06/08/2010 - 00h27

Em debate morno, Dilma e Serra apelam a FHC e Lula; Plínio é destaque

Carlos Bencke e Maurício Savarese
Do UOL Eleições
Em São Paulo

Em um debate morno realizado nesta quinta-feira (5) na TV Bandeirantes, Dilma Rousseff (PT) e José Serra (PSDB) se esforçaram para polarizar as eleições presidenciais, mas acabaram dividindo espaço com as frases de efeito do candidato Plínio de Arruda Sampaio (PSOL). Marina Silva (PV) tentou se apresentar como alternativa aos líderes das pesquisas.

O tucano partiu para o ataque primeiro, mas evitou desqualificar o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e até fez elogios à gestão, como tem sido em sua campanha até agora. Em sua estreia em debates, a petista aparentou nervosismo nos dois primeiros blocos, deixando frases incompletas e estourando o tempo para respostas. Depois, a candidata encontrou seu tom.

Dilma e Serra evitaram os temas espinhosos das últimas semanas de campanha, como o vínculo do PT com as Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia), as relações diplomáticas entre Brasil e Irã, a acusação tucana de que o governo boliviano não combate traficantes que operam no país, o suposto dossiê anti-tucano e o vazamento de dados sigilosos do vice-presidente do PSDB, Eduardo Jorge.

Também estreante, Marina direcionou sua primeira pergunta a Serra já se apresentando como alternativa. "Tivemos dois grandes partidos que não foram capazes de esquecer as divergências que muitas vezes são da oposição pela oposição", disse.

Socialista

O octogenário Plínio atraiu atenção com críticas a todos os candidatos, permeadas de ironias e adjetivos que arrancaram sorrisos até dos adversários. Chamou Serra de hipocondríaco e Marina de conciliadora. Ainda classificou políticas de Dilma e Serra de "quinquilharia". O candidato do PSOL fez uma de suas críticas mais diretas à presidenciável do PV.

Confira alguns trechos do debate

"Você não sabe pedir demissão. Você devia ter pedido demissão", afirmou Plínio, em relação às tensões entre o Ministério do Meio Ambiente comandado por Marina com outros setores do governo. A senadora deixou a legenda onde começou sua militância para ser candidata à Presidência pelo PV.  "Estou ouvindo você aqui e nem parece que você saiu do PT." Dilma era a principal rival de Marina em Brasília.

A atuação levou o nome do socialista, durante o debate, à posição número um dos trending topics do microblog Twitter. O desempenho do ex-promotor público surpreendeu, levando-se em conta que seu partido passou meses dividido entre o grupo dele e o da ex-presidenciável Heloísa Helena.

Primeiro bloco

Após um começo morno, em que cada candidato falou sobre saúde, educação e segurança pública, Dilma Rousseff e José Serra elevaram o tom a partir de uma pergunta da petista ao tucano sobre o pouco crescimento do Brasil durante o governo de Fernando Henrique Cardoso. Serra disse que não se pode discutir o Brasil "olhando para o retrovisor".

Por sua vez, Dilma disse que é muito confortável que se esqueça o passado. No final do primeiro bloco, Serra criticou os investimentos em infraestrutura no Brasil, afirmando que os portos e aeroportos do Brasil estão saturados. Já Dilma - que, em alguns momentos, se mostrou nervosa, se posicionando de lado para a câmera e gaguejando - afirmou que os dados apresentados por seu adversário sobre portos são de 2006.

Segundo bloco

O segundo bloco começou com Serra no ataque, perguntando a Dilma “por que o governo federal está discriminando as Apaes (Associação dos Pais e Amigos dos Excepcionais)”. Dilma disse que “não é muito correto" afirmar que o governo não olha pra essa questão.

Em sua réplica, o tucano disse que o Ministério da Educação “quis proibir as Apaes de ensinar, [...] cortou o transporte dessas crianças. As Apaes vem sendo perseguidas”. A petista mais uma vez disse que não podia concordar e que seu eventual governo dará atenção aos excepcionais.

Além desta polêmica, Dilma fez uma pergunta a Marina Silva relativa ao combate ao crack, enquanto Marina Silva perguntou a Plínio de Arruda Sampaio sobre distribuição de renda.

