Candidatos apadrinhados por Lula e Dilma recebem 95% da receita do PT

Débora Melo

Do UOL, em São Paulo

Os petistas Patrus Ananias, candidato à Prefeitura de Belo Horizonte (MG), e Fernando Haddad, que disputa a Prefeitura de São Paulo, receberam juntos R$ 1,37 milhão do PT, o que corresponde a 94,9% das receitas repassadas pelo partido, de acordo com a primeira prestação de contas parcial dos candidatos enviada ao TSE (Tribunal Superior Eleitoral).

Além de Haddad e Patrus, apenas outros dois dos 17 candidatos do PT que disputam prefeituras de capitais declararam ter recebido recursos do partido. Para esses quatro candidatos foi repassado R$ 1,44 milhão no total.

Haddad, que foi ministro da Educação durante o governo Luiz Inácio Lula da Silva e escolhido pelo ex-presidente para disputar a prefeitura --ele preteriu Marta Suplicy--, recebeu R$ 475 mil de receita do partido. Patrus, que foi ministro do Desenvolvimento e Combate à Fome do governo de Lula e é a aposta da presidente Dilma Rousseff, informou ter recebido R$ 897.500 de ”recursos de partido político”.

Com a eleição de Patrus, a estratégia é conter o avanço do PSB do atual prefeito de Belo Horizonte, Marcio Lacerda, que tem o apoio do senador e ex-governador Aécio Neves (PSDB) e do atual governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), fortes candidatos a adversários de Dilma nas eleições presidenciais de 2014.

Pesquisa Ibope/Globo divulgada na última sexta-feira (3) aponta o candidato Patrus em segundo lugar na disputa em Belo Horizonte, com 21% das intenções da voto --atrás do líder Marcio Lacerda (43%). Já em São Paulo o candidato Haddad tem 6% das intenções de voto e está tecnincamente empatado no terceiro lugar com Soninha Francine (PPS), Gabriel Chalita (PMDB) e Paulinho da Força (PTD), que têm 7%, 5% e 5%, respectivamente --José Serra (PSDB) e Celso Russomanno lideram a pesquisa com 26% e 25% das intenções de voto.

Os outros dois candidatos que declararam ter recebido dinheiro do partido foram Marcus Alexandre, que concorre em Rio Branco (AC) e recebeu R$ 10 mil; e Washington Oliveira, candidato em São Luís (MA), que recebeu R$ 63 mil. A reportagem entrou em contato com a Executiva Nacional do PT, mas ainda não obteve retorno.

De acordo com o TSE, as receitas do item “recursos de partido político”, que consta na prestação de contas dos candidatos, podem ser doações do próprio partido --o que, segundo o próprio TSE, é o mais comum-- ou de partidos coligados, já que o detalhamento só é fornecido na prestação de contas final.

Segundo o advogado Alberto Rollo, especialista em direito eleitoral, de fato são os próprios partidos que costumam fazer as doações. “É o mais comum, porque as coligações normalmente são formadas com partidos pequenos. Então é o partido grande que acaba fazendo a doação”, diz.

Doações ocultas

A doação de dinheiro ao partido, e não diretamente ao candidato, é usada pelos doadores como uma "manobra" para que não sejam identificados. As pessoas físicas e jurídicas que desejam contribuir com um candidato fazem uma doação para o partido, que repassa o montante para a campanha. Dessa forma, o doador não fica vinculado ao candidato.

Em 2010, o TSE editou uma resolução para dificultar esses repasses, exigindo que os partidos discriminassem a origem das receitas repassadas a candidatos e comitês. A indicação dos nomes e dos respectivos valores, no entanto, só ocorre na prestação de contas final, de acordo com o TSE.

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