Oposicionista, Fruet deve ser eleito prefeito de Curitiba com voto conservador, dizem analistas

Janaina Garcia

Do UOL, em Curitiba

Em uma eleição marcada pela "vitória" de candidatos da oposição, o eleitor de Curitiba deve eleger neste domingo (28) o modelo que mais angariou votos da situação. Gustavo Fruet (PDT), 49, conquistou a maior parte dos eleitores que haviam optado pelo prefeito Luciano Ducci (PSB) e pelo ex-prefeito Rafael Greca (PMDB) no primeiro turno, segundo as últimas pesquisas de intenção de voto na capital paranaense.

Advogado e ex-filiado de siglas como PMDB e PSDB, Fruet tem como adversário o empresário e deputado federal Ratinho Junior (PSC), 31. Em uma coligação sem partidos de grande porte, Ratinho Júnior se valeu do pai, o apresentador popular Ratinho, do SBT, como seu principal cabo eleitoral.

Fruet, por sua vez, teve o PT a seu lado, o que custou a ele ataques do adversário nas últimas semanas. Quando era deputado federal pelo PSDB e membro da CPI dos Correios, que investigou o mensalão, o agora candidato foi crítico ferrenho do governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

A união com o PT também sinaliza que o PDT dificilmente terá um nome para a sucessão estadual em 2014, o que pode levar o partido a apoiar a ministra petista Gleisi Hoffman (Casa Civil) em uma eventual candidatura.

Eleito na primeira colocação para o segundo turno, com 34,09% dos votos, Ratinho Júnior viu o índice praticamente estacionar logo nas primeiras pesquisas de intenção de voto, lideradas por Fruet.

No levantamento do Datafolha divulgado neste sábado (27), por exemplo, obteve 36% das intenções, diante de 54% do pedetista --que mais que dobrou os 27,22% conquistados no primeiro turno.

Fruet herdou mais eleitores de Ducci e Greca, dizem analistas

Para analistas políticos ouvidos pela reportagem do UOL, o avanço de Fruet ao segundo turno foi mais surpreendente que a transferência de votos socialistas e peemedebistas que, agora, eles verificam em direção ao candidato do PDT. Na maior parte do primeiro turno, Fruet surgia apenas na terceira colocação.

"O grande ‘clássico' do segundo turno em Curitiba seria o confronto Ducci versus Fruet, pois aí, sim, teríamos situação versus o nome principal da oposição. Mas Ratinho Junior ganhou espaço no tiroteio entre Fruet e Ducci, avançou, mas com um potencial de crescimento bastante limitado", afirma o cientista político Ricardo Oliveira, da UFPR (Universidade Federal do Paraná).

Na opinião do especialista, tanto Ducci quanto Fruet, no primeiro turno, teriam uma convicção em comum: “A de que, quem passasse, venceria ao fim com relativa facilidade. E o eleitor do prefeito é mais conservador à ideia de mudanças, fora o fato de Fruet ter sido do PMDB, e do PT e ter recebido o voto ao Senado [em 2010] de vários desses eleitores”, observa.

“O Ratinho não conseguiu agregar esse curitibano mais tradicional e que se assusta o candidato-batedor, agressivo. Foi um erro grave essa postura do candidato”, completa.

Perfil do candidato

Nome: Gustavo Fruet
Partido: PDT
Nascimento: 18/04/1963
Município de nascimento: Curitiba (PR)
Ocupação: Advogado
Vice: Mirian Gonçalves (PT)
Coligação: Curitiba quer Mais (PDT/PT/PV)

Também da UFPR, o cientista político Emerson Cerve afirma que a possibilidade de vitória do pedetista é menos por suposto conservadorismo do eleitor do que por simples transferência de votos.

“O Fruet é o menos distante do padrão atual. Porque o eleitor quis mudar os nomes, mas continuar apostado em um modelo --isso para ele é mais importante. É um eleitor insatisfeito com o que tem hoje, mas que não acha necessário uma aposta muito grande em um perfil menos conhecido”, diz.

Filho do ex-prefeito Mauricio Fruet, falecido em 1998, Fruet poderá comandar um Orçamento anual de pouco mais de R$ 5 bilhões.

Primeiro turno

A primeira etapa da campanha em Curitiba foi bastante acirrada para definição do segundo colocado. Em terceiro nas pesquisas --inclusive na boca-de-urna, divulgada após o fim da votação no dia 7 --, o pedetista  superou Ducci por uma diferença de apenas 4.402 votos já nos décimos finais da apuração.

Perfil do candidato

Nome: Ratinho Junior
Partido: PSC
Nascimento: 19/04/1981
Município de nascimento: Jandaia do Sul (PR)
Ocupação: Deputado
Vice: Ricardo Mesquita (PSC)
Coligação: Curitiba Criativa (PSC/PR/PC do B/PT do B)

Ducci, além de candidato à reeleição com um leque de ações mais fresco na memória do eleitor, teve ainda o apoio e a campanha da principal liderança política do Estado, o governador Beto Richa (PSDB).

Apoios do segundo turno

Na segunda etapa da campanha, Fruet teve o apoio de siglas como DEM e PPS, mas, diferentemente de Fernando Haddad (PT), em São Paulo, e Nelson Pelegrino (PT), em Salvador, não teve no palanque os dois principais cabos eleitorais petistas, a presidente Dilma Rousseff e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

A vice de Fruet, Miriam Gonçalves, é do PT. Em troca, teve em campanha o casal de ministros Gleisi Hoffmann (Casa Civil) e Paulo Bernardo (Comunicações), que comandam a sigla no Paraná, e outros ministros petistas na reta final da campanha.

Já Lula, amigo pessoal do pai de Ratinho Júnior, não veio ao palanque do aliado Fruet. Em entrevista ao UOL, o apresentador Ratinho admitiu ter feito o pedido ao ex-presidente.

Também ao UOL, nessa sexta (26), Ratinho Júnior declarou que a ausência do petista na campanha adversária o ajudou.

Ratinho Junior, por sua vez, angariou apoio do diretório local do PMDB, principalmente nas figuras do senador e ex-governador Roberto Requião, presidente local do partido, e de Rafael Greca, quarto colocado no primeiro turno. O governador e o prefeito derrotado para a reeleição preferiram a neutralidade no segundo turno.

Tom sobe nas últimas semanas e esfria em debate

O tom entre as duas campanhas subiu ao longo das últimas semanas, a despeito da promessa de um segundo turno mais propositivo e menos agressivo do que foi o primeiro.

Ratinho Junior, por exemplo, associou o pedetista ao mensalão e ao ex-ministro-chefe da Casa Civil José Dirceu, um dos réus no julgamento do escândalo. A propaganda foi retirada do ar por determinação da Justiça Eleitoral.

Já Fruet consegui na Justiça Eleitoral a aplicação de três multas à Rede Massa, afiliada do SBT no Paraná pertencente ao empresário Carlos Massa, o Ratinho, pai do candidato. A coligação do pedetista acusou a emissora de favorecer o adversário em seus programas.

O tom bélico perdeu espaço apenas no último debate, realizado na sexta (26), quando o apoio político do PT, principal argumento de Ratinho Júnior para atacar o adversário, não foi mencionado.

Elogios e discussão de propostas deram a tônica do encontro --e no mesmo dia em que Ratinho admitiu ter demorado “a desconstruir” o adversário e perdido votos petistas e socialistas.

Mais informações sobre as eleições em Curitiba.

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