Com problemas na Justiça, tucano deve evitar mensalão em debate com João Paulo Cunha em Osasco (SP)

Guilherme Balza

Do UOL, em São Paulo

Os principais adversários do deputado federal João Paulo Cunha (PT) na disputa eleitoral em Osasco (Grande São Paulo) afirmaram que não pretendem abordar o julgamento do mensalão --no qual Cunha é réu-- no debate entre os candidatos organizado pela "TV Bandeirantes" neste sábado (18), a partir de 10h.

Na última quinta-feira (16), o relator do processo do mensalão, ministro Joaquim Barbosa, votou pela condenação de Cunha por corrupção passiva, lavagem de dinheiro e por dois crimes de peculato (desvio de recursos públicos), em razão dos contratos assinados pela Câmara dos Deputados com as empresas do publicitário Marcos Valério --operador do suposto esquema--, quando Cunha era presidente da Casa.

Barbosa considerou que os contratos eram fraudulentos e serviram para beneficiar mutuamente o deputado, o publicitário e seus ex-sócios Ramon Hollerbach e Cristiano Paz --os três últimos foram acusados por corrupção ativa e peculato.

Principal rival de Cunha, o tucano Celso Giglio afirmou que seu “foco no debate será as propostas e os problemas da cidade”. Ao contrário das principais figuras do PSDB, que publicamente citam com frequência o mensalão, Giglio disse acreditar que o julgamento do escândalo “não é tema para debate em uma campanha.”

“As pessoas já estão a par do mensalão, que está sendo muito divulgado pela grande imprensa. Não pretendo usar [o escândalo] contra ele [João Paulo Cunha]”, disse à reportagem do UOL.

Giglio governou Osasco em duas oportunidades, entre 1993 e 1997 e de 2001 a 2005. O tucano responde a onze processos na Justiça já foi condenado por três vezes em primeira instância.

Em uma das condenações, o juiz determinou, em 2009, que o ex-prefeito e mais quatro acusados ressarcissem os cofres públicos em R$ 39 milhões por envolvimento no escândalo dos precatórios.

O julgamento do mensalão no STF
O julgamento do mensalão no STF

Segundo o Ministério Público, autor da ação, durante a primeira gestão de Giglio foram emitidos títulos públicos fantasmas supostamente para pagamento de precatórios. Os recursos auferidos com os títulos foram desviados para outras finalidades.

Para fazer a operação, a prefeitura contratou, sem licitação, o Banco do Estado de Santa Catarina (Besc), que também foi condenado na ação. Giglio recorreu, e o processo agora tramita em segunda instância.

O tucano negou que a recusa em trazer o mensalão para o debate seja o temor de que o petista também use os processos a que Giglio responde na Justiça. “Não me preocupo com nada disso. Dou conta de toda a minha vida. Tomara que eles [os adversários] abordem esses pontos [no debate]”, disse.

A última pesquisa eleitoral realizada em Osasco foi feita pelo Ibope e divulgada em 21 de junho. Na época, Giglio liderava as intenções de voto, com 35%, seguido de Osvaldo Vergínio (PSD), com 19%, e Cunha, com 15%. A pesquisa apontou ainda que o petista e o tucano possuíam os maiores índices de rejeição, com 27% e 22%, respectivamente.

Vergínio também não pretende tocar no tema do mensalão no debate. “Não vou perguntar nada. Só vou tocar no assunto se alguém perguntar. Quero expor meu projeto”, afirmou.

PT sem plano B

Se for condenado pelo Supremo, Cunha perderá os direitos políticos e terá que abandonar a candidatura.

O réu, no entanto, pode apresentar recursos no próprio STF e, dessa maneira, adiar a perda dos direitos políticos, que só acontece quando o processo transita em julgado --quando não há mais possibilidade de recursos.

Caso seja eleito prefeito, o petista corre o risco de ter que deixar o mandato no meio.

A coordenação da campanha de João Paulo Cunha disse que não irá se manifestar a respeito do mensalão até o desfecho do julgamento. O PT de Osasco afirmou não ter em vista nenhum nome para substituir não caso o deputado seja condenado.

“Nosso candidato é o João Paulo. Não temos ‘plano B’, até para não gerar margem para especulações”, disse o presidente do diretório municipal de Osasco, o vereador João Gois Neto, candidato à reeleição. Ele afirmou que o deputado é um “companheiro extraordinário” e que o julgamento do mensalão não irá abalar a campanha.

“Temos uma história de construção desse país. Surgimos de uma época muito difícil, de ditadura militar. Isso que está acontecendo não irá nos abalar”, afirmou o candidato a vereador.

Nos últimos dias, Cunha fez corpo-a-corpo em vários bairros de Osasco. Na quinta-feira (17), durante inauguração de um comitê no Jardim Padroeira, disse estar “animado” para fazer a campanha. No Twitter, não citou o voto de Barbosa, que pediu sua condenação-- assim como seus adversários.

No total, 20 partidos compõem a coligação de Cunha, entre eles o DEM e o PMDB. O deputado, único réu do mensalão a se candidatar nestas eleições, já arrecadou R$ 876 mil para a campanha, 32 vezes mais do que Giglio --que arrecadou R$ 27 mil-- e dez vezes mais do que Vergínio, que levantou R$ 83,9 mil.

O maior doador de Cunha é o próprio PT, responsável por 99,8% do arrecadado pela campanha. O candidato de Osasco é, até o momento, o maior destinatário de recursos da legenda entre todos os prefeituráveis petistas no Estado.

Debate

Além de Cunha, Giglio e Vergínio, mais três candidatos irão participar do debate de hoje: Alexandre Castilho (PSOL), Delbio Teruel (PTB) e Reinaldo Mota (PMN). O debate será dividido em cinco blocos e terá perguntas entre os concorrentes, da produção e de jornalistas. No primeiro debate entre os prefeituráveis de Osasco, o mensalão também foi evitado.

Entenda o dia a dia do julgamento

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