Partidos da base de Dilma apoiam rivais do PT no segundo turno

Felipe Amorim

Do UOL, em São Paulo

Em cinco das oito capitais onde o PT tem candidato no 2º turno ou a cúpula do partido decidiu entrar na campanha, partidos da base aliada da presidente Dilma Rousseff (PT) anunciaram apoio a candidaturas rivais às petistas.

O caso se repete em Salvador, Curitiba, Fortaleza, Manaus e Rio Branco. Em João Pessoa, onde o petista Luciano Cartaxo disputa contra o tucano Cícero Lucena, o PMDB e o PSB, que tiveram candidaturas próprias, decidiram declarar neutralidade no segundo turno. Em Cuiabá, o petista Lúdio Cabral tem o PMDB na vice, e disputa contra o PSB, de Mauro Mendes.

Apenas em São Paulo, a candidatura petista de Fernando Haddad teve força para atrair partidos aliados que tiveram candidato, como o PMDB de Gabriel Chalita, e o PDT, embora o candidato Paulinho da Força tenha contrariado o partido e declarado apoio a José Serra (PSDB).


Para o cientista político da UnB (Universidade de Brasília) Leonardo Barreto, a composição das alianças reflete o estilo político da presidente Dilma Rousseff (PT), que apostou em manter a fidelidade da base e a governabilidade em Brasília ao abrir mão de apoios regionais.

“Acredito que a presidente Dilma está tomando cuidado para não estressar a base, que já está estressada. E o caminho que ela encontrou foi da liberdade para que possam resolver seus problemas locais, de maneira local. Ela está priorizando muito mais a manutenção da paz em Brasília, do que propriamente o aumento das vitórias das prefeituras do PT no país”, afirma Barreto.

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À presidente, segundo Barreto, faltariam as qualidades do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) de grande articulador político e de forte liderança sobre o PT, que o levaram a ter influência determinante nas candidaturas do partido.

“Essa habilidade de fazer concertações de partidos ela não tem, e também não tem o controle do PT. O que resta a ela é permitir que cada cidade se resolva da maneira que melhor conseguir, com o objetivo de preservar a paz em Brasília. Tanto que o PT pressiona ela a entrar na campanha e ela resiste. O exemplo maior disso foi o voto dela em Porto Alegre”, diz o pesquisador da UnB.

No dia da votação do primeiro turno, no domingo 7 de outubro, a presidente não anunciou qual foi seu candidato para Prefeitura de Porto Alegre, onde ela vota. Na capital gaúcha, além de Adão Villaverde (PT), disputavam com chances de passar ao segundo turno outros dois candidatos de partidos da base: Manuela D’Ávila (PC do B) e o atua prefeito José Fortunati (PDT). Fortunati terminou reeleito no primeiro turno.

De olho em 2014

Em capitais como Salvador e Curitiba, o apoio do PMDB a adversários do PT ganha conotações de uma estratégia para a disputa pelo governo estadual, em 2014. Na capital baiana, o PMDB, rompido desde 2010 com o governador Jaques Wagner (PT), anunciou apoio a ACM Neto (DEM). O democrata lidera a última pesquisa Ibope, oito pontos à frente do petista Nelson Pelegrino (PT).

“Creio que ele [Geddel Vieira Lima] está fazendo uma projeção para 2014 e aí, como nós já temos um conjunto de partidos grandes na nossa coligação, pode ser que ele tenha entendido ser mais confortável para o caminho dele estar numa composição com o DEM e o PSDB”, disse o governador, em entrevista ao jornal “A Tarde”, se referindo à liderança do PMDB baiano, Geddel Vieira Lima, ex-ministro da Integração Nacional, e atualmente vice-presidente de Pessoa Jurídica da Caixa Econômica.

Para o cientista político da FGV (Fundação Getúlio Vargas) Fernando Abrucio, também o apoio do PMDB à Ratinho Jr. (PSC) em Curitiba pode ser explicado como uma estratégia de minar a força do PT na futura disputa pelo governo do estado. Gustavo Fruet (PDT), adversário de Jr. na capital do Paraná, tem a candidatura apoiada pelos ministros petistas Paulo Bernardo (Comunicações) e Gleisi Hoffmann (Casa Civil).

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A aliança foi interpretada como um sinal do apoio de Fruet a um candidato petista ao governo do estado.

E para o pesquisador da FGV, é vista como uma ameaça ao projeto estadual do PMDB, que tem no senador, e ex-governador, Roberto Requião, uma de suas principais lideranças.

“Requião apoia Ratinho porque ele sabe que se Fruet ganhar a eleição ele vai ter dificuldade de voltar ao governo do Estado. Apoiar Ratinho significa enfraquecer o PT para ele. E ele vai continuar apoiando o PT no plano nacional, mas no plano regional não quer o PT muito forte”, afirma Abrucio.

Em Manaus, onde a senadora Vanessa Grazziotin (PC do B), que teve a participação do ex-presidente Lula na campanha, polariza a disputa com o ex-senador Arthur Virgílio (PSDB), os partidos governistas PR e PSB decidiram apoiar o tucano no segundo turno. Virgílio fez piada com a situação: “Fica faltando agora o Lula chegar aqui e declarar apoio a mim, aí completa tudo”, disse, no evento que selou o apoio das legendas.

O PT está em oposição aos partidos da base também em Fortaleza, onde rompeu com o PSB a aliança que elegeu há oito anos a prefeita Luizianne Lins (PT), e o petista Elmano de Freitas passou ao segundo turno com Roberto Cláudio (PSB). Lá, PC do B, PDT, e até mesmo o DEM, declararam apoio ao socialista, que tem o PMDB na vice.

Em Rio Branco, o PMDB, que concorreu com Fernando Melo, vai apoiar o tucano Tião Bocalom no segundo turno. O petista Marcus Alexandre aparece em empate técnico, mas dois pontos na frente, de Bocalom, em pesquisa Ibope divulgada nesta sexta-feira (19).

O pesquisador Fernando Abrucio, da FGV diz não acreditar que as rusgas regionais tenham o poder de interferir na estabilidade da aliança nacional liderada pelo PT.  “Esse apoios tem mais a ver com questões regionais. A eleição municipal tem uma relação muito pequena com o cenário nacional. O PMDB é uma federação de partidos: tem ‘PMDBs’ e ‘PMDBs’. Acho que os apoios não tem grandes efeitos sobre a coalizão governista”, diz Abrucio.

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