Principais concorrentes à prefeitura de Curitiba, Ratinho Jr. (PSC) e Luciano Ducci (PSB) travaram uma batalha, no horário eleitoral gratuito de televisão desta segunda-feira (10), sobre a imagem de “cidade-modelo” da capital paranaense.

“Curitiba já foi modelo, mas faltou competência e planejamento da prefeitura”, falou Ratinho, citado por 27% dos eleitores na última pesquisa divulgada pelo Datafolha, em agosto. “Enquanto nalguns bairros parece que estamos na Itália, na Alemanha ou na Polônia, noutros a impressão é de se estar num dos lugares mais pobres do país.”

Num programa muito bem produzido, que lançou mão de tomadas aéreas e efeitos especiais, Ratinho disse que a imagem de cidade-modelo atraiu a Curitiba gente de todos os cantos, “recebida de braços abertos. Mas hoje o curitibano sofre no trânsito, nos postos de saúde, na fila de exames, espera por vaga em creche, nos ônibus lotados.”

Concorrente à reeleição, Ducci (também escolhido por 27% dos entrevistados pelo Datafolha em agosto) apresentou-se como o “prefeito que levou Curitiba para o mundo”, enquanto seu programa exibia políticos estrangeiros elogiando “soluções urbanas” adotadas pela cidade. Depois, valorizou o orgulho de morar em Curitiba – uma das músicas do programa chegou a comprar a cidade a um “paraíso”.

Ducci, que usou um programa parecido com o que já apresentara na última sexta-feira (8), valorizou as obras que sua gestão realiza nos bairros. No Tatuquara (zona sul), uma das regiões mais pobres da cidade, prometeu criar uma das novas administrações regionais de seu plano de governo e prometeu novas intervenções. Ainda que de forma não intencional, acabou por parecer uma resposta às críticas que Ratinho apresentara minutos antes.

Terceiro colocado no Datafolha, com 20% das intenções de voto em agosto, Gustavo Fruet (PDT) voltou a valorizar o apoio do PT. Em vários momentos do programa, entrevistados fizeram menção a programas como o Bolsa-Família, à presidente Dilma Rousseff e ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Fruet prometeu “trazer a Curitiba os avanços conquistados no Brasil.”

Herdeiros de Lerner

“Curitiba teve soluções urbanísticas avançadas durante as gestões biônicas de Jaime Lerner (entre 1971 e 75 e 1979 e 84)”, confirma o cientista-político Adriano Codato, professor-adjunto da UFPR (Universidade Federal do Paraná).

Indicado prefeito pela ditadura militar, Lerner implantou nos anos 1970 o primeiro calçadão para pedestres do Brasil, os primeiros corredores exclusivos para ônibus e o sistema expresso, em que os coletivos tinham preferência em cruzamentos sobre os automóveis.

O sucesso de ideias como essas exportou a imagem de Curitiba para o Brasil e o exterior, e rendeu a Lerner uma eleição para prefeito após uma campanha de apenas 12 dias, em 1988.

Em sua terceira gestão, Lerner criou as estações-tubo, em que o passageiro paga a passagem antes de embarcar. Querido na cidade, elegeu com facilidade seu sucessor, Rafael Greca (então no PDT, e que concorre novamente à prefeitura em 2012, mas como adversário do lernismo, no PMDB).

Ducci é herdeiro político de Lerner, já que foi secretário da Saúde de Cassio Taniguchi (DEM), sucessor de Greca por dois mandatos e braço direito de Lerner. Além disso, o padrinho político de Ducci, o governador Beto Richa (PSDB), foi vice-prefeito de Taniguchi.

“Mas, hoje, a prefeitura de Curitiba nada mais tem de inovadora. O que ela faz são obras de asfalto, trânsito, postos de saúde e assistencialismo. Em vez de calçadões, como nos tempos de Lerner, diminui-se a largura de calçadas para aumentar o espaço para os automóveis. Assim, a cidade caminha para se tornar uma mini-São Paulo, com todos os defeitos e nenhuma das virtudes”, critica Codato.

Tempo quente no rádio

Se na televisão as críticas entre os candidatos ainda são amenas, no rádio elas já são mais ácidas. Luciano Ducci levou ao ar uma propaganda em que um paciente confessa ao dentista o medo de extrair um dente. O profissional responde também estar amedrontado, por nunca ter feito a operação. Trata-se de referência direta à inexperiência direta de Ratinho Jr. de apenas 32 anos.

Há alguns dias, um comercial semelhante, em que um fictício piloto de avião que se apresentava como Comandante Jr. se mostrava apavorado ante o primeiro voo. A campanha de Ratinho foi à Justiça e cassou a propaganda.

A coligação do prefeito-candidato também mirou no ex-aliado Gustavo Fruet, que vem atacando duramente a gestão de Ducci. Um comercial diz que “não dá para confiar em Fruet, que antes criticava o PT e agora anda de mãos dadas com o PT, que tem vários políticos condenados por corrupção.”

O texto faz referência à atuação de Fruet, então deputado federal pelo PSDB, na CPI dos Correios, da qual foi sub-relator. A comissão ajudou a desvendar o esquema do mensalão.
Apesar da crítica, o PSDB, partido de Beto Richa, que apoia Fruet, lidera a lista de candidatos a prefeitos cassados pela Lei da Ficha Limpa, revelou reportagem publicada na última sexta-feira (8) pela “Folha de S. Paulo”.