Terceiro bloco

No terceiro bloco, Dilma perguntou a Serra sobre o programa Luz para Todos e sobre a política federal para a indústria naval. Em relação a esta, Serra disse não ter objeções, mas disse que o Luz para Todos era um "prolongamento" do programa Luz no Campo, do governo FHC.

Serra voltou ao ataque, ao cobrar o governo Lula por ter acabado com os mutirões da saúde, realizados pelo tucano quando foi ministro de Fernando Henrique. "Eu não sou contra mutirões. Acho que é só uma medida de urgência. Não pode ser a nossa característica na política de saúde", respondeu Dilma.

Após ouvir Dilma e Serra falarem sobre saúde, Plínio de Arruda Sampaio, foi irônico. "Isso tudo que tem aí é quinquilharia. é solução pela metade", afirmou. 

Quarto bloco

Durante o quarto bloco, no qual houve perguntas feitas por jornalistas da Bandeirantes, Dilma e Serra falaram sobre privatizações. O tucano disse que o governo Lula desvalorizou o patrimônio público, enquanto a petista criticou a gestão de FHC por não ter reduzido a dívida pública.

“Com relação ao governo Lula e ao governo FHC, se eles eram tão contra, é um mistério. Porque nada foi reestatizado.”, disse Serra. Por sua vez, Dilma disse que o governo Lula não reestatizou empresas porque não revê contratos. “A gente respeita contrato”, disse ela, que mais tarde chamou de “magia financeira” a “venda do patrimônio público”.

A petista também prometeu redução de juros, enquanto o tucano disse que criará, a exemplo de São Paulo, a "nota fiscal brasileira".

Quinto bloco

Em suas considerações finais, José Serra disse que "concorrer à Presidência é algo que me emociona" e relembrou seu passado no exílio. "A defesa da Petrobrás e da reforma agrária me custou 14 anos no exílio. Voltei com um compromisso com o povo brasileiro", encerrou.

No início de sua fala, o candidato tucano contou que sua filha cobrou um pai mais sorridente durante o debate. No entanto, Serra explicou: "Eu estou muito feliz. Posso nao ter sorrido, mas fiquei bem feliz [com o evento]".

Já Dilma Rousseff aproveitou seus dois minutos finais para elogiar a "generosidade e a experiência política" do presidente Lula e ressaltar seu trabalho como chefe dos ministros do governo petista.

As frases dos candidatos

"Eu acho muito confortável que a gente esqueça o passado. Mas não é prudente"

Dilma Rousseff
Sobre o pedido de Serra para olhar para o futuro
As Apaes (Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais) vêm sendo perseguidas

José Serra
Em crítica ao Ministério da Educação
"Eu sei o que é ficar na fila como indigente, porque já tive a oportunidade de viver isso."

Marina Silva
Sobre atendimento
na saúde
"Isso tudo que tem aí é quinquilharia. É solução pela metade"

Plínio de Arruda Sampaio
Sobre políticas para saúde de Serra e Dilma

A candidata se comprometeu com a erradicação da miséria e da pobreza e reforçou a ideia de que o governo atual "devolveu a auto estima de que podemos ser um país desenvolvido".

Marina Silva encerrou sua participação reforçando um compromisso com "educação de qualidade" e elogiou os governos anteriores. "O Brasil acabou com o preconceito de classe e foi capaz de colocar um sociólogo no poder. Depois um operário. Agora, a primeira mulher de raiz humilde de origem amazônica".

Plínio concluiu sua participação ironizando, mais uma vez, a participação dos candidatos. "Ficou claro que todos são Poliana. O bem tem que ser feito e o mal tem que ser evitado", disse. O candidato aproveitou para dizer que acredita que "foi discriminado no debate, assim como foi discriminado em outras ocasiões".

O debate incluiu os quatro candidatos cujos partidos têm representação no Congresso. Um dos candidatos excluídos por esse critério, Levy Fidelix (PRTB), escreveu em seu perfil no microblog Twitter que apelaria à ONU para participar das próximas discussões na TV.

Próximo debate

A Folha e o UOL promoverão com os três principais candidatos a presidente, Dilma Rousseff (PT), José Serra (PSDB) e Marina Silva (PV) um debate eleitoral inédito a ser transmitido em vídeo, ao vivo, pela internet, no dia 18 de agosto. Se houver segundo turno, haverá novo encontro em 21 de outubro.

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