"Patinamos uma semana discutindo o kit-gay", diz coordenador da campanha de Serra

Débora Melo

Do UOL, em São Paulo

Ao apontar os possíveis erros da candidatura de José Serra (PSDB) à Prefeitura de São Paulo, o deputado Edson Aparecido, coordenador da campanha tucana, citou a polêmica em torno do kit anti-homofobia na primeira semana do segundo turno como um dos principais problemas enfrentados. Serra foi derrotado nas urnas pelo petista Fernando Haddad.

Veja como foi a campanha de José Serra (PSDB) em São Paulo
Veja como foi a campanha de José Serra (PSDB) em São Paulo

"Patinamos uma semana discutindo um assunto que não era da nossa campanha, que foi o chamado kit-gay, que virou personagem da campanha. Isso não era uma estratégia nossa. Uma coisa que veio de fora e ocupou o debate da cidade", disse.

Na primeira semana após o primeiro turno, o pastor evangélico Silas Malafaia, que apoiava Serra, deu início às polêmicas envolvendo o kit anti-homofobia.

O pastor atacou o que ficou conhecido como "kit-gay" do MEC, idealizado quando Haddad estava à frente da pasta, em 2011. O material não chegou a ser distribuído porque foi barrado pela presidente Dilma Rousseff após pressão das bancadas católica e evangélica do Congresso Nacional.

O debate se voltou para Serra quando a imprensa divulgou que o tucano distribuiu aos professores material de conteúdo semelhante quando era governador, em 2009 --ele negou a semelhança e fez críticas ao material do MEC.

Haddad, então, declarou que a discussão estimulava a "intolerância", mas os dois candidatos evitaram se posicionar claramente sobre o tema durante a troca de ataques.

Segundo Aparecido, o tempo perdido com os kits anti-homofobia poderia ter sido usado para discutir a ampliação do Bilhete Único de três para seis horas --proposta por Serra na última semana-- e a intenção do PT de, segundo os tucanos, acabar com as parcerias entre as OSs (Organizações Sociais) e os hospitais públicos.

"Deixamos de discutir esses dois assuntos que, na reta final, fizeram a gente recuperar [votos]. A população entendeu a proposta do Serra sobre o Bilhete Único e o perigo de o PT acabar com as organizações sociais. Então a gente voltou a crescer, e ele [Haddad] começou a cair. Só que não deu tempo de fazer a curva novamente", disse Aparecido.

O deputado também afirmou que a campanha tucana não conseguiu convencer a população de que Serra cumpriria o mandato até o fim --e não deixaria o cargo para concorrer ao governo do Estado, como aconteceu em 2006, um ano e três meses após assumir a prefeitura.

"Nòs não conseguimos explicar para a população que, quando o Serra saiu da prefeitura, ele saiu para ser governador do Estado e que, como governador, fez muito pela cidade. O PT conseguiu passar para a população que o Serra tinha saído da prefeitura para ser candidato a presidente. Na rua, as pessoas falavam isso: ‘você saiu para ser candidato a presidente’. E não era", disse.

Militância e Kassab

Para o senador Aloysio Nunes (PSDB-SP), faltou "luta política".

"Eu acho que talvez tenha faltado luta política. Teve uma guerra política e precisamos reconhecer que perdemos. Nós lutamos muito. Mas agora não é hora de fazer auto-crítica, porque saio da eleição com orgulho de ser companheiro do José Serra", afirmou.

O coordenador Aparecido ainda minimizou o impacto que o apoio do atual prefeito, Gilberto Kassab (PSD) --cuja gestão é considerada ruim ou péssima por 48% dos eleitores, segundo o Instituto Datafolha--, causou na campanha tucana.

"A gente não conseguiu passar para a cidade o que a administração fez. Isso foi um problema, porque a administração fez muita coisa: as favelas que viraram bairros, o sistema de saúde das AMAs, o sistema educacional do município", disse.

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