Eleição em Curitiba opõe "dinastias" familiares que dominam a política no Paraná

Rafael Moro Martins

Do UOL, em Curitiba

  • Arte/UOL

O eleitor curitibano terá de escolher, em outubro, candidatos a prefeito relativamente jovens, mas herdeiros de sobrenomes tradicionais da política ou economia local.

“Há cerca de 50 famílias que monopolizam o poder ao longo de gerações no Paraná, formando dinastias políticas”, afirma Ricardo Costa Oliveira, professor-associado de Sociologia Política da UFPR (Universidade Federal do Paraná).

“As relações entre parentesco e poder político são um traço estrutural da política brasileira, e no Paraná não é diferente.”

Primeiro colocado nas pesquisas, Gustavo Fruet (PDT), 49, é filho do ex-prefeito (1982/1985) e ex-deputado federal Maurício Fruet.

A vereadora Renata Bueno (PPS), 32, é filha do líder do PPS na Câmara Federal, Rubens Bueno – ele próprio já concorreu a prefeitura, sem sucesso, em 2004.

Grande surpresa das pesquisas realizadas até agora –é o segundo colocado na preferência dos eleitores–, o deputado federal Carlos Roberto Massa Junior, o Ratinho Jr. (PSC), 31, é filho do apresentador do SBT, cuja popularidade ajudou-o a se lançar na política.

Provável candidato do PMDB, o ex-ministro do Turismo Rafael Greca, 56, já foi prefeito entre 1993 e 1996.

Os quatro são, segundo as pesquisas, os principais adversários do prefeito Luciano Ducci (PSB), 57, representante de um grupo político que se mantém no comando da cidade desde a eleição de Jaime Lerner, em 1988.

Regra

Para Oliveira, mesmo Ducci e Greca não fogem a essa regra. “Ducci é casado com Marry Dal Prá, sobrinha do deputado Dionísio Dal Prá, político tradicional da região noroeste do Estado, que foi da Arena e depois deputado federal constituinte pelo antigo PFL. E Greca é filho da família Macedo, uma das mais atuantes na política paranaense”, afirma o professor.

No vocabulário sociológico, todos são praticantes de nepotismo, argumenta ele. “É diferente da definição jurídica de nepotismo. Mas isso demonstra que a família ainda é um dos elementos estruturadores do campo político, pois dominam partidos políticos”, diz.

Oliveira é autor de dois livros que analisam as famílias que dominam a política paranaense – “O Silêncio dos Vencedores”, atualmente esgotado, e “Na Teia do Nepotismo”, com lançamento previsto para os próximos meses.

Professor-adjunto de Ciência Política na UFPR, Adriano Codato credita a falta de renovação nos sobrenomes que comandam a política paranaense a outros problemas.

“Uma campanha eleitoral no Brasil custa muito caro, o que dificulta o acesso a um cargo eletivo a quem não tem dinheiro ou acesso a fundos partidários. As candidaturas, de modo geral, são definidas por critérios personalistas – as exceções são os partidos de esquerda e centro-esquerda, que são fracos eleitoralmente no estado”, avalia Codato.

“Some-se a esse dois fatores o fato de que vivemos uma dificuldade de surgimento de novas lideranças políticas e partidárias. Assim, o resultado é que as novas gerações de políticos são formadas em grande parte por filhos de gente que já está na vida pública”, afirma o professor.

“Um filho de político, naturalmente, tem acesso mais fácil ao esquema de financiamento de campanhas e ao comando partidário. E aí forma-se uma rede aparentemente indestrutível que impede a renovação”, diz Codato.

Para ele, o quadro paranaense não é diferente do que se encontra no resto do País, já que as raízes da distorção são comuns a todo o Brasil. “Tome-se o caso de São Paulo, por exemplo, onde o PSDB praticamente criou uma dinastia partidária no governo do estado”, lembra o cientista político.

As personagens

“É fundamental separar a tradição de transferência de poder a qualquer custo do incentivo dos pais”, diz Gustavo Fruet ao UOL.

