Após a ameaça do PSB de romper a aliança com o PT e lançar candidato próprio nas eleições municipais de Recife, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva interveio na disputa, marcou uma conversa com o governador de Pernambuco e presidente nacional da sigla, Eduardo Campos, e se comprometeu a fazer campanha para o candidato definido pelos petistas, o senador Humberto Costa. A decisão foi tomada em reunião nesta terça-feira (12), em São Paulo, entre Lula, o presidente nacional do PT, o deputado estadual Rui Falcão, e o senador.

Enquanto o encontro era realizado na capital paulista, o governador afirmou em entrevista coletiva na capital pernambucana que vai ouvir as lideranças políticas do Estado antes de definir os rumos do PSB na sucessão à Prefeitura de Recife, cidade que o PT comanda há 12 anos. “O PSB não vai decidir sozinho, vai decidir ouvindo o conjunto. É assim que a Frente Popular se montou”, disse.

O impasse para definição do candidato do PT em Recife já dura quatro meses. O atual prefeito, João da Costa (PT), venceu Maurício Rands, ex-secretário de Campos, nas prévias. O resultado foi contestado, a Executiva Nacional do PT cancelou a disputa e remarcou as prévias.

Rands desistiu e deixou João da Costa sozinho na disputa. A Executiva interveio mais uma vez, barrou a possibilidade de reeleição do prefeito e impôs o nome de Humberto Costa. Logo após a decisão da sigla, João da Costa foi recebido com festa no aeroporto por manifestantes favoráveis à sua candidatura, que criticaram Lula e o PT. João da Costa recorreu ao Diretório Nacional do PT para tentar reverter a decisão da Executiva. O recurso pode ser avaliado nesta quarta-feira (13). Outdoors com críticas ao PT e apoio a João da Costa foram espalhados pelas ruas do Recife.

"Essa situação vivida pelo Partido dos Trabalhadores tira suas condições de liderar o processo de unificação da Frente Popular. E não é só liderar nas eleições, mas liderar no governo", disse Eduardo Campos, que admitiu que o partido analisa quatro nomes para o pleito municipal.

Hoje, Lula se reuniu em São Paulo com Costa, candidato não definido em prévias, e com Rui Falcão, presidente do partido, para discutir a aliança com o PSB na capital pernambucana. Na próxima sexta-feira (15), segundo a assessoria de Campos, o governador estará em São Paulo para conversar com o ex-presidente –conversa da qual deverão render não apenas a oficialização do apoio a Fernando Haddad, em São Paulo, como a apresentação ou não de um nome do PSB em Recife. O PT e o PSB negam.

A indicação de Humberto Costa faria parte de uma costura política para que o PSB apoiasse a candidatura de Haddad à prefeitura paulistana.

Costa nega renúncia

Em entrevista ao UOL, o senador disse não acreditar que o PSB lance candidatura própria e, com isso, deixe a parceria com os petistas. Segundo Costa, a conversa com Lula foi decisiva para afastar qualquer possibilidade de renúncia à pré-candidatura. “É absolutamente ao contrário [à renúncia].”.

“A conversa com o Lula foi muito boa, foi excepcional. Ele não apenas reafirmou o apoio de ajudar na unidade dentro e fora do partido, como ainda se comprometeu a gravar para os programas de rádio, televisão e fazer comícios assim que for liberado [pelos médicos] para isso”, disse Costa.

Indagado se o pano de fundo das conversas é também o apoio do PSB a Haddad, Costa rejeitou a hipótese: “Uma coisa não depende da outra”, concluiu.

“O PT está em uma encruzilhada”

Para o presidente da executiva do PT em Recife, Oscar Paes Barreto, a sinalização de Campos em lançar um nome pelo PSB é “reflexo da guerra civil dentro do partido”.

“O governador apenas aproveitou uma situação política criada pela imposição de um nome, feita por uma ala do PT paulista, e agora aguardamos que isso reflita na reunião desta quinta da executiva nacional”, afirmou Barreto. “O PT está em uma encruzilhada grande na eleição do Recife”, classificou.