Desgastada, aliança entre PT e PSB em Fortaleza está perto do fim

Kamila Fernandes

Do UOL, em Fortaleza

Um telefonema não atendido pode ser a causa do fim da aliança PT-PSB no Ceará. A relação, que nunca foi tranquila, está prestes a romper após a prefeita de Fortaleza, Luizianne Lins (PT), reclamar que o governador Cid Gomes  (PSB) não precisava ter conversado com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em São Paulo, antes de falar com ela, que é presidente do PT do Ceará.

Luizianne afirma que chegou a fazer inúmeras ligações para Cid, mas que ele nunca a atendeu, “nem para dar uma desculpa”.

O encontro de Cid com Lula aconteceu na semana passada e foi justamente para tratar da sucessão em Fortaleza.

O que levou a prefeita a uma reação imediata. “Manter aliança não é só falar da boca para fora. Precisa de ação concreta”, disse. “Acho que há pessoas trabalhando para desgastar pessoalmente a minha imagem, porque devem ter medo de 2014 (quando haverá a eleição para a sucessão de Cid).”

O governador também não se calou. Afirmou  não ter tomado conhecimento das tentativas da prefeita de falar com ele e disse que “não deve mais nada” a Luizianne.

“O que estiver ao meu alcance para preservar a aliança do PSB com o PT, eu vou fazer. Agora, isso não quer dizer que a gente tenha que aceitar imposições”, afirmou.

Disputa interna

O PT promove uma disputa interna pela candidatura a prefeito de Fortaleza, mas sem prévias. O processo começou com 13 pré-candidaturas de petistas, e agora quatro estão no páreo.

Desde o começo, o governador não escondeu sua predileção, o atual secretário de Cidades do Estado, Camilo Santana (PT). Nome, porém, de pouca expressão no PT de Fortaleza e que não conta com a simpatia de Luizianne.

Ela tenta emplacar uma pessoa de seu grupo mais direto, o atual secretário da Educação do município, Elmano Freitas, que nunca disputou uma eleição.

Os outros dois nomes que ainda estão na disputa são o deputado federal Artur  Bruno e o vereador Guilherme Sampaio.

O processo de escolha petista pode ser encerrado no próximo domingo, com a eleição do candidato por delegados eleitos pela militância.

A própria Luizianne, porém, já afirmou que os delegados podem simplesmente abrir mão da prerrogativa da escolha para deixar a tarefa para a cúpula do partido.

Essa seria uma estratégia para inserir na disputa outro nome bastante rejeitado por Cid, mas que conta com uma grande representatividade nacional, o senador José Pimentel, que já foi ministro da Previdência do Governo Lula.

Um dos motivos para Cid não aceitar Pimentel é que o seu primeiro suplente no Senado é Sérgio Novais, principal opositor da família Ferreira Gomes no PSB, mais ligado ao governador e presidente nacional do partido, Eduardo Campos (PE).

Voo solo

Em caso de rompimento, o PSB fala em candidatura própria.

O nome mais citado é o do presidente da Assembleia Legislativa, Roberto Cláudio. Contudo, há uma grande chance de o partido seguir para uma coligação com outro partido governista, o PCdoB do senador Inácio Arruda.

Inácio já conseguiu as bênçãos da presidente Dilma Rousseff para lançar sua candidatura mesmo contra o PT na capital cearense e é, de acordo com a única pesquisa de divulgada até aqui, quem possui o maior índice de intenções de voto.

Oposição

Na oposição, também sobram incertezas. Já estão confirmadas as pré-candidaturas de Heitor Férrer (PDT) e de Renato Roseno (PSOL). O PSDB ainda articula uma possível aliança, mas cogita lançar Marcos Cals mesmo se não tiver outros apoios.

Já o DEM espera o retorno à capital do ex-deputado Moroni Torgan, que está há pelo menos três anos em Portugal, cumprindo uma missão religiosa.
A volta dele é aguardada para o início de junho, quando o partido decidirá o que fazer. Outro possível opositor a se lançar é o empresário Alexandre Pereira (PPS).

História de tensão

A aliança entre Luizianne e Cid começou em 2006.

Na eleição em que a petista foi eleita, o grupo de Cid e Ciro Gomes, ainda no PPS, apoiou outra candidatura governista, justamente de Inácio Arruda, que tinha a predileção inclusive da cúpula do PT nacional.

Mesmo com uma oposição do próprio partido e de figuras como o então todo poderoso ministro da Casa Civil, José Dirceu, Luizianne insistiu em ser candidata, apenas com o apoio do PSB, ainda um pequeno partido no Ceará, e surpreendeu ao vencer.

Na disputa de 2006, o PT, Lula e Luizianne foram um apoio importante para Cid. Até então pouco conhecido do eleitorado – tinha sido deputado estadual e prefeito de Sobral – Cid venceu o então governador Lúcio Alcântara (PSDB) ainda no primeiro turno.

Tal participação foi levada em conta na eleição seguinte, para a reeleição de Luizianne.

Com uma gestão bastante criticada pela grande quantidade de obras inconclusas ou não iniciadas, a prefeita conseguiu se reeleger no primeiro turno com o apoio do governador, que teve até de romper com seu irmão Ciro Gomes, que apoiou a ex-mulher, Patrícia Saboya (PDT). 

Na reeleição de Cid, novamente o apoio foi garantido, mas só em cima da hora, após muita resistência do governador em apoiar a candidatura de José Pimentel (PT) ao Senado.

Para receber o apoio de Luizianne, Cid teve de romper com outro aliado histórico, o ex-governador e ex-senador Tasso Jereissati (PSDB), derrotado pela primeira vez em sua trajetória política – além de Pimentel, o outro senador eleito também teve o apoio de Cid e Luizianne, Eunício Oliveira (PMDB).

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