01/10/2010 - 00h23

Com candidatos na defesa, debate sonolento encerra a campanha

Mauricio Stycer
Enviado especial do UOL Eleições
No Rio de Janeiro (*)

Muitas promessas, poucas propostas e quase nenhum enfrentamento. O último debate presidencial, realizado na noite de quinta-feira (30), foi marcado pelo tom ameno, sonolento, da discussão de temas difíceis de digerir em respostas de dois minutos, como previdência, funcionalismo e habitação.

Último evento da campanha eleitoral antes da eleição em 3 de outubro, o debate na TV Globo era considerado decisivo pelos candidatos e seus marqueteiros. Mas, preocupados em não aparentar agressividade, Dilma Rousseff (PT), José Serra (PSDB) e Marina Silva (PV) optaram por evitar o confronto em quase todas as oportunidades.

Em segundo lugar nas pesquisas, Serra teve a chance de fazer uma pergunta a Dilma, primeira colocada, mas preferiu questionar Marina. Já a petista optou, por duas vezes, em questionar Plínio de Arruda Sampaio (PSOL), que tem menos de 1% das intenções de voto, segundo as pesquisas. Em nenhum momento Dilma e Serra dirigiram-se um ao outro.

O formato engessado, seja pelos temas sorteados pela Globo em dois blocos, seja pelas respostas limitadas a dois minutos, ajudou a manter o debate em temperatura morna. Talvez pela dificuldade para se explicar propostas sobre temas espinhosos, como habitação ou segurança, em dois minutos, Serra e Dilma tenham abusado das promessas. O tucano foi até criticado por Marina (que falou do “promessômetro” de Serra) e por Plínio (“Agora todo mundo promete tudo”).

Serra, no quarto bloco, fez um rápido ataque a Marina, lembrando que ela participou do governo Lula "durante o mensalão", mas evitou avançar na crítica. Menos irônico que nos debates anteriores, Plínio chegou a usar o tempo de uma réplica a Dilma para pedir votos aos candidatos a deputado do PSOL.

Serra evita Dilma, tromba em Marina e evita ataques

No debate visto como sua melhor chance para forçar o segundo turno nas eleições presidenciais, o candidato do PSDB à Presidência, José Serra, evitou confrontar a líder nas pesquisas de intenção de voto, Dilma Rousseff (PT), foi alvo da terceira colocada, Marina (PV), e salpicou críticas ao governo federal apenas nas propostas

Dilma irritou-se em uma única ocasião, depois de provocar risos de parte da plateia. A candidata havia dito: “Nós registramos todas as doações oficiais da campanha no Tribunal Superior Eleitoral. E eu quero deixar claro que todas as doações são oficiais”. Diante da gargalhada geral, rebateu: “São os risos de quem tem outras práticas”, disse, ganhando aplausos.

“Promessômetro”
Plinio começou o debate no ataque. Ao ser questionado sobre sua política para o funcionalismo público se eleito, o socialista rebateu a ex-ministra da Casa Civil: "É completamente diferente da [política] do seu governo", disse Plínio no primeiro bloco do encontro. "Não tem arrocho, terceirização, privatização, tudo para enfraquecer o Estado. Você era ministra e eu não vi você reclamar de nada disso", afirmou,

A petista replicou: "O governo do presidente Lula não privatizou, pelo contrário: ele fortaleceu e valorizou a Petrobras (...) Acabamos com a precarização e fizemos vários concursos", disse Dilma, líder nas pesquisas de intenção de voto e com chances de vencer a eleição já no primeiro turno.

Já Serra questionou Marina Silva, do PV, sobre sua proposta para a previdência social. "Temos que enfrentar o problema quando população ainda é jovem", disse a candidata verde. Ela criticou indiretamente o rival logo em seguida por conta das recentes promessas do tucano de elevar o salário mínimo para R$ 600 já no ano que vem.

Jogando pelo empate, Dilma se escora nos feitos de Lula

Como todo líder de pesquisa de intenção de voto, Dilma Rousseff jogou na defensiva no debate final para a sucessão de Lula. Como todo candidato da situação, ela brandiu as realizações do governo. Como em todos os outros cinco debates da campanha (recorde para uma líder nas pesquisas), a petista evitou Serra nas perguntas diretas

"Em período eleitoral as pessoas vão ganhando uma capacidade quase mágica de ir resolvendo os problemas", afirmou a ex-ministra do Meio Ambiente, que em seguida criticou o que chama de "promessômetro" sem citar o nome do adversário. No segundo bloco, Plínio repetiu a crítica. "Agora todo mundo promete tudo", disse.

