As opiniões do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e da presidente Dilma Rousseff sobre o impasse na resolução das prévias do PT do Recife devem influenciar a decisão da Executiva Nacional do partido, dizem cientistas políticos ouvidos pelo UOL.

A Executiva Nacional do PT anunciou nesta-segunda-feira (21) que o resultado das prévias do partido no Recife será reapurado. Até lá, a vitória anunciada do atual prefeito João da Costa sobre o deputado federal licenciado Maurício Rands, com 51,9% dos votos, está suspensa.

"Seria razoavelmente natural que as lideranças nacionais tivessem dado algum apoio ao atual gestor, como aconteceu em eleições passadas. Também isso contribuiu para o isolamento de João da Costa", afirma o cientista político Túlio Velho Barreto, pesquisador da Fundação Joaquim Nabuco.

"A candidatura do PT no Recife vai criar capital político do governo para as eleições nacionais de 2014. Faz sentido que, com o impasse, o PT do Recife busque a opinião deles", diz Barreto.

Para o cientista político Adriano Oliveira, professor da Universidade Federal de Pernambuco, a tendência é o partido se acomodar nas próximas semanas em torno de um nome. "Quando Lula e o governador Eduardo Campos se manifestarem, deve haver uma acomodação", afirma. "O PT sai enfraquecido se o racha persistir, mas não acredito nessa possibilidade."

Desgaste

Qualquer que seja a decisão da Executiva Nacional do PT a respeito da contestação das prévias no Recife, o partido sai desgastado, de acordo com Barreto. "Parece que o PT está fazendo um esforço para perder as eleições, como aconteceu em Porto Alegre em 2004."

"O problema foi a maneira como as prévias foram conduzidas no partido. Foi uma campanha pouco civilizada, houve muita agressão de parte a parte", disse o cientista.

Já para Adriano Oliveira, o racha interno que opõe os dois pré-candidatos do PT à Prefeitura do Recife tende a beneficiar o atual prefeito João da Costa.

"Não acho que a situação neste momento fragiliza João da Costa ou o PT nas eleições de outubro. Pelo contrário, a população encara João da Costa como vítima. Esse é o discurso que ele está fazendo", afirma Oliveira.

Caminhos possíveis

Barreto aponta três caminhos possíveis a serem seguidos. "Ou o PT reconhece a vitória de João da Costa, ou convoca novas prévias. Pode ainda intervir no processo, sugerindo um terceiro nome para ser aprovado na convenção, por exemplo", afirma.

"A única coisa que o PT Nacional não pode fazer, no meu entendimento, é impôr a vitória de Rands. Isso racharia o PT de forma irreversível", diz Barreto.

Uma comissão do PT nacional analisa atualmente a lista de militantes considerados aptos a votar nas prévias. O grupo que apoia Rands acusa Costa de "judicializar" as prévias do partido; uma liminar concedida pela Justiça no dia da votação ampliou em 12 mil o número de filiados originalmente autorizados a votar pela Executiva Nacional do partido.

"Votaram pessoas que não cumpriam a exigência do tempo de filiação no partido, que não estavam quites com as obrigações de anuidade e mensalidades. A iniciativa de ir à Justiça na calada da noite representou uma violência ao processo democrático eleitoral do PT", declarou Maurício Rands em entrevista coletiva na noite de domingo (20), depois de anunciada sua derrota nas prévias.

Em entrevista à Rádio Jornal, Rands acusou ainda o grupo de Costa de outras fraudes."Os eleitores de João da Costa chegaram em kombis, estranhamente com os vidros escurecidos, e há informações dos próprios eleitores de distribuição de vantagens indevidas."

À Radio Jornal, João da Costa defendeu a legitimidade das prévias do último domingo (20). "Quem venceu essas prévias foram os filiados do PT. Todos que participaram dessas prévias devem ser respeitados na sua vontade política, e essa foi a vontade política da maioria."

Repercussão

Procurado pelo UOL, o secretário nacional de organização do PT, Paulo Frateschi, não quis comentar o processo de reapuração "para não complicar a situação, que já está complicada."

Na Câmara Municipal do Recife, o vereador Múcio Magalhães (PT) disse que as circunstâncias que marcaram a prévia são "preocupantes". "São fatos que ultrajam a democracia do PT. Não tem um vencedor, não existe um candidato do PT a prefeito do Recife", disse Múcio à imprensa oficial da Câmara.

O governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), manteve a posição de não comentar a disputa interna no PT. Segundo sua assessoria, a postura é a mesma que durante a pré-campanha: esperar o entendimento entre os aliados. Nos bastidores, Costa é tido como um dos mentores da pré-candidatura de Maurício Rands pelo PT.