José Serra e Fernando Haddad travam debate paralelo longe das câmeras

Vinícius Segalla

Do UOL, em São Paulo

Em um debate considerado "morno" pela maioria daqueles que acompanharam o programa ao vivo, direto do teatro da TV Cultura, os maiores confrontos entre José Serra (PSDB) e Fernando Haddad (PT), que aparecem tecnicamente empatados no segundo lugar nas pesquisas eleitorais, aconteceram longe das câmeras, durante os intervalos comerciais da atração, que durou cerca de duas horas e meia.

Nos intervalos, os fotógrafos flagaram uma intensa conversa ao pé do ouvido entre o tucano e o petista, com direito a sorrisos aparentemente irônicos e muita gesticulação de braços e mãos. Os candidatos voltaram à carga em outros dois intervalos, para a curiosidade dos jornalistas e plateia em geral presentes no debate.

Ao fim do evento, Serra preferiu não comentar as conversas paralelas que desenvolveu com Haddad. Já o petista resolveu falar. Segundo ele, a conversa começou a respeito de uma polêmica envolvendo um motorista que deu depoimento na propaganda eleitoral de Haddad, afirmando estar há dois anos esperando na fila da Secretaria de Saúde municipal a espera de uma cirurgia de catarata. A prefeitura e a campanha de Serra constestam a versão.

O assunto foi levantado por Haddad no fim do quarto bloco, para a irritação do tucano, que questionou a um assessor se caberia um pedido de direito de resposta. Diante da negativa, Serra aguardou o intervalo para interpelar o adversário, afirmando que não existe fila para catarata no sistema municipal de saúde, ao que Haddad teria respondido com outra questão: por que, então, a cirurgia não teria sido realizada até agora. O tucano, gastando até o último segundo do intervalo, teria treplicado dizendo que o problema de saúde do motorista é outro, que não a catarata.

Debate tem "pergunta surpresa" e "momento aerotrem"

Ao fim do bloco seguinte, os dois voltaram à carga, desta vez acerca do tema transporte. "Perguntei ao Serra o que ele tem contra o bilhete único mensal", reportou o petista, ao fim do debate, aos jornalistas. "Disse a ele que na Europa funciona, mas ele disse que está dando problema", finalizou. Serra não confirmou nem desmentiu. "reservo-me no direito de não comentar essa conversa particular, mas posso garantir que não teve importância".

Debate morno

O confronto de bastidores pode ser considerado o que de mais emocionante aconteceu no debate, definido como "morno" ou "monótono" por aqueles que o acompanharam in loco, inclusive os assessores dos candidatos. O prefeito Gilberto Kassab (PSD) e o governador Geraldo Alckmin deixaram o teatro ao fim do terceiro bloco. Já João Sayad, presidente da Fundação Padre Anchieta, gestora da TV Cultura, uma das organizadoras do debate, foi flagrado pelos fotógrafos jogando videogame em seu telefone celular durante o debate.

Flávio D´Urso (PTB), candidato a vice-prefeito na chapa da Celso Russomanno (PRB), classificou o debate como "morno", opinião compartilhada pelo deputado federal Vicente Cândido (PT-SP), para quem o debate estava "monótono e cansativo". "Debates de primeiro turno, com muitos candidatos, correm o risco de ficar assim, um pouco arrastados", analisou o parlamentar, que não poupou das críticas até mesmo o candidato de seu partido, Fernando Haddad. "Ele está parecendo cansado, né? Certamente não está em seus melhores dias".

Durante os cerca de 150 minutos de debate, todos os candidatos, em um momento ou em outro, fizeram uso dos bancos que tinham à disposição atrás de seus palanques para relaxar as pernas. Serra comeu biscoitos e olhou para o horizonte. A candidata Soninha (PPS) penteou os cabelos com as mãos em mais de 30 oportunidades. Já Gabriel Chalita, candidato do PMDB, acossado pela fome, pediu a seus assessores que providenciassem "uns sushis e uns sashimis", pratos da culinária oriental, durante os intervalos. O pedido não foi atendido. Em sua última participação, Paulinho da Força (PDT) assim finalizou sua participação no debate: "Quero agradecer aos organizadores, à plateia e, principalmente, aos telespectadores, que nos aguentaram até agora".

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