Candidatos repetem estratégias em debate morno em Curitiba

Rafael Moro Martins

Do UOL, em Curitiba

Os dois candidatos à Prefeitura de Curitiba, Ratinho Júnior (PSC) e Gustavo Fruet (PDT), mantiveram a estratégia usada há poucos dias, na TV Band, no segundo debate deste segundo turno, realizado nesta segunda-feira (22) à noite pela RI TV, retransmissora da TV Record no Paraná.

Vencedor do primeiro turno, mas ultrapassado por Fruet nas intenções de voto, segundo Datafolha e Ibope, Ratinho Júnior buscou questionar a aliança do adversário com o PT. Ex-deputado federal tucano, Fruet foi relator da CPI dos Correios, que ajudou a revelar o escândalo do mensalão, e crítico do governo Lula.

Com uma vantagem de dez e dezesseis pontos percentuais nos levantamentos de Ibope e Datafolha (ambos com margem de erro de três pontos, para mais ou menos), respectivamente, Fruet se manteve quase o tempo todo na defensiva. Foram raras as farpas que lançou ao adversário.

Talvez pela falta de novidades, porém, não se repetiu, para o telespectador, o calor do encontro da semana passada, quando Ratinho Jr. e Fruet abandonaram de vez o “pacto de não agressão” informal que haviam estabelecido após o primeiro turno e lançaram mão de acusações que chegaram até a envolver as duas famílias.

 

“Cacete no PT”

Ratinho Júnior ironizou Fruet logo no começo do debate, ao dizer que o adversário parecia ser “candidato a anjo”. Pedindo “olho no olho”, voltou a acusar a campanha do adversário pela produção de panfletos contra si –o material, distribuído durante a campanha do primeiro turno, trazia a assinatura da campanha de reeleição do prefeito Luciano Ducci (PSB), que negou a autoria.

A acusação acabou por render a Fruet o único direito de resposta do encontro. “A Justiça já disse que não há provas contra mim, e reafirmou isso ao determinar a retirada do ar de trecho do programa eleitoral [de Ratinho] que usava edição do o debate [da TV Band] sobre esse tema”, respondeu o pedetista.

 

Ratinho Júnior também voltou a insistir na tentativa de constranger Fruet pela aliança com o PT. “Eu votei pelo Minha Casa Minha Vida. Fruet o chamou de estelionato eleitoral e disse que (a então Ministra-chefe da Casa Civil) Dilma era muito incompetente”, falou. “Cumpri meu papel como oposição”, retrucou Fruet. “Hoje, tenho uma aliança programática (com o PT).”

O pedetista também sugeriu que Ratinho Júnior teria negociado o apoio do deputado federal Fernando Francischini (ex-PSDB, agora no minúsculo PEN) em troca de uma secretaria num eventual governo. Em propagandas repetidas à exaustão em rádio e televisão, o candidato do PSC apresentada Francischini como futuro “super-secretário muncipal da Segurança Pública”.

Ligado ao governador Beto Richa (PSDB), que anunciou neutralidade no segundo turno, Francischini é delegado da Polícia Federal, e costuma se apresentar como responsável pela prisão de traficantes de droga como Fernandinho Beira-Mar.

A resposta de Ratinho Júnior foi suscinta: “Não negocio cargos na prefeitura”, garantiu. Para contra-atacar: “Mas alguém acha que Fruet saiu do PSDB sem fazer acordo com a ministra (da Casa Civil) Gleisi (Hoffmann) para 2014?”, questionou. Gleisi e o marido, o também ministro Paulo Bernardo (Comunicações) foram os principais articuladores do apoio petista ao ex-tucano.

“Ele chamou o PT de facção, chamou o presidente Lula de chorão. Se o PSDB o tivesse deixado ser candidato, estaria hoje falando mal do PT”, argumentou Ratinho. Voltando ao tema, no bloco seguinte, afirmou: “Se (Fruet) fosse candidato pelo PSDB, estaria descendo o cacete no PT.”  O pedetista deixou a legenda, em junho de 2011, dizendo-se sem espaço para pleitear a disputa da prefeitura.

