19/10/2010 - 03h14

Dilma ironiza "milagre" na gestão tucana durante encontro com personalidades no RJ

Daniel Milazzo
Especial para o UOL Eleições
No Rio de Janeiro

Dilma Rousseff (PT), candidata à presidência da República, participou na noite desta segunda-feira (18) de um encontro organizado com dezenas de artistas e intelectuais que manifestaram seu apoio à presidenciável petista, entre eles Oscar Niemeyer e Chico Buarque. A candidata evitou ataques diretos a seu adversário de campanha, José Serra (PSDB), mas não deixou de alfinetar a gestão Fernando Henrique Cardoso e o partido tucano.

“Nós recebemos o país de joelhos diante do Fundo Monetário Internacional [...] Nós não tínhamos dinheiro praticamente para nada. Porque tínhamos recebido também, misteriosamente, um país onde, depois de vender R$ 100 bilhões do patrimônio, a dívida tinha dobrado. O maior ‘milagre’ da gestão financeira dos tucanos”, ironizou Dilma.

A petista argumentou que pagar as dívidas junto ao Fundo Monetário Internacional (FMI) “foi condição para a altivez” do Brasil no cenário internacional e fator de garantia da soberania nacional. Para a ex-ministra da Casa Civil, o governo Lula quebrou o tabu de que crescimento não era possível com distribuição de renda.

“Nós não queremos ser os Estados Unidos da América do Sul, onde uma grande parte da população negra está na cadeia e uma parte da população branca pobre mora em trailer e não tem acesso às condições fundamentais de sobrevivência digna”, declarou a petista, antes de dizer que, para ser respeitado, o Brasil tem que zerar a própria miséria.

A presidenciável petista preferiu não tocar diretamente na polêmica do aborto, mas aproveitou para defender o caráter laico do Estado e cutucar o adversário. “Nós somos um país onde as mais diversas religiões [...] podem se encontrar na mesma escola e conviver. Tentar destilar o ódio religioso, a intolerância política ou qualquer preconceito não é característica de um país laico como o nosso. Nós não queremos um Estado apropriado por nenhuma crença, nenhuma religião”, pronunciou.

Nesta segunda-feira (18), o PT entrou com pedido junto ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para que seja feita uma investigação sobre a autoria de panfletos que acusam Dilma de ser a favor do aborto e incentivam eleitores a votarem contra nela. Segundo o deputado federal José Eduardo Cardozo (PT), uma das sócias da gráfica onde o material foi produzido é filiada ao PSDB. Os tucanos negam envolvimento no caso.

Dilma elogia Marina

Dilma não comentou a posição de Marina Silva e do Partido Verde em manter-se neutro neste segundo turno das eleições presidenciais. A petista chegou a citar Marina após citar dados a respeito da redução do desmatamento na Amazônia e no cerrado. “Nós temos que ter orgulho de todas as políticas de meio ambiente implantadas no Brasil, inclusive pela ministra Marina, pelo ministro [Carlos] Minc”. Minc também estava presente no encontro.

A candidata petista aproveitou o assunto para abordar a questão do pré-sal. “O petróleo extraído do pré-sal não é para sujar nossa matriz, porque nós temos uma matriz limpa. O petróleo que nós extrairmos do pré-sal é para exportar, é para garantir que haja riqueza suficiente no Brasil”, afirmou a candidata, que emendou outra crítica ao partido de seu adversário no segundo turno.

“Manter o modelo anterior [de concessão] é privatizar o petróleo: botar o pré-sal, que é a maior riqueza de petróleo descoberta nos últimos anos, de ‘mão beijada’ para empresas privadas internacionais, é por isso que a bancada do PSDB votou contra o modelo de partilha”, afirmou Dilma, defendendo o modelo de partilha, segundo o qual caberia à União gerir e distribuir os dividendos da exploração do petróleo.

Semanas para entender aquele ‘você’

Logo no início de seu discurso, Dilma Rousseff recordou que escutou a música “Apesar de você”, de Chico Buarque, quando estava na prisão. “A gente não entendeu direito quem era ‘você’”, disse Dilma, arrancando risos da plateia e do próprio compositor. “Nós levamos alguns dias, algumas semanas, para perceber quem era esse ‘você’...”.

Em tempo. “Apesar de você amanhã há de ser outro dia” canta a letra de Chico, faz referência à ditadura militar que estava em vigor no Brasil.

Sites relacionados

Siga UOL Eleições

Hospedagem: UOL Host