como obras de contenção de encostas, construção de casas populares e limpeza de rios e córregos. Ao contrário dos demais candidatos, Arlei também está investindo em propaganda política nas áreas atingidas pelo temporal, que têm tido mais resistência por parte dos eleitores.
Para chegar aqui e pedir voto vai ter que ter uma lábia danada
Paulo Sérgio Soares, morador de TeresópolisO “Programa Municipal de Prevenção a Desastres Naturais” é a aposta da candidata Maria do Rosário Carneiro do PTB que anunciou em sua proposta o plano anti-tragédia. O pacote consiste em “ações preventivas e de preparação para reduzir a ocorrência de danos e prejuízos, incluindo pronta resposta de todos os órgãos competentes às situações de emergências”. A previsão de gastos para sua campanha é de R$ 2 milhões.
O candidato do PR Cleyton Silva Valentim - que pretende gastar R$ 1 milhão - também usa a tragédia em sua campanha, critica a atual administração, mas não específica suas ações. “Há a necessidade imediata de oferecer alternativas às áreas afetadas pelo desastre de 2011, através da construção de moradias para desalojados/desabrigados, bem como há a necessidade de se recuperar os bairros e localidades atingidas pelo desastre natural”.
Caixa de campanha
Enquanto as obras não ficam prontas, a campanha esquenta nessas cidades com panfletos, bandeiras, placas e carros de som. Teresópolis e Nova Friburgo têm menos de 150 mil eleitores cada uma. Na declaração feita à Justiça Eleitoral, candidatos a prefeito das duas cidades informaram que estimam gastar quase R$ 20 milhões até o final da campanha.
Campanhas milionárias
R$ 11,25
milhões
é o valor estimado de gastos dos candidatos à Prefeitura de Nova Friburgo
R$ 8,7
milhões
é o valor estimado de gastos dos candidatos à Prefeitura de Teresópolis
Em Nova Friburgo, os seis candidatos a prefeito anunciaram, no total, R$ 11,25 milhões para as campanhas, segundo o TSE (Tribunal Superior Eleitoral).
Os candidatos Pedro Rogério Vieira Cabral, do PSD, e Jairo Wermelinger Araújo, do PHS, encabeçam a lista dos gastos: cada um pretende desembolsar R$ 3 milhões.
Em Teresópolis, os gastos registrados para a campanha dos oito candidatos à prefeitura somam R$ 8,7 milhões. Nilton Wilson Salomão, candidato do PT, é o que mais pretende investir na campanha com R$ 2,5 milhões.
Outro lado
A Prefeitura de Teresópolis informa que cerca de R$ 108 milhões foram repassados pelo governo federal para a reconstrução da cidade. O temporal, que deixou quase 400 mortos, atingiu 12 localidades da cidade e provocou 560 deslizamentos de terra no município.
Desde então, segundo a prefeitura, quatro obras de contenção de encostas para evitar novos deslizamentos estão sendo feitas pelo governo estadual. Outras duas obras de contenção já foram concluídas. Além disso, um projeto de desassoreamento dos rios está em andamento. O Inea (Instituto Estadual do Ambiente) também está fazendo um trabalho de redimensionamento das calhas dos rios Príncipe e Imbuí.
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- http://eleicoes.uol.com.br/2012/enquetes/2012/08/26/voce-acha-que-os-planos-de-reconstrucao-da-regiao-serrana-do-rio-apresentados-pelos-candidatos-sera-colocado-em-pratica-pelos-vencedores-das-eleicoes.js
Com recursos próprios, a prefeitura informou que executou obras de recuperação e extensão de galeria de águas pluviais, construção de muros de contenção em três bairros e reconstrução de duas pontes e de uma passarela de pedestres.
Segundo o subsecretário de Obras de Teresópolis, Sebastião Correa Pinto, os escombros das casas destruídas pelo temporal vão continuam em bairros como Campo Grande e Caleme até os moradores serem indenizados pelo governo estadual. Por enquanto, os escombros servem como “prova” de que existia uma casa ali, informa Correa. “[O morador diz] A minha casa era aqui. Mas e aí, está filmado?”, questiona o secretário.
Em Nova Friburgo, a situação é parecida. O temporal deixou cerca de 450 mortos e provocou 300 deslizamentos de terra. Assim, como a cidade vizinha, bairros continuam aparentemente abandonados, moradores ainda estão em áreas de risco, poucas indenizações foram pagas e nenhuma casa popular foi entregue às vítimas.
A prefeitura da cidade informou que 26 obras para a reconstrução da cidade estão “em fase de licitação”. O volume de recursos previstos para estas obras é de aproximadamente R$ 26,5 milhões.
Segundo o secretário de Obras do município, Clauber Domigues dos Santos, a troca de prefeitos provocou o atraso dos serviços. “Você pega uma casa que passou um tufão dentro, até você arrumar tudo para começar a fazer uma gestão, demorou um pouco. O que a gente começou a fazer foi resolver as coisas emergenciais para manter o mínimo para a população”.
Em nota, o governo do Estado do Rio de Janeiro não especifica quanto já foi investido em cada cidade, mas informa que R$ 61,3 milhões já foram gastos em aluguel social para os moradores da região. Além disso, R$ 472 milhões foram usados para a construção de moradias e mais R$ 619 milhões foram investidos em obras de contenção de encostas, recuperação de rios e reconstrução de pontes. Ao todo, segundo a nota, os governos federal e estadual estão investindo 1,28 bilhão nos sete municípios.