ACM Neto (DEM) é eleito em Salvador e coloca "carlismo" no poder da capital após 8 anos

Felipe Amorim

Do UOL, em Salvador

  • João Alvarez/UOL

    Eleito, ACM Neto vai comandar a terceira cidade com maior número de eleitores do país, 1,9 milhão

    Eleito, ACM Neto vai comandar a terceira cidade com maior número de eleitores do país, 1,9 milhão

O carlismo está de volta ao poder em Salvador. ACM Neto (DEM) venceu o segundo turno e foi eleito prefeito da capital baiana neste domingo (28), derrotando o candidato do PT, Nelson Pelegrino.

Com o resultado, Salvador passa a ser a maior capital do país governada pelo DEM, partido que perdeu força nas urnas em 2012, e viu o número de prefeituras cair de 496, em 2008, para 276, nestas eleições (sem considerar as cidades onde teve segundo turno).

Salvador é a terceira cidade com maior número de eleitores do país, 1,9 milhão. Além da capital baiana, o partido foi eleito em Aracaju, com João Alves (DEM).

A vitória também dá força ao DEM na Bahia, onde, além da capital, o partido venceu em Feira de Santana, segundo maior município do Estado, a 108 Km de Salvador. As duas cidades possuem juntas 22% do eleitorado baiano.

Carlismo de volta

O candidato do DEM é neto do ex-senador Antonio Carlos Magalhães (DEM), o ACM, morto em 2007. ACM foi prefeito de Salvador, em 1967, e governador do Estado por três mandatos.

A eleição de Wagner, em 2006, pôs fim a um ciclo de quatro mandatos de governadores ligados ao grupo político do ex-senador. Na Prefeitura de Salvador, o último prefeito ligado a ACM, o avô, foi Antônio Imbassahy, que governou de 1997 a 2004.

A eleição de ACM Neto levou analistas a enxergarem o retorno ao poder do “carlismo”, substantivo que extrai sua força do segundo nome e estilo político do ex-senador ACM.

O candidato, por sua vez, rende homenagens ao avô, mas rejeita a associação ao termo. "Esses rótulos que a imprensa dá são todos inadequados. Todo mundo sabe do orgulho enorme que tenho do senador Antonio Carlos. Agora, não há que se falar em reedição do que quer que seja", afirmou ACM Neto, em entrevista ao jornal "Folha de S.Paulo" publicada no último domingo (21).

Perfil do eleito

Nome: Antonio Carlos Peixoto Magalhães Neto
Partido: DEM
Nascimento: 26/1/1979
Município de nascimento: Salvador (BA)
Ocupação: Deputado federal
Vice: Célia Sacramento (PV)
Coligação: É hora de defender Salvador (PTN / PPS / DEM / PV / PSDB)

Logo após perder o governo do Estado, em 2006, sua maior derrota política, o senador ACM chegou a profetizar o retorno de seu grupo ao poder: "Vocês verão a volta triunfal do carlismo na Bahia. O carlismo é uma legenda que não se apaga, queiram ou não os cronistas políticos", afirmou à época.

Nas últimas quatro eleições, o DEM impôs derrotas ao PT. Em 1996, Antônio Imbassahy (PFL) foi eleito com 51,6% dos votos válidos, contra 29,9% de Pelegrino. Em 2000, Imbassahy foi reeleito, com 53,7%, e Pelegrino terminou com 35,3%.

Em 2004, o petista não conseguiu passar ao segundo turno, por uma diferença de 3.157 votos para César Borges (PFL). Naquele ano, Borges terminou perdendo para o atual prefeito, João Henrique (hoje no PP, à época no PDT).

Na última eleição municipal, em 2008, o PT lançou o hoje senador Walter Pinheiro, que foi derrotado no segundo turno pelo atual prefeito João Henrique (PP), que conseguiu a reeleição. Em 2008, ACM Neto se lançou candidato, mas não ficou com 26% dos votos válidos e não conseguiu passar ao segundo turno.

Veja como foi a campanha de ACM Neto (DEM) em Salvador
Veja como foi a campanha de ACM Neto (DEM) em Salvador

Disputa acirrada

Salvador teve uma das disputas mais acirradas entre as capitais. ACM Neto e Pelegrino passaram ao segundo turno com uma diferença de apenas 5.626 votos, e polarizaram a campanha em torno de críticas ao legado de cada grupo político no Estado.

O embate dividiu até mesmo a famosa dupla tropicalista: enquanto Caetano Veloso disse preferir ACM Neto, Gilberto Gil anunciou apoio a Pelegrino.

De partido de oposição ao governo da presidente Dilma Rousseff (PT) e ao governador da Bahia, Jaques Wagner (PT), ACM Neto centrou sua campanha na ideia de que o prefeito de Salvador não necessitaria do apadrinhamento político do PT para fazer uma boa gestão.

“A cidade pode andar com suas próprias pernas”, foi um mote repetido pelo democrata durante a campanha, uma espécie de antídoto contra a propaganda de Pelegrino, que propagava ser o candidato petista “do time de Wagner, Lula e Dilma”.

Dilma e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) participaram de comícios em Salvador e gravaram depoimentos para a propaganda de Pelegrino.

Apesar de historicamente DEM e PT militarem em campos opostos na política do Estado, ACM Neto afirmou que pretende manter um diálogo com o governador Jaques Wagner para pautar a execução de projetos na capital.

Mesmo assim, ACM Neto fez das críticas ao governo do Estado uma das principais armas de campanha contra o candidato do PT, focando em temas como a segurança pública e a greve dos professores, que durou 115 dias e terminou há dois meses.

Líder do DEM se revela otimista com os resultados do partido

No front petista, os ataques foram direcionados à ação judicial movida pelo DEM, no STF (Supremo Tribunal Federal), contra as cotas raciais nas universidades públicas, tema caro à população de Salvador, capital mais negra do país, com 79,47% de “pretos” e “pardos” segundo o último censo do IBGE, de 2010.

Os ataques do PT levaram o democrata a acionar a Justiça Eleitoral e a usar parte do seu tempo de TV para fazer sua defesa. Ao contrário da posição nacional do partido, ACM Neto afirma que sempre defendeu a implantação de cotas raciais nas universidades.

A campanha do PT também exibiu um vídeo, no qual, em 2003, ACM Neto ameaçava “dar uma surra” no então presidente Lula. Deputado federal, o democrata fez a afirmação da tribuna da Câmara dos Deputados, à época da CPI dos Correios.

O resultado do primeiro turno, que deu vantagem ao petista em bairros da periferia -- enquanto ACM Neto venceu na classe média -- também levou a campanha do DEM a reforçar a ideia da ampliação do cadastro do Bolsa Família, que se tornou uma de suas propostas mais repetidas em debates e no horário eleitoral durante o segundo turno.

 


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