26/08/2010 - 12h41

Para Cabral, migração do tráfico devido a polícia pacificadora é "marketing de 5ª"

Carlos Bencke e Maurício Savarese
Do UOL Eleições
Em São Paulo

O candidato do PMDB à reeleição no governo do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral, disse nesta quinta-feira (26) durante sabatina Folha/UOL que "é residual" a migração de criminosos para outras comunidades na capital fluminense, na região metropolitana e no interior após a instalação de UPPs (Unidades de Polícia Pacificadora). Ele afirmou existe "marketing de quinta categoria" sobre o assunto nas eleições estaduais.

 

"A grande maioria do tráfico larga a arma e fica", afirmou Cabral, líder nas pesquisas de intenção de voto e com chances de vencer seu principal rival, Fernando Gabeira (PV), no primeiro turno. "Se houver é muito residual. Onde você tem uma migração maior é para algumas comunidades já identificadas que nós já estamos acompanhando."

Cabral afirmou que, se renovar seu mandato, vai pacificar até o fim dele as quase mil comunidades carentes detectadas em todo o Estado. Ele se comprometeu também a manter no cargo seu secretário de Segurança Pública, José Mariano Beltrame.

Questionado sobre a presença do tráfico em vários morros da capital fluminense, em especial na Rocinha, ele respondeu: “Não posso dizer que vai ser no mês tal, mas eu termino o meu governo com todas as comunidades pacificadas”. Cabral afirmou que o Estado agora tem estratégia e política de segurança. “A crônica do pânico e do desespero sem fim acabou no Rio de Janeiro”, disse ele, que admitiu contar com "pesada segurança" para visitar algumas áreas da cidade do Rio.

“O que acontece lá [na Rocinha] é o que acontece em diversas comunidades em diversos lugares do Grande Rio. O tráfico tem uma rede de proteção. A diferença é que já não acontece mais em diversas comunidades onde não tem mais chefe do tráfico e não tem tiroteio”, afirmou. Em seguida, fez referência ao filme “Tropa de Elite”, que mostra falta de preparo dos policiais militares, além da corrupção e do aparelhamento político na PM.

“Hoje não tem deputado negociando comando do batalhão, nomeando delegado titular. Lembrem-se o que era o Rio de Janeiro. Mas isso [melhorar a polícia] é um processo”, disse o candidato do PMDB, aliado do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e de sua favorita à sucessão no Palácio do Planalto, a petista Dilma Rousseff.

Em mais uma das respostas que deu após longos comentários, Cabral embargou a voz para falar de uma visita a uma área pacificada que fez acompanhado do filho. “Só assim você rompe o preconceito do olhar do asfalto para a favela e da favela para o asfalto. Isso no Rio perdeu seu encanto drasticamente nos anos 80”, afirmou.

Cabral disse que a credibilidade do Estado foi retomada pelas políticas do secretário Beltrame, “que vai continuar por mais quatro anos”. “Não são obrinhas [que o governo fez]. São obras de resgate, que influenciam toda a região. Não apenas quem mora ali, mas quem circula ali. Com certeza estamos fragilizando a estrutura do poder paralelo, tanto da milícia como do tráfico”, disse.

Educação e saúde

Cabral afirmou que seu governo puxou “o freio de mão ladeira abaixo” na educação. O governador atribuiu à aprovação automática e aos investimentos de outros Estados o fato do Rio de Janeiro ter caído no ranking do Ideb (Índice de Desempenho da Educação Básica). “Se você pegar a gestão de outros Estados, houve nos últimos 20 anos investimentos em educação melhores que o Rio de Janeiro”, disse.

O candidato do PMDB defendeu o sistema de educação, dizendo que o índice de avaliação do Ministério da educação é contaminado pela rede municipal. Segundo ele, a cidade do Rio de Janeiro tem a maior rede de escolas municipais da América Latina. “A aprovação automática na capital interfere drasticamente nesses dados“, disse.

O peemedebista afirmou que sua proximidade com Lula viabilizou a ampliação para o Brasil das UPAs (Unidade de Pronto-Atendimento). "Isso é um grande orgulho para nós do Rio de Janeiro", disse ele, que, antes das eleições, era cotado como vice de Dilma. Ele afirmou também que o Estado passou a ter uma postura mais agressiva no combate à dengue, doença que afetou os fluminenses pesadamente os últimos anos.

Cabral, que admitiu ter feito vasectomia nos primeiros minutos da sabatina, indicou também que a legalização do aborto é de saúde pública. Para ele, "a mulher tem que ter um papel de destaque nessa discussão", o que não tem acontecido até agora.

"O que não podemos ter é milhares de sequelas de mulheres no sistema de saúde. Mulheres que vêm reparar danos causados por abortos clandestinos", disse o candidato. "A gente está vendo isso passar sem uma discussão mais profunda. A mulher tem de ser a protagonista. E para os homens eu digo ‘vai fazer vasectomia’."

Amigo Serra, aliada Dilma
Aliado do presidenciável José Serra na disputa pelo Palácio do Planalto em 2002, o candidato do PMDB disse que seu “amigo pessoal” e ex-governador de São Paulo deveria ter tentado um novo mandato no Estado, e não concorrer pela Presidência. “O Serra é qualificado, não vou esconder isso. É meu amigo pessoal. É uma pena, ele devia ter continuado governador de São Paulo, porque eu gosto dele.”

“No conjunto que está se apresentando aqui, a Dilma é a melhor opção. Eu não o desqualifico em nada. Mas ela é qualificada também.” Na mais recente pesquisa do instituto Datafolha, a petista tem 49%, contra 29% do tucano. “A Dilma conquistou essa candidatura. Pela sua história e por seu desempenho. O Lula é pragmático, gosta de eficiência. Ele acredita, na minha linha, no que pode dar certo”, afirmou.

Antes de discorrer elogios a Lula, Cabral se viu obrigado a responder por outra situação, menos favorável, que passou ao lado do presidente. Em um vídeo com mais de 600 mil acessos no site Youtube, um jovem morador da região de Manguinhos, na capital fluminense, pede ao petista a construção de quadras de tênis no local. Cabral o interrompe com ofensas, como "otário" e "sacana". Aliados do principal rival do peemedebista têm usado as imagens na campanha.

“Falei como quem fala ‘vai estudar’. Eu lamento é que se faça uso disso”, disse Cabral, que inicialmente criticou o rapaz e depois voltou atrás. “Ele é que deve desculpas a mim pela abordagem. Aliás, nenhum dos dois deve desculpas. Eu o perdoo. Ele está sendo manipulado. Não era nenhum tom de agressão. Tenho cinco filhos. Imagina que falaria com esse tom. Tentaram explorar politicamente.”

 

Veja íntegra da sabatina Folha/UOL com Sérgio Cabral

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