“Praticamente nasci em um comitê eleitoral. Mas é importante lembrar que nunca fui candidato junto com meu pai e que ele nunca me nomeou para qualquer cargo. Seguir os passos dos pais em uma profissão é bonito, mas usar o poder para influenciar nesta caminhada, não.”

Fruet começou a carreira como vereador, em Curitiba. O pai dele, Maurício Fruet, fez  carreira política no PMDB, partido pelo qual foi indicado prefeito de Curitiba em 1982.

Em 1998, Maurício morreu a pouco mais de um mês das eleições em que concorreria a um mandato como deputado federal.

Gustavo, então cumprindo o primeiro mandato como vereador em Curitiba, assumiu a campanha do pai, e foi eleito para um mandato na Câmara dos Deputados.

O deputado Ratinho Jr diz que a popularidade do pai o ajudou. “Obviamente, a popularidade de meu pai potencializou minha primeira eleição, pois eu não era conhecido. Votaram em mim pelo aval de meu pai”, diz . “Mas minha permanência na política se deve ao meu trabalho. Se eu não fizesse jus ao que meu pai avalizou, não teria ido adiante”, afirma.

Ratinho Jr. obteve o primeiro mandato em 2002, aos 21 anos – elegeu-se deputado estadual pelo PPS.

Quatro anos depois, conseguiu uma vaga na Câmara Federal. Em 2010, reelegeu-se, pelo PSC, com a maior votação do Paraná e a sexta maior do Brasil.

O pai dele, o apresentador Ratinho, já arriscou seus passos na política: elegeu-se deputado federal em 1991 pelo PRN, partido do então presidente Fernando Collor.

Atualmente, ele é dono da Rede Massa de Televisão, retransmissora do SBT no Estado.

Renata Bueno também diz que o pai tem influência na sua decisão de seguir na carreira política. “Acompanhei a vida pública de meu pai desde o início, e senti necessidade de passar à minha geração algo de bom na política. Antes de qualquer coisa, sou Rubens Bueno”, diz a vereadora. “Mas não se trata de uma dinastia, mas de criar garra para enfrentar o mundo político, que é muito corrupto”, diz.

Vereadora em primeiro mandato, ela deve ter a candidatura à prefeitura ratificada pela convenção do partido, em junho.

O PPS no Paraná é comandado, desde a fundação, pelo deputado federal Rubens Bueno, ex-prefeito de Campo Mourão (noroeste do Estado).

Renata é casada, desde o ano passado, com o também vereador Juliano Borghetti (PP), irmão da deputada federal Cida Borghetti (PP), que é mulher do ex-deputado federal e ex-prefeito de Maringá Ricardo Barros (que foi líder dos governos FHC e Lula na Câmara Federal).

Rafael Greca elegeu-se prefeito de Curitiba, pelo PDT, como sucessor de Jaime Lerner, em 1992. Hoje, está no PMDB, comandado no estado por Roberto Requião, adversário histórico de Lerner.

Sua candidatura enfrenta resistências entre boa parte dos peemedebistas, mas é defendida por Requião, atualmente senador, que comanda com mão de ferro o partido desde o final da década de 1980.

Luciano Ducci foi eleito vice-prefeito ao lado do atual governador Beto Richa (PSDB). Quando Richa deixou o cargo para concorrer ao Palácio Iguaçu, em 2010, Ducci herdou o cargo.

Reeleito para a prefeitura com 78% dos votos válidos, em 2008, Richa é o principal cabo eleitoral de Ducci, terceiro colocado nas pesquisas realizadas até agora.

Beto Richa é filho do ex-governador (1983/86) e ex-senador José Richa, um dos fundadores do PSDB. Ele tem um irmão, José Pepe Richa Filho, e a mulher, Fernanda Richa, no primeiro escalão do governo. O filho de Beto, Marcello Richa, é secretário municipal em Curitiba.

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