26/09/2010 - 23h27

Serra muda estratégia e evita confronto com Dilma

Mauricio Stycer
Enviado especial no Rio de Janeiro
Diego Salmen
Do UOL Eleições, em São Paulo

Numa nova estratégia, o candidato do PSDB à Presidência da República, José Serra, evitou, sempre que pôde, atacar diretamente sua rival, a petista Dilma Rousseff, no debate promovido pela TV Record na noite deste domingo (26).

Serra preferiu formular perguntas sobre o governo Lula e sobre planos futuros a Marina Silva, candidata do PV, e a Plínio de Arruda Sampaio, do PSOL. As questões, sobre educação, saúde, política externa, deram a Serra a deixa para fazer críticas a Dilma sem se dirigir a ela.

Dilma, como ocorreu nos outros debates de que participou, também evitou questionar Serra diretamente. Formulou suas questões a Marina e Plínio, sempre que possível. Houve poucos momentos de confronto direto entre a petista e o tucano.

Num deles, Serra questionou a ex-ministra da Casa Civil sobre o "loteamento" nas agências reguladoras do governo federal (entrega de cargos a aliados políticos). "Só no governo da Dilma foram 21 mil [cargos de comissão], a maior parte voltada a partido, a companheiro", disse.

Questionado ao final do encontro sobre a mudança de tom, o tucano observou: "Quando tem muita pauleira, o espectador presta menos atenção no debate".

Por sua vez, Marina Silva, do PV, aproveitou o evento para confrontar os dois principais candidatos. A ex-ministra do Meio Ambiente citou "pessoas do PT que estão muito incomodadas com as alianças da Dilma". Da mesma forma, mencionou "pessoas do PSDB que estão muito incomodadas com o 'promessômetro' do Serra".

Serra e FHC

A candidata do PT também criticou a quantidade de professores temporários no Estado de São Paulo, do qual Serra foi governador entre 2006 e o início deste ano. "Acho que você precisa checar melhor as informações quando falar de São Paulo", disse o tucano.

A petista rebateu: "Eu reitero que todas essas informações são públicas. O maior Estado do país não foi capaz de formar professores em tempo para substituir o trabalho precário". Em outro momento, a ex-ministra da Casa Civil acusou o rival de "esconder sistematicamente" o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso de sua campanha.

"Considero muito estranho que o candidato José Serra utilize a imagem do presidente Lula à noite e de dia faça críticas ao governo", afirmou Dilma. "Vocês têm uma atitude de muita ingratidão com o governo do Fernando Henrique. Ele fez o Plano Real, e vocês, você, foi contra", respondeu o candidato do PSDB. 'Eu não fui patrocinado por ninguém. Essa coisa do Fernando Henrique está mal colocada", disse.

Já Marina mirou Serra na primeira parte do debate. Sua primeira pergunta, dirigida ao candidato tucano, criticou a posição do PSDB a respeito de políticas sociais. Ela afirmou que os tucanos sempre viram de forma negativa programas como o Bolsa Família.

Serra respondeu: “Vou fortalecer o Bolsa Família. Elevar o mínimo a R$ 600 e duplicar o reajuste dos aposentados”. Ao que Marina replicou: “As propostas não estão encontrando respaldo na realidade”.

Em outra ocasião, Marina criticou o governo FHC, lembrando que, ao assumir o Ministério do Meio Ambiente do governo Lula, encontrou um número excessivo de funcionários terceirizados.

Marina x Dilma

A candidata verde também criticou a atuação de Dilma à frente da Casa Civil e a maneira com ela agiu para evitar casos de corrupção na pasta.

"Num cargo de livre de provimento, uma pessoa que entrou com você, da sua confiança, tudo se repetiu novamente. Tráfico de influência, fisiologismo (...) É lamentável que isso tenha ocorrido bem próximo ao presidente da República", afirmou Marina, em referência aos escândalos envolvendo a sucessora de Dilma, Erenice Guerra, que pediu demissão do cargo.

"No meu período na Casa Civil, não houve nenhum processo de corrupção que eu tenha conhecimento, que não tenha sido apurado", minimizou a candidata do PT, que lembrou da participação de Marina no governo Lula.

"No seu ministério teve pessoas de cargo de chefia envolvida na venda de madeira", afirmou a candidata do PT. "As mesmas providências tomadas por você, eu tomei. Não impede que os casos se repitam", disse.

Medo

No segundo bloco, uma jornalista citou o depoimento da atriz Regina Duarte em 2002, quando declarou voto em Serra e disse ter "medo" da eleição de Lula. Em seguida, perguntou ao tucano se não era "um erro repetir a mesma estratégia" com Dilma.

"Eu não estou alimentando medo contra ninguém. Não sei de onde a jornalista tirou essa ideia", afirmou Serra. "E não houve a justificativa para o medo porque o governo Lula mudou tudo aquilo que pregava nos anos anteriores", disse.

O ex-governador de São Paulo também foi questionado sobre a prisão de José Roberto Arruda (ex-DEM), ex-governador do Distrito Federal e que era cotado para ser vice na chapa do tucano até ser cassado por corrupção.

"Arruda foi pego em um esquema de corrupção e foi afastado com todos os outros integrantes, enquanto o pessoal do PT ficou lá, numa 'nice', numa boa", afirmou Serra. "Se vizinhança contamina, imagina a da Dilma", disse. 

Do lado petista, o debate foi bastante prestigiado. Estiveram no encontro Marco Aurélio Garcia, coordernador da campanha de Dilma, Michel Temer (PMDB), vice na chapa da ex-ministra, José Sergio Gabrielli, presidente da Petrobras, Lindberg Farias (PT), candidato ao Senado pelo Rio de Janeiro, e Sérgio Cabral, candidato à reeleição no governo fluminense.

Entre os tucanos, porém, a adesão foi menor. Indio da Costa (DEM), vice de Serra, Monica Serra, mulher do presidenciável e Fernando Gabeira (PV), candidato ao governo do Rio de Janeiro foram as principais presenças. Por parte de Marina, Guilherme Leal (PV), vice na chapa verde, compareceu ao evento.

 

 

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