03/10/2010 - 18h05

Votos em Lula e contra o PT aproximam os extremos de São Paulo

Mauricio Stycer
UOL Eleições
Em São Paulo

Não é apenas a distância de 40 quilômetros que separa a Escola Estadual Dona Prisciliana Duarte de Almeida, em Parelheiros, do clube Paulistano, nos Jardins. De um lado está um dos bairros mais pobres e periféricos de São Paulo; de outro, uma das regiões mais ricas e nobres da cidade.

Politicamente, estes extremos se expressam de forma radicalmente oposta. A título de ilustração, no segundo turno das eleições municipais de 2008, Marta Suplicy (PT) obteve um dos seus melhores resultados – 77% dos votos – em Parelheiros. Já Gilberto Kassab, assegurou a impressionante marca de 84% dos votos no Jardim Paulista.

Pois nesta eleição presidencial, os extremos manifestaram intenções de voto muito semelhantes – não em Dilma Rousseff (PT), José Serra (PSDB), Marina Silva (PV) ou Plinio de Arruda Sampaio (PSOL), mas em Lula ou contra o PT.

Em Parelheiros

  • Monalisa Lins/UOL

    Para o deficiente visual Jodaias Oliveira, que vota em Parelheiros, "Dilma vai continuar o serviço que o Lula vem fazendo". Ele compareceu para votar com sua mulher, Carine dos Santos, e o filho

“Dilma vai continuar o serviço”

“Dilma é o seguimento de Lula”, disse o pedreiro Jovane José dos Anjos, em Parelheiros. “Pelo menos, emprego está tendo. Graças a Deus. Só não trabalha quem não quer”.

A reportagem do UOL Eleições ouviu muitas declarações de voto semelhantes no bairro. “Voto em Dilma porque ela é mulher e é do PT. O Lula não é o pai dos pobres, mas fez muita coisa por eles”, disse a empregada doméstica Hilda Sousa Bispo.

Segurando o filho Davi no colo, o gari Eduardo do Prado justificou o seu voto em Dilma: “Acho que o Lula fez um monte de coisa boa. Melhorou bastante pra mim”. Mesma justificativa da professora desempregada Carine dos Santos Santana: “Dilma vai continuar o serviço que o Lula está fazendo”. E do deficiente visual Jodaias Oliveira: “Acho que ela pode fazer algo melhor pelo povo”.

De dez eleitores ouvidos aleatoriamente pelo UOL em Parelheiros, sete declararam voto em Dilma, dois em Serra e um votou nulo. Curiosamente, os dois eleitores que votaram no tucano não falaram o seu nome.

“Voto 45”, disse o coordenador de abastecimento Pedro Ricardo. “Não suporto o PT. Tem muita falcatrua”, acrescentou. “Votei no 45”, contou o funcionário público Luiz Carlos Camargo. “A palavra de Deus condena certos costumes”, acrescentou, sem dar mais detalhes.

“Dilma de jeito nenhum”

Nos Jardins, o nome de Serra é falado abertamente, mas quase sempre em oposição ao Partido dos Trabalhadores ou à candidata petista. “Voto no Serra porque sou contra o PT e sou anti-Dilma”, disse Laís Dagli, “do lar”. “Serra tem um perfil definido e Dilma não tem história”, justificou o economista Antonio Lima.

Nos Jardins

  • Monalisa Lins/UOL

    "Dilma de jeito nenhum. Acho que nem sei quem ela é", diz a “cake designer” Andrea Schwarz, que vota nos Jardins, bairro nobre da capital paulista, e optou por José Serra (PSDB)

A ojeriza à petista é a resposta que está na ponta da língua de muitos eleitores que tentam justificar o voto em Serra: “Dilma de jeito nenhum. Acho que nem sei quem ela é”, disse Andrea Schwarz, que se apresenta como “cake designer”.

Até o voto em Marina Silva encontra justificativa semelhante nos Jardins: “Acho ela coerente. Não voto no PT e não gosto do Serra”, disse o assessor de eventos Ricardo Lobo. “É a única opção. A Dilma fala tudo em nome do Lula e não gosto do Serra”, reverberou o produtor Marcelo Sarto.

Dos dez eleitores ouvidos à porta do Paulistano, sete declararam voto em Serra, dois em Marina e um em Plínio.

O candidato socialista ganhou o voto do empresário Renato Falzoni, dono de uma produtora de vídeos. “Votei porque ele disse que vai legalizar a indústria da maconha. Acho que o meu vai ser o único voto nesta urna para o Plínio”, completou, rindo.

Na Vila Madalena

  • Monalisa Lins/UOL

    O gerente administrativo Carlos Toledo, morador da Vila Madalena, bairro boêmio de classe média alta, afirma que votará em Marina Silva (PV). "Não gosto do PT e acho que o Serra não fez um bom governo em São Paulo"

“Chega da lulismo”

A reportagem do UOL percorreu um terceiro ponto de votação neste domingo, na Vila Madalena, onde instalou-se o comitê de votação de Marina Silva. Um dos bairros boêmios de São Paulo, mostrou-se mais simpático ao candidato tucano. Dos dez eleitores abordados, seis declararam voto em Serra, três em Marina e um em Dilma. Na maioria dos casos, um voto de protesto.

“Não gosto do PT e acho que o Serra não fez um bom governo em São Paulo”, justificou o gerente administrativo Carlos Toledo ao votar em Marina. “Tanto o Serra quanto a Dilma representam continuísmo”, disse a advogada Mariana Acocella.

“Voto no Serra para a Dilma não ganhar”, disse a jornalista Stephanie Eli. “Não quero que a Dilma governe este país. Chega de lulismo”, afirmou a advogada Carolina Machado, eleitora de Serra.

“Serra é bastante fraco, mas não quero que o PT continue no poder”, votou o desenhista industrial René Adriani Jr. “Sinceramente? Estou votando no Serra porque não gosto da Dilma”, afirmou a arquiteta Silvia Barbosa.

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