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Eduardo Knapp/Folha Imagem

LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA

Lula vence Alckmin e se reelege presidente

Cris Gutkoski

Da Redação, em São Paulo

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva conquistou seu segundo mandato neste domingo, 29 de outubro, reelegendo-se em segundo turno. Com mais de 58 milhões de votos, venceu Geraldo Alckmin (PSDB), que no primeiro turno havia conquistado uma supreendente soma de 41,6% dos votos válidos. A popularidade de Lula sobreviveu a um ano e meio de ataques diários da oposição, ao seu governo e ao seu partido, o PT, desde que foi deflagrada a chamada "crise do mensalão" no Congresso.

Dada a ampla vantagem, a reeleição foi proclamada pelo presidente do TSE, Marco Aurélio de Mello, ainda antes das 20h. Lula ganha um novo mandato embalado por uma avaliação positiva recorde de seu governo: 53% de ótimo ou bom, em outubro, segundo o Datafolha. Em seu último comício, na periferia de São Paulo, na noite de quarta-feira (dia 24), o presidente-candidato amparou-se nas estatísticas para desabafar: "Quero ver alguém sair com a avaliação que nós estamos hoje em final de mandato, depois de a gente apanhar quatro anos da imprensa brasileira, quatro anos em que as coisas boas que nós fazíamos não apareciam nos jornais".

No primeiro pronunciamento após eleito, em São Paulo, Lula agradeceu a reeleição "às pessoas que confiaram, ao povo brasileiro que em vários momentos foi instado a ter dúvida contra o governo". Segundo o presidente, a população soube diferenciar o que era ou não verdade e avaliou as melhorias nas condições de vida. "E contra isso não há adversário", disse Lula. "O povo sentiu na mesa, no prato e no bolso a melhora de vida".

As "coisas boas" apareceram numa eficiente propaganda gratuita para rádio e TV e, no segundo turno, nas perguntas e respostas de Lula em quatro confrontos televisivos com Alckmin. Alçado ao segundo turno menos por méritos próprios do que por falhas graves dos adversários, autores do escândalo do dossiê, Alckmin errou o tom da agressividade no primeiro debate na TV, na Rede Bandeirantes, em 8 de outubro, e viu estancar a sua curva ascendente nas pesquisas de intenção de voto. Também o apoio recebido de Anthony Garotinho (PMDB) no Rio foi interpretado como uma contradição no discurso em prol da ética do tucano.

Por meses, a reeleição de Lula era dada como certa ainda no primeiro turno, quando mais um escândalo envolvendo assessores do partido do presidente prolongou a campanha. Em 14 de setembro, a Polícia Federal desmontou um esquema para compra de dossiê contra o então candidato a governador José Serra (PSDB), cujos desdobramentos incluíram prisões, interrogatórios e revelação de nomes da campanha petista que levaram à queda do coordenador e presidente do PT, Ricardo Berzoini.

Lula classificou a operação de "abominável" na manhã de sábado, dia 16, em visita ao Pará. Em entrevista ao Bom Dia Brasil, disse que os petistas interessados no dossiê andavam mexendo "com bandidos" e que "mexer com bandido não dá certo". Feito uma fortaleza que a oposição tenta minar desde meados de 2005, quando foi revelado o esquema do mensalão na Câmara dos Deputados, Lula sobreviveu a mais um escândalo.

Exército de um homem só

"A verdade nua e crua é que nós conseguimos, com muita humildade, desmoralizar aqueles que nós sucedemos, aqueles que pensavam que sabiam tudo", disse o presidente em comício em São Bernardo do Campo, nas vésperas do primeiro turno, na mesma noite em que era duramente criticado por Alckmin, Heloísa Helena (PSOL) e Cristovam Buarque (PDT) por se ausentar do debate na Rede Globo.

Acompanhada de uma série de números oficiais sobre geração de empregos, aumento e distribuição da renda, diminuição da pobreza e acesso a universidades privadas para estudantes carentes, a frase de Lula sintetiza uma das razões da reeleição. O seu governo teve desempenhos melhores do que o de Fernando Henrique Cardoso (PSDB) em diversas áreas.

No horário gratuito deste ano, Lula dava depoimentos sozinho no cenário. Um quadro bem distinto do de 2002, quando o candidato aparecia na TV rodeado de grupos de notáveis, colaboradores de seu programa de governo. A solidão de Lula na propaganda fala também de suas sucessivas perdas na equipe de governo e no comando do PT. Saíram Oded Grajew, Frei Betto, Ricardo Kotscho, esses antes dos escândalos. Em 2005, foram substituídos na cúpula petista o presidente José Genoino, o secretário Silvio Pereira, o tesoureiro Delúbio Soares. Lula ainda perdeu seu ministro da Casa Civil, José Dirceu, depois cassado pela Câmara, e seu ministro da Fazenda, Antonio Palocci, suspeito de quebra de sigilo bancário. Na reta final antes do primeiro turno, precisou dispensar Berzoini do comando da campanha.

O PRESIDENTE

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Conversa com operários em fábrica de São Paulo

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Lula brinca com luva em viagem a Seul, capital sul-coreana

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Na Bacia de Campos (RJ), comemora a auto-suficiência do Brasil no petróleo

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Em comício, abraça o vice, José Alencar, em São Bernardo do Campo


Como provaram as urnas neste domingo, o presidente agora reeleito não perdeu a popularidade nem os votos dos eleitores. O petismo deu lugar ao movimento batizado de "lulismo", que procura dissociar o presidente de seu partido de origem. Lula só lembrou de convocar a militância do PT (a famosa infantaria que de 1982 a 2004 foi às ruas com bandeiras vermelhas para carregar candidatos em apuros) quando as coisas apertaram no final do primeiro turno. Seu último comício, na periferia de São Paulo, reuniu cerca de 4.000 pessoas. Em 2002, os comícios de Lula nas capitais reuniram dezenas de milhares de pessoas.
Avaliação positiva recorde

Em termos de aprovação popular, o primeiro mandato de Lula teve um pico de avaliação positiva em agosto de 2006, com 52% de "ótimo/bom", um recorde histórico nas pesquisas do Datafolha. O recorde foi quebrado em outubro, dias antes da eleição: 53% de "ótimo/bom". O pior momento foi o final de 2005, ano da crise política e da instalação de CPIs para investigar denúncias de corrupção, quando a avaliação "ruim/péssimo" chegou a 29%, ultrapassando por um ponto percentual a de "ótimo/bom" (28%).

"Lula é imbatível porque não é uma pessoa, é um mito. O mito do presidente-obreiro, filho de catadores de cana, o que lhe assegura, independentemente do que faça ou deixe de fazer, a condição de herói popular, dentro e fora do Brasil", escreveu Hélio Jaguaribe na Folha, em 17 de setembro, no artigo "Mais um quadriênio perdido".

O sociólogo referia o estatuto de conto de fadas que envolve a biografia de Lula, do menino pobre que foge da seca no Nordeste, se submete a provas e enfrentamentos de toda a ordem em São Paulo e conquista o final feliz da eleição para presidente em 2002, após as derrotas de 1989, 1994 e 1998.

Jaguaribe apoiou Alckmin. Diferentemente dele, há um batalhão de economistas, sociólogos e cientistas políticos que detecta na reeleição de Lula os efeitos não do sonho ou do mito, mas de seu contrário, o da vida real melhorando aos poucos. Duplicando a trajetória do "herói" principal, histórias de ascensão social mereceram destaque na propaganda gratuita. Desde os brasileiros que comemoravam "mais acesso a arroz e feijão" até os assalariados que ganharam bolsa do Prouni para estudar em universidades privadas. "Quem fez isso antes? Ninguém fez. O meu filho hoje em dia é um universitário", disse uma mãe em lágrimas, e como ela centenas de milhares de brasileiros estão vendo pela primeira vez um integrante da família freqüentar as salas do ensino superior.

O próprio Lula se encarrega de recordar a subversão histórica que foi a eleição de um operário-presidente, o primeiro civil a ocupar o Palácio do Planalto sem diploma universitário.

"A minha classe, vocês sabem, não estava escrito que era pra gente chegar à Presidência", ele reiterou em comício em São Bernardo. "Vocês não sabem o que é o fardo de governar o país com uma parte pequena da elite preconceituosa, como a que temos no Brasil. Nós chegamos lá e tem gente que não nos perdoa, às vezes me provocando o tempo inteiro para ver se eu fico nervoso, se eu reajo".

Foi a quinta campanha de Lula à Presidência. Somando os turnos de 1989 (dois), 1994 (um), 1998 (um), 2002 (dois) e 2006 (dois), uma parte considerável do eleitorado votou em Lula neste domingo pela oitava vez em 17 anos.







Nome: Luiz Inácio Lula da Silva

Data de nascimento:
27 de outubro de 1945

Local: Caetés, à época distrito de Garanhuns (PE)

Partido: Partido dos Trabalhadores (PT)

Formação profissional: metalúrgico, líder sindical

Mandatos: deputado federal (1986-1990) e presidente (2003-2006)

"Continuaremos a governar para todos, mas os pobres terão preferência no nosso governo. As regiões empobrecidas terão no nosso governo uma atenção maior. O adversário agora são as injustiças sociais."

Presidente Lula, no primeiro discurso após reeleito, na noite de 29 de outubro, em São Paulo

53%

É a melhor marca da avaliação "ótimo/bom" do governo Lula, um recorde histórico desde que as pesquisas Datafolha se iniciaram, obtida em outubro de 2006. Os piores índices foram registrados em dezembro de 2005, o ano da crise política: 41% de avaliação "regular", 29% de "ruim/péssimo" e 28% de "ótimo/bom".