A resposta de Fruet: “Essas acusações (a Lula e ao PT) não fiz. Tanto que ele (Ratinho) não tem como prová-las. Não nego minha trajetória. Mas seria muito fácil se pudéssemos dividir (a política) entre partidos do bem e partidos do mal”, falou, após citar o caso de João Claudio Derosso (sem partido, ex-PSDB), ex-homem forte da Câmara Municipal de Curitiba, que perdeu o cargo e o mandato após denúncias de desvio de recursos na casa.

Falta de experiência e concessão de TV

Repetindo estratégia que já usara na semana passada, na TV Band, Ratinho Júnior questionou Fruet sobre sua experiência em gestão. Acabou por ouvir uma das poucas farpas lançadas pelo pedetista. “É uma provocação pequena, Ratinho. Você também nunca ocupou cargo executivo na cidade.”

Muito questionado sobre sua suposta falta de experiência (tem 31 anos de idade). Ratinho Júnior novamente apresentou sua experiência à frente das empresas da família (entre elas a Rede Massa, retransmissora do SBT no Paraná, e uma emissora de rádio) para mostrar-se mais preparado que o adversário. “Experiência não é só idade. E independente de ser público ou privado. Gestão é gestão”, justificou.

A Rede Massa, multada nesta terça-feira (23) pela Justica Eleitoral por favorecer o candidato do PSC em um de seus telejornais, voltou ao centro das atenções quando o próprio Ratinho Júnior resgatou crítica que ouvira do adversário no debate da semana passada sobre um suposto favorecimento na obtenção de concessões de rádio e TV.

“Quando Fruet fala das concessões, joga palavras ao vento. E, ao dizer que ganhei concessão, você está acusando seu ministro Paulo Bernardo”, provocou Ratinho Júnior. Como já fizera na semana passada, o pedetista esquivou-se de defender o petista. “Falo do uso indevido (da emissora) em favor de sua candidatura. Tanto que hoje Justiça Eleitoral estabeleceu multa às suas empresas por causa disso”, respondeu Fruet.

Transporte coletivo e saúde

Apoiado pelo ex-governador e ex-prefeito Jaime Lerner (sem partido, ex-PSB), Fruet defendeu a sobrevida do sistema de transporte coletivo da cidade –que não conta com trens ou metrô, mas apenas ônibus. “O modelo não está esgotado. Dizer isso é um crime contra a cidade”, disse. Depois, completou. “É necessário um novo sistema, mas para isso é preciso haver discussão técnica.”

“Vamos romper com esse (modelo de) tranporte coletivo. Também tenho coragem de romper (com as empresas de ônibus) e abrir a 'caixa-preta' da Urbs”, replicou Ratinho Júnior, fazendo referência a Osmar Bertoldi (DEM) e Marcos Isfer (PPS) que declararam apoio a Fruet. A família de Bertoldi é proprietária de empresas de ônibus, e Isfer preside a Urbs, empresa da prefeitura que administra o transporte coletivo.

Ao falar sobre educação, ambos lançaram promessas aos telespectadores. Ratinho Júnior prometeu, em dois anos, zerar as filas nas creches municipais (um problema antigo na cidade) e criar mais 50% de vagas na educação integral. Fruet disse que irá fazer o “maior investimento em educação da história”, elevando a fatia dedicada à pasta a 30% do orçamento da cidade – o que, segundo ele, significaria R$ 100 milhões a mais por ano.

Ao final, um momento que contrastou com as trocas de acusações iniciadas no primeiro debate. Fazendo suas considerações finais, Ratinho Júnior mencionou o aniversário de uma das filhas e o nascimento do primeiro filho, previsto para as próximas semanas. Ouviu de Fruet os parabéns para a filha e “desejos de sucesso” para ele e a esposa no parto.

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