Se Lula for preso, país vira "republiqueta de bananas", diz Gleisi

Bernardo Barbosa

Do UOL, em São Paulo

No dia seguinte à decisão do STF (Supremo Tribunal Federal) que negou um recurso que poderia manter o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em liberdade, a senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR), presidente do partido, disse que a prisão de Lula fará o Brasil virar uma "republiqueta de bananas".

"Se acontecer qualquer violência ao presidente, nós consideramos uma prisão política, uma prisão que vai expor o Brasil ao mundo. Viraremos uma republiqueta de bananas", disse.

Gleisi falou à imprensa na porta do Instituto Lula, na zona sul de São Paulo, onde o ex-presidente está reunido desde o começo da manhã com outras lideranças do partido e de movimentos sociais. Segundo a senