Erundina vai suprir ausência de Marta na campanha de Haddad, dizem analistas

Janaina Garcia

Do UOL, em São Paulo

A escolha da deputada federal Luiza Erundina (PSB) para vice de Fernando Haddad (PT) à Prefeitura de São Paulo deverá suprir boa parte da ausência da senadora Marta Suplicy na campanha petista, além de ajudar o PT a consolidar a aliança nacional com os socialistas.

A avaliação é de analistas políticos consultados pelo UOL nesta quinta-feira (14), véspera de PSB e PT anunciarem o acordo selado e a chapa que disputará o pleito municipal. Para eles, o fato de tanto Marta quanto Erundina serem ex-prefeitas e conhecidas de eleitores da periferia paulistana pode ajudar Haddad a atingir as camadas que ainda não o conhecem.

 

Preterida pela direção do partido à disputa em São Paulo, Marta tem resistido a comparecer a eventos ao lado de Haddad. Esta semana, em entrevista à rádio Bandeirantes, o pré-candidato minimizou a situação e disse que a senadora participará da campanha eleitoral “no tempo certo”, mas que é necessário o partido "dar tempo ao tempo".

“O nome da Erundina foi sugerido pelo próprio [presidente nacional do PSB] Eduardo Campos; é um perfil que agrega respeitabilidade e que tem uma longa tradição na periferia, o que a aproxima da Marta. De certa forma, isso compensa ao menos em parte a ausência da senadora”, avaliou o cientista político Valeriano Costa, da Unicamp.

Para o analista, contudo, a senadora não deverá se isolar por muito tempo. “Dificilmente ela se isolará muito ou perderá contato. O que pode acontecer é Marta valorizar sua participação, ainda que o ‘cabo eleitoral’ de fato poderoso do Haddad seja o Lula”, completou Costa.

Fortalecimento da aliança PT-PSB

O cientista político Cláudio Couto, da FGV (Fundação Getúlio Vargas), avaliou que o nome de Erundina na chapa de Haddad não apenas ‘apresenta’ o candidato a setores do eleitorado aos quais ele não é popular, como também ajuda a consolidar, em nível nacional, a aliança PT/PSB --aliança abalada em cidades como Recife e Belo Horizonte, por exemplo, e rompida em Fortaleza.

“Consta que o presidente nacional do PSB a indicou, o que revela o quanto essa parceria em São Paulo é importante para consolidar a aliança em nível nacional. E o PSB poderá a contrapartida em outros lugares, mas aí é uma construção de mais longo prazo --sobretudo no Nordeste”, definiu Couto, que ressalvou: “Mas não é uma parceria que não fosse esperada: a novidade seria se o PSB decidisse não apoiar o PT”.

Sobre a deputada substituir Marta nesse início de campanha, o analista ponderou que, “com Erundina, essa penetração de Haddad nas periferias de São Paulo, de certa forma, de faz”. “Mas não resolve por completo, até porque, a ajuda do vice ajuda e simbolicamente é importante para a campanha --mas simbolicamente”.

A reunião que deve selar a coligação e a chapa acontece nesta sexta-feira, em São Paulo, no hotel Pestana (Paraíso). O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva cancelou participação no encontro, nesta quinta, em função de ter recebido alta do hospital Sírio Libanês, onde foi internado na quarta (13) à tarde para a retirada de um catéter, apenas no final da tarde.

Além do presidente nacional do PT, Rui Falcão, estarão presentes o governador de Pernambuco e presidente nacional do PSB, Eduardo Campos, e seu vice na executiva, Roberto Amaral.

Opção por Erundina

O candidato petista aprovou a indicação de Erundina, que foi prefeita da capital pela sigla entre 1989 e 1992. Em entrevista ontem à rádio Bandeirantes, esta semana, Haddad disse que, "mesmo tendo saído do PT, ela [Erundina] tem muito respeito da militância petista".

Paraibana, Erundina administrou São Paulo de 1989 a 1992 quando ainda era filiada ao PT. Isolada e desgastada após se desentender com lideranças do partido e aceitar o posto de ministra da Secretaria da Administração Federal no governo Itamar Franco --ao qual o PT se opunha --, Erundina migrou para o PSB por influência de Miguel Arraes (1916-2005), ex-governador de Pernambuco.

Nesta quinta (14), Campos disse durante evento da Rio+20 --a conferência da ONU sobre desenvolvimento sustentável, no Rio de Janeiro --que ´"só falta o 'sim' de Erundina" para ela ser apresentada com opção à coligação com o PT.

"Ela tem de dizer o 'sim'. Não posso chegar e constranger Luiza. Não faria isso nunca, pela carinho que tenho por ela, pelo respeito", disse o mandatário do PSB.

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