Por Haddad, PT tira prefeito da disputa no Recife; Humberto Costa será o candidato

Maria Denise Galvani

Do UOL, em São Paulo

A Executiva Nacional do PT decidiu na noite desta terça-feira (5), em São Paulo, que o prefeito de Recife, João da Costa (PT), não poderá tentar a reeleição em outubro deste ano. A cúpula do partido interveio pela segunda vez em menos de um mês na disputa local e determinou  que o candidato à sucessão de João da Costa será o senador Humberto Costa.

Segundo informações de bastidores divulgadas nos últimos dias, a imposição do nome senador tem relação com a possível aliança entre o PT e o PSB em São Paulo. Para apoiar o ex-ministro da Educação Fernando Haddad na capital paulista, o governador de Pernambuco e presidente do PSB, Eduardo Campos, teria vetado a candidatura de João da Costa.

A decisão teve 12 votos favoráveis ao senador, cinco abstenções e nenhum voto favorável a João da Costa, que deixou a reunião da Executiva Nacional do PT no meio da tarde, antes que o resultado fosse anunciado, e antecipou à imprensa a decisão favorável a Humberto Costa.

Tanto o senador Humberto Costa quanto Rui Falcão, deputado estadual em São Paulo e presidente nacional do PT, deixaram a reunião sem falar com jornalistas. O partido confirmou que os dois se pronunciarão em entrevista coletiva marcada para a tarde da quarta-feira (6), que será concedida no diretório estadual do PT em São Paulo, mesmo local em que foi realizada a reunião que decidiu a candidatura em Recife.

No último dia 20 de maio, o prefeito venceu, a prévia interna do partido por uma diferença de 553 votos, mas foi acusado de fraudar a votação pelo adversário na disputa, o deputado licenciado  Maurício Rands. Ao todo, João da Costa recebeu 7.503 votos (51,9%) contra 6.950 (48,1%), de Rands.

A prévia foi então cancelada e uma nova eleição interna foi marcada para o dia 3 deste mês. Rands desistiu --para apoiar o senador Humberto Costa--, a prévia não ocorreu e a decisão final ficou por conta da Executiva Nacional da sigla. 

Ao deixar o encontro em São Paulo, João da Costa disse que foi procurado pelo presidente nacional da legenda, Rui Falcão, dez minutos antes do começo do encontro, e foi informado de que o partido já havia decido pela candidatura de Humberto Costa. "Diante disso, achamos que não faria sentido continuar na reunião", afirmou.

Segundo o prefeito, a justificativa da Executiva Nacional do PT é que sua candidatura não seria competitiva, apesar de "seu nome ter crescido nas últimas pesquisas".

"Estamos tristes e indignados de saber que uma decisão da base do partido foi cancelada. É uma decisão diferente, inusitada na história do Brasil e do PT. Aceitamos até uma nova prévia, me submeti a todas as instâncias do partido e a direção nacional resolve intervir", disse.

Ao término da reunião da Executiva Nacional, Elói Pietá, secretário-geral do PT, negou que a decisão estava tomada antes do início da votação, como sugeriu João da Costa ao deixar o local.

"Rui Falcão [presidente nacional do PT e condutor da reunião], fez uma colocação de qual seria a tendência da reunião, segundo seu sentimento de presidente", explicou Pietá. "Foi mais um processo de consideração e respeito ao nosso prefeito".

Na nota oficial divulgada na noite desta terça-feira (5), a Executiva Nacional informou a decisão de "indicar ao conjunto do Partido no Recife e aos partidos da Frente Popular o companheiro Senador Humberto Costa como a pré-candidatura que reúne as melhores condições para liderar nossa campanha pela continuidade e aprofundamento das conquistas democráticas e populares acumuladas na Administração do Recife nos últimos doze anos".

O comunicado do partido justificou a decisão com o argumento de que o  "processo político no Recife por eles [os pré-candidatos João da Costa e Maurício Rands, que se enfrentaram nas prévias] conduzido se esgotou, e de que um terceiro nome para encabeçar nossa chapa é um imperativo para a vitória".

