Escândalo dos contratos de publicidade na Câmara de Curitiba fica distante do horário político de vereadores

Rafael Moro Martins

Do UOL, em Curitiba

O principal escândalo político dos últimos anos, em Curitiba, que teve como epicentro a Câmara, foi pouco lembrado nesta terça-feira (21), primeiro dia de propaganda eleitoral gratuita na cidade – dedicado, justamente, aos candidatos que postulam uma cadeira no poder Legislativo municipal.

Apenas duas candidatas citaram textualmente o nome do ex-presidente João Claudio Derroso --que desfiliou-se do PSDB por conta do caso: Mariane Siqueira, do nanico PSTU, e a vereadora e candidata à reeleição professora Josete (PT).

Homem forte da Câmara entre 1998 e 2011, Derosso caiu após o jornal “Gazeta do Povo” denunciar contratos superfaturados de publicidade firmados por ele.

Depois, descobriu-se que boa parte dos atuais vereadores --ou, ao menos, funcionários de seus gabinetes-- eram beneficiados por verbas desses contratos. Pressionado pelas reportagens e por denúncias do Ministério Público Estadual, Derosso perdeu o cargo e, como deixou o partido, sequer concorre à reeleição.

A primeira menção aos escândalos da Câmara, que se tornaram públicas no segundo semestre de 2011, foi feita, ironicamente, por um candidato da coligação “Curitiba sempre na frente”, que apoia a reeleição do prefeito Luciano Ducci (PSB).

Derosso foi aliado importante de Ducci e de seus antecessores na prefeitura, e antes do escândalo foi cogitado como companheiro de chapa do prefeito.

Hélio Wirbiski (PPS) falou na necessidade de mudanças “depois do ocorrido na Câmara”. Em seguida, a vereadora Renata Bueno --filha do candidato a vice-prefeito na chapa de Ducci, o deputado federal Rubens Bueno--, uma das maiores críticas de Derosso, calou-se a respeito da situação na Câmara. Falou apenas em buscar “a Curitiba que queremos”.

O presidente municipal do PMDB, o senador Roberto Requião, que enfrentou uma rebelião no partido para impor a candidatura de Rafael Greca, também deu as caras no horário eleitoral. Também sem citar Derosso, falou em “desmoralização da Câmara”, e disse que “as eleições oferecem oportunidade para resolver o problema”, antes de pedir voto para os candidatos do partido.

Outros candidatos, na maioria aspirantes a um primeiro mandato, falaram genericamente em “lutar contra a corrupção” ou “trabalhar com ética”. “Chega de escândalos”, bradou outro.

Entre os vereadores que buscam a reeleição, as palavras de ordem foram outras: “continuar o trabalho”, “manter o compromisso com a população curitibana” e “não aparecer só em véspera de eleição” foram alguns dos bordões atirados aos telespectadores.

“Como 90% dos atuais vereadores estão implicados (nos escândalos de publicidade, não falar é instinto de sobrevivência para eles”, avalia, ao UOL, o cientista político Adriano Codato, professor-adjunto da Universidade Federal do Paraná.

Discrição

As costumeiras invasões dos candidatos a prefeito nos horários dos postulantes a uma cadeira de vereador foram discretas no primeiro dia de propaganda eleitoral em Curitiba.

A coligação “Inova Cutitiba”, que pelo sorteio abriu as transmissões, inaugurou o horário eleitoral com o candidato a prefeito Ratinho Jr. (PSC) pedindo voto para os candidatos a vereador da chapa.

Pouco depois, o vice-presidente municipal do PDT, o ex-deputado federal Wilson Picler, abriu o espaço da coligação “Curitiba quer mais” falando que “está ao lado de Gustavo Fruet” antes de abrir espaço aos concorrentes à Câmara. O candidato a prefeito, porém, não apareceu.

Luciano Ducci, cuja coligação “Curitiba sempre na frente” dispõe da maior fatia do horário eleitoral gratuito em Curitiba (mais de dez minutos, antes quase seis minutos de Gustavo Fruet, o segundo colocado), não invadiu a propaganda eleitoral dos candidatos a vereador de sua chapa.

Bordões, veteranos e herdeiros

Com poucos segundos para passar alguma mensagem ao eleitor, como de costume muitos candidatos apelaram para bordões na tentativa de se destacarem entre centenas de concorrentes.

“Nenhum de nós é tão bom quanto todos nós juntos”, disse “Reinaldo Tesourinha (PP). “Não vacila, vai de Fábio Bacila”, falou outro, candidato pelo PSC. “Em 2008 faltou pouco, agora vai”, afirmou o esperançoso Genivaldo Santos (DEM). “Somos jovens provisórios e velhos eternos”, segundo Will (PMDB). Já a Tia do Doce (PRP) prometeu apenas “uma Curitiba melhor”, mas seus parcos segundos não lhe permitiram ir adiante.

“Esses candidatos têm um tempo muito curto, em geral distribuído arbitrariamente pela coligação. O que dizer em dez, quinze segundos? Enfiar uma marca que associe seu rosto a uma frase, um bordão”, argumenta Codato.

E, enquanto o veterano José Gorski (PSB), que colecionou sete mandatos consecutivos entre 1972 e 2000, tenta voltar à Câmara, Mário Celso Jr., do mesmo partido, tenta ficar com a vaga que por muitos anos foi (e ainda é) do pai, Mário Celso Cunha, licenciado para comandar a secretaria estadual de Assuntos da Copa do Mundo.

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