Com discurso de eleito, Fruet já fala em "recompor pontes" com adversários

Janaina Garcia

Do UOL, em Curitiba

Líder com uma folga de mais de dez pontos percentuais nas últimas pesquisas, o candidato a prefeito de Curitiba pelo PDT, Gustavo Fruet, adotou na madrugada deste sábado (27) um discurso de conciliação e de “recomposição de pontes” políticas já voltado a uma eventual administração municipal.

Entre as “pontes” a serem refeitas ou rediscutidas, na avaliação de Fruet, está a com o próprio adversário Ratinho Junior (PSC), com quem travou na noite desta sexta (26) o último e mais morno debate do segundo turno eleitoral. O evento foi promovido pela RPCTV, afiliada da Rede Globo no Paraná.

Após o debate dessa noite, Fruet afirmou que retomará as conversas com forças políticas que eventualmente não foram aliadas ou cuja presença nao foi ostensiva durante a campanha na capital paranaense.

“O projeto de governar tem que ser muito maior, e sem dúvida é recompor e retomar pontes também com ele [Ratinho Junior]. Na vida política não se constrói um projeto político sozinho e sem dor, e nem mesmo sem contradição --ainda mais em país com tanta desigualdade e com tanta falta de tradição partidária”, disse. Fruet pertenceu ao PMDB e ao PSDB antes de se filiar, há um ano, ao PDT.

Para o caso de ser eleito e corroborar, com isso, a liderança nas últimas pesquisas, Fruet declarou que pretende ainda conversar com a presidente Dilma Rousseff, que não foi a Curitiba durante toda a campanha, e com o governador Beto Richa (PSDB), que preferiu apoiar o prefeito Luciano Ducci (PSB) no primeiro turno. Nomes como o do senador Roberto Requião (PMDB) e do ex-prefeito Rafael Greca, também peemedebista, não foram citados --eles declararam apoio a Ratinho Júnior no segundo turno, após uma quarta colocação de Greca na primeira etapa da campanha.

“O prefeito vai precisar da bancada parlamentar paranaense, mas pretendo também falar com o governador e com a presidente e manter um diálogo com eles. Não se administra Curitiba de forma isolada”, afirmou, para ressalvar: “Mas há que ter serenidade e aguardar o resultado”.

Na última pesquisa Datafolha, publicada esta semana, Fruet surgiu com 52% das intenções de voto, contra 35% de Ratinho Junior.

Debate morno teve até elogios

Entre trocas de elogios e abraços de Ratinho Júnior à mãe de Fruet, aniversariante, já nas considerações finais, o debate foi marcado pela substituição do tom bélico das últimas semanas por elogios e discussão de propostas.

A aliança de Fruet com o PT, tema que Ratinho Júnior explorou para os ataques ao adversário, ficou de fora do embate, a exemplo do que já havia sido demonstrado, nessa sexta-feira, ao longo dos últimos programas do horário eleitoral na TV e no rádio.

Para Ratinho Junior, o tom agressivo dos últimos dias “não se tratou de ataque pessoal, ao caráter de ninguém”.

“Foi um debate muito cordial, e estou contente que pude mostrar um projeto pensando na cidade, acima de tudo, e não apenas pensando em um projeto de poder. E não ataquei ninguém [durante o segundo turno], apenas deixei claro o histórico de cada um e o posicionamento político do candidato”, declarou.

Pelas propostas sugeridas ao oponente, entre os candidatos, ou sorteadas pela emissora, figuraram temas como educação, transporte, concessão de táxis, tratamento de resíduos e até reforma de calçadas --para o candidato do PSC, por exemplo, essa deve ser atribuição da prefeitura, não do cidadão.

Ratinho Junior ainda ensaiou críticas ao modelo de transporte público implando na década de 70 pelo então prefeito Jaime Lerner (hoje no PSB) e no qual "as pessoas andam como sardinha; já saturou esse modelo". Aos taxistas, mandou um aviso: "Não vou deixar entrar motitaxi na cidade".

Já Fruet, que mencionou em agradecimentos finais a ministra-chefe da Casa Civil, Gleisi Hoffmann, também tentou se mostrar próximo do governo federal ao sugerir parcerias em programas de combate às drogas, por exemplo, bem como em ações relacionadas a assistência social. Nas últimas considerações, o pedetista elogiou a "postura firme" do adversário. "O Ratinho Júnior [do debate] é o mesmo que conheci em Brasília e no primeiro turno". Já em entrevista coletiva, ao fim, reforçou: "Ele [RAtinho Júnior] é muito jovem ainda, tem um potencial enorme pela frente e demonstrou muita competência", declarou.

Sem cabos eleitorais, PMs ficam no estúdio

À exceção dos assessores de campanha --cada uma pôde levar até oito deles ao debate--, nenhum cabo eleitoral compareceu sequer à área externa da emissora. No último debate antes do primeiro turno, no início do mês, cerca de 100 correligionários marcaram presença. A maioria, porém, eram partidários do prefeito Luciano Ducci (PSB), que não passou ao segundo turno por uma diferença de 4.402 votos em relação a Fruet.

Face ao clima tranquilo entre as duas campanhas, dois policiais militares das equipes que faziam o patrulhamento na área da emissora chegaram a assistir ao debate dentro do estúdio, fardados. Diante do estranhamento de jornalistas que aguardavam os candidatos, funcionários da emissora explicaram que não havia um "motivo especial" para a presença dos PMs dentro do local de gravação.

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