Em sua tréplica, Serra reafirmou a proposta. "Tenho defendido a curto prazo que se dê o reajuste para os aposentados e pensionistas de 10%, o dobro do que o atual governo quer dar, e ao mesmo tempo que se dê o aumento de R$ 600 já no ano que vem", disse.

Caixa dois x risadas x aplausos
Plínio voltou a provocar Dilma. "O PSOL coloca os que financiam sua campanha no seu site, não vejo isso no de vocês", disse. “Nós registramos todas as doações oficiais da campanha no Tribunal Superior Eleitoral. E eu quero deixar claro que todas as doações são oficiais”, respondeu Dilma, provocando risadas na plateia. A petista logo rebateu: “São os risos de quem tem outras práticas”, disse, provocando aplausos.

Dilma questionou Marina sobre seu plano para ferrovias e hidrovias e ouviu uma crítica ao governo Lula. “É lamentável que um país como o nosso não tenha um plano de infraestrutura”, disse a pevista. “Desculpe Marina, mas tem um plano de logística e é por causa dele que sabemos que é necessário fazer integração entre ferrovia, hidrovia e rodovia”, respondeu Dilma.

Serra afirmou que vai criar uma guarda civil para tratar os problemas das queimadas. “Em São Luiz do Paraitinga [cidade paulista cujo centro histórico foi destruído por enchentes no início do ano], nós já entregamos tudo que tinha que ser reconstruído. Contrariamente ao que fez a esfera federal. São ações lentas, com poucos recursos”, atacou.

“Recursos federais são poucos, não são gastos em sua totalidade, são mal distribuídos. Isso é o que tem acontecido nas áreas das calamidades”, disse o ex-governador paulista, que aproveitou para afirmar que trará mais metrô para cidades do Nordeste em parceria com os governos estaduais.

“É preciso falar também nos outros tipos de transporte para ter de fato um sistema que não sirva a indústria automobilística, que é caro, poluente e perigoso. Eu concordo que tem que fazer metrô, mas não pode fazer só metrô, tem que fazer ferrovia e hidrovia e isso eu não vejo uma pré-disposição forte nem da sua parte nem da de ninguém”, disse Plínio.

Mensalão x governo Lula x FHC
No último bloco, Serra citou o escândalo do mensalão para atacar as duas adversárias na disputa. Após ser questionado por Marina sobre o programa Bolsa Família, Serra irritou-se: “Não use sua régua para medir os outros, eu diria que você tem muito mais coisas parecidas do que quaisquer candidatos aqui. Você e a Dilma são muito parecidas. Você estava no governo do mensalão”, atacou.

Marina diz que Serra perderá por abrir mão de princípios

Terceira colocada nas pesquisas, mas em ascensão nas últimas semanas, a presidenciável do PV, Marina Silva, afirmou após o debate na TV Globo que seu principal alvo no encontro, o tucano José Serra, perderá a disputa no domingo por falta de coerência na campanha

Marina questionou Serra sobre programas sociais, afirmando que tucanos e democratas fizeram diversos pronunciamentos contra o Bolsa Família. “Quando eu era ministro da Saúde eu criei um programa Bolsa Alimentação. O governo federal juntou e chamou de Bolsa Família e continuou expandindo. A sede disso está em ações como a minha. Eu pelo contrário vou fortalecer”, afirmou Serra.

Em seguida, Serra aproveitou a pergunta a Plínio de Arruda Sampaio (PSOL) para mais uma vez atacar o governo federal. “Por que você acha que o governo federal faz essa política de ajuste acima da inflação?”, questionou. Dilma e Marina não tiveram tempo no debate para responder aos ataques.

No início do bloco, Dilma e Marina comentaram sobre o governo Fernando Henrique Cardoso. A primeira, afirmando que houve um tratamento diferente do governo Lula com relação à crise econômica, a segunda, elogiando a estabilidade trazida durante os oito anos do tucano no poder. “Eu acho que diante da crise a gente não faz teoria”, disse a petista.

Colaboraram Diego Salmen e Rosanne D'Agostino, em São Paulo (*)

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