Paes não responde a temas polêmicos em debate no Rio; candidato do PSOL liga prefeito a milícias

Hanrrikson de Andrade

Do UOL, no Rio

O atual prefeito do Rio de Janeiro e candidato à reeleição, Eduardo Paes (PMDB), preferiu não responder a temas polêmicos durante o primeiro debate entre os candidatos à prefeitura, realizado pela "TV Bandeirantes", na sede da emissora, na zona sul da cidade.

Em uma das situações nas quais foi confrontado pelos adversários, Paes teve seu nome ligado a milícias que atuam na zona oeste do Rio. Também participaram do debate os candidatos Rodrigo Maia (DEM), Otávio Leite (PSDB) e Aspásia Camargo (PV).

Líder da CPI das Milícias, realizada em 2008, o candidato do PSOL, Marcelo Freixo, afirmou ter recomendado ao prefeito que fizesse licitações individuais para regulamentar o transporte alternativo no Rio (vans e kombis). "Você não só não cumpriu isso como, em 2009, se reuniu com uma série de pessoas que foram indiciadas no relatório da CPI, sendo que algumas estão presas hoje", disse.

Na ocasião, o governo municipal optou por realizar o processo licitatório através de cooperativas. De acordo com o resultado da CPI das Milícias, muitas cooperativas eram parcialmente ou totalmente controladas pelos grupos paramilitares que atuam, em especial, nos bairros de Campo Grande e Santa Cruz, na zona oeste.

Freixo também reclamou de um suposto "silêncio" do governo municipal a respeito da política de expansão do metrô na cidade. Em sua tréplica, Eduardo Paes ignorou o discurso do adversário e manteve a estratégia de enaltecer os feitos de sua gestão, citando o sistema BRT (Bus Rapid Transit) e afirmando que a expansão do metrô, projeto realizado pelo governo do Estado, conta com o apoio da gestão municipal.

"O prefeito não é comentarista do que se faz na cidade, o prefeito tem que trabalhar", disse Paes, que não fez qualquer citação a milícias em suas falas durante todo o debate. Em 2006, quando concorria a seu primeiro mandato como prefeito do Rio, Paes se envolveu em uma polêmica semelhante. Na ocasião, ele utilizou a expressão "polícia mineira" para se referir a milícias de Jacarepaguá, e afirmou que esses grupos deram "tranquilidade para a população".

O debate

Logo na abertura do primeiro bloco do debate da "TV Bandeirantes", o candidato do PSDB, Otávio Leite, fez uma menção ao julgamento do mensalão, que teve início nesta quinta-feira (2) --sendo esta a única citação ao mensalão em todo o debate.

"Hoje é um dia histórico no Brasil. É a data do julgamento do mensalão. Queria pedir a todos que convergíssemos as nossas esperanças e energias para que o Supremo Tribunal Federal (STF) tenha luz e realmente puna todos aqueles que praticaram essa violência contra a democracia, instalando uma máfia dentro do Palácio do Planalto", afirmou.

Em seguida, todos os participantes do debate responderam a perguntas feitas por cidadãos. Rodrigo Maia (DEM), que foi questionado sobre o problema do trânsito na cidade, mudou o foco do início de sua resposta para alfinetar o rival do PMDB, que anteriormente havia sido contestado a respeito da atuação dos camelôs na capital fluminense.

"De fato, os camelôs nos últimos anos foram perseguidos e não reassentados", disse ele ao comentar a resposta dada pelo adversário.

As questões relacionadas ao trânsito e às políticas de transporte público foram os principais pontos do segundo bloco. Freixo escolheu Paes para que ele respondesse sobre um suposto "silêncio" do governo municipal a respeito da expansão do metrô na cidade, e questionou as razões pelas quais o atual prefeito teria privilegiado o modelo rodoviário.

Ao observar que o rival optou por não se aprofundar no assunto, que se defendeu mencionando o projeto do BRT (Bus Rapid Transit), Freixo partiu para o ataque:

"Pelo visto o silêncio em relação ao metrô vai continuar. Esse sim é transporte de massa. Ônibus não é transporte de massa nem no Rio nem em qualquer lugar do mundo. Você sabe disso, vocês viajam muito no PMDB. Se você for para Paris ou Londres, lugares que são muito frequentados por lideranças política do Rio [citando o governador do Estado, Sérgio Cabral, que foi fotografado jantando na capital francesa com o empreiteiro Fernando Cavendish], vai perceber que o metrô funciona", disse.

"Eu quero dizer que a licitação que você fez em 2010 para os ônibus, a que indicou o BRT, [sistema no qual] vocês anunciam que vai carregar 30 mil por hora, sendo que o BRT [cada ônibus] tem 160 vagas. Ou seja, só se passar um BRT a cada 20 segundos. Então não é verdade o que vocês dizem. Na licitação de 2010, o Tribunal de Contas do Município viu indícios fortíssimos de formação de cartel. É isso que tem por trás do seu grande apoio a Fetranspor", completou Freixo.

De acordo com o candidato do PSOL, o relatório do TCM mostra que os endereços dos quatro consórcios que venceram a licitação feita pela prefeitura em 2010 --a que distribui a gestão do sistema de ônibus em quatro regiões diferentes da cidade-- são iguais. Além disso, todas teriam dado início ao cadastramento de pessoa jurídica (CNPJ) no mesmo dia, aberto contas bancárias na mesma instituição financeira e na mesma data.

"Não sou eu. Quem diz isso é o Tribunal de Contas do Município", finalizou Freixo.

O candidato do PSOL seguiu com o discurso crítico no decorrer dos blocos seguintes e citou uma suposta reunião do chefe do governo municipal e candidato à reeleição "com uma série de pessoas indiciadas na CPI das Milícias, sendo que alguns estão presos hoje".

Em sua resposta, Paes não fez qualquer citação a milícias e disse que "o prefeito não é comentarista do que se faz na cidade", referindo-se às obras feitas pelo governo do Estado para levar o metrô até a Barra da Tijuca, na zona oeste (projeto da linha 4).

Educação

Assim como no bloco anterior, o terceiro foi marcado pelo confronto de ideias entre os candidatos Eduardo Paes e Marcelo Freixo. O tema, porém, foi outro: a rede municipal de ensino. O representante do PSOL, que é professor de História, questionou o atual prefeito sobre o baixo índice do número de escolas que possuem acesso à internet.

De acordo com Freixo, que mais uma vez citou um relatório do Tribunal de Contas do Município, 84% das escolas municipais têm laboratórios de informática, porém apenas 12% têm acesso à internet. "Os problemas constatados em 2008 são os mesmos que ocorrem agora. Quanto você gastou para comprar computadores? Não é muito marketing?", questionou Freixo.

Na réplica, Paes respondeu que o Rio possui "o quinto ou sexto melhor Ideb [Índice de Desenvolvimento da Educação Básica]" do país e afirmou que "tinha orgulho" da atual situação da rede municipal de ensino.

Ele também elogiou o trabalho da secretária municipal de Educação, a paulista Cláudia Costin. Antes disso, Paes tinha sido criticado por Rodrigo Maia por ter escolhido alguém natural de outro Estado para conduzir a pasta. O candidato do PMDB mencionou ainda o fim da aprovação automática como uma das principais vitórias de sua gestão.

Freixo rebateu a defesa de Paes argumentando que o Ideb do Rio era o pior entre os municípios das regiões Sudeste, Sul e Centro-Oeste, e que estava à frente apenas das cidades do Norte e do Nordeste. "Isso não deveria te orgulhar. (...) Eu fico imaginando a reação dos professores ao ouvir isso. Você até hoje não conseguiu fazer um plano de cargos e salários", afirmou.

"O município paga R$ 1.100 a um professor que está entrando na rede municipal de ensino. Desde quando isso é digno? Os professores não tem identidade. Houve perdas na qualidade de ensino. Aprenda a ouvir os professores", completou o candidato do PSOL.

O atual prefeito do Rio utilizou a sua tréplica para reafirmar a sua confiança na capacidade da rede municipal de educação. Segundo ele, a nova pesquisa do Ideb, que será divulgada em breve, mostrará que o sistema de ensino evoluiu durante a sua gestão.

"Certamente essa rede de ensino que o Marcelo Freixo está falando é uma outra rede. Eu tenho muito orgulho da rede municipal de ensino do Rio, que hoje é a maior do país. O fim da aprovação automática foi uma grande revolução", argumentou.

Fogo cruzado

Paes também foi alvo de críticas e alfinetadas do candidato Rodrigo Maia, que se uniu a Freixo no sentido de expor os temas nos quais os candidatos de oposição acreditam que a atual gestão falhou. Em um dos blocos, o representante do DEM --ciente de que o adversário não hesitaria em criticar-- pediu a opinião de Freixo sobre os gastos do governo municipal com campanhas de publicidade.

O mesmo recurso foi utilizado por Maia em outros momentos do debate. O tema referente a milícias, por exemplo, foi introduzido no debate a partir de uma pergunta do filho de César Maia para Marcelo Freixo, que chegou a agradecer pelo questionamento. Paes, por sua vez, não abriu mão em momento algum de sua estratégica: enaltecer os pontos nos quais ele acredita que sua gestão foi vitoriosa. 

Já os candidatos Otávio Leite (PSDB) e Aspásia Camargo (PV) tentaram ganhar visibilidade no debate fugindo do fogo cruzado entre o atual prefeito e os candidatos do DEM e do PSOL para discutir propostas como acessibilidade (principal bandeira de Leite) e sustentabilidade (carro-chefe da plataforma de Aspásia).

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