O atual prefeito de Recife afirmou que vai avaliar se apoia Humberto Costa na sucessão à Prefeitura de Recife. "Depois de dois meses falando que o governo ia mal e o prefeito era pior ainda, nem sei se vão querer meu apoio. Pode até dar prejuízo", afirmou. O atual prefeito promete recorrer para reverter a decisão.

Ao todo, são 21 membros na Executiva Nacional e 17 estavam presentes na reunião.

Humberto Costa foi ministro da Saúde, entre 2003 e 2005, no governo Luiz Inácio Lula da Silva. Também foi secretário das Cidades do governo de Eduardo Campos, de 2007 a 2010.

Ele foi eleito senador, em 2010, e hoje ocupa a presidência do Conselho de Ética do Senado, que irá decidir sobre a cassação do senador Demóstenes Torres (sem partido-GO), investigado por conta de sua relação com o bicheiro Carlinhos Cachoeira.

São Paulo

Nesta terça-feira, no mesmo momento em que João da Costa era tirado da disputa, o PSB anunciou que estava de saída da gestão do governo Geraldo Alckmin (PSDB).

O presidente do Diretório Municipal do PSB em São Paulo, o vereador Eliseu Gabriel, afirmou que a indicação de Humberto Costa em Recife facilita o apoio do PSB à candidatura de Haddad (PT), em São Paulo.

“Isso aproxima mais o PSB de um apoio ao PT. Não é que estávamos dependendo disso, mas é algo que alivia a tensão num lugar importante como Recife”, afirma Eliseu.

“Não existe relação de causa e efeito, mas é claro que isso tudo entra nessa decisão, que é extremamente sofisticada e demorada”, diz o vereador. O PSB deverá definir seu apoio na capital paulista até o dia 30 de junho, data da convenção municipal do partido.

O deputado federal Fernando Ferro (PT-PE), um dos coordenadores da campanha de João Costa, disse que o PT não discutiu o apoio do PSB no Recife ou em qualquer outra cidade. "O governador [Eduardo Campos] me disse pessoalmente que o PSB apoiaria qualquer candidato do PT [no Recife]. Ele não quer se meter nisso", afirmou.

Impasse

Os petistas se reuniram na sede nacional do partido, no Centro de São Paulo, para dar fim ao impasse sobre a candidatura no Recife. O impasse para definição do candidato do partido na capital pernambucana acontece desde março, quando Maurício Rands deixou o governo de Eduardo Campos e se colocou como pré-candidato.

O ex-presidente Lula estaria pressionando o partido para que indicasse o senador Humberto Costa. A indicação lhe renderia uma aliança do PT com o PSB, em São Paulo, e alavancaria candidatura de Fernando Haddad. 

O nome de Humberto Costa já teria o aval de Lula e o governador de Pernambuco.

Leia íntegra da nota divulgada pela Executiva Nacional do PT

"Comissão Executiva Nacional - Resolução sobre Recife

Em reunião realizada hoje, 5 de junho de 2012 em São Paulo, a Comissão Executiva Nacional do PT, debatendo a questão da pré-candidatura na cidade do Recife/PE, resolve:

1. Reafirmar a anulação da prévia do dia 20 de maio em virtude de irregularidades cometidas e por ter sido realizada em desacordo com as orientações do Diretório Nacional.

2. Formalizar o cancelamento da prévia convocada para o dia 3 de junho por terem sido frustradas as tentativas de, nesta nova oportunidade, produzir a necessária unidade partidária para disputar e vencer as eleições no Recife.

3. Emitir publicamente sua opinião política, já externada em sucessivas reuniões aos companheiros João da Costa e Maurício Rands, de que o processo político no Recife por eles conduzido se esgotou, e de que um terceiro nome para encabeçar nossa chapa é um imperativo para a vitória.

4. Indicar ao conjunto do Partido no Recife e aos partidos da Frente Popular o companheiro Senador Humberto Costa como a pré-candidatura que reúne as melhores condições para liderar nossa campanha pela continuidade e aprofundamento das conquistas democráticas e populares acumuladas na Administração do Recife nos últimos doze anos.

5. Responsabilizar o Diretório Municipal do Recife para, em conjunto com o Diretório Regional, conduzir o processo eleitoral na cidade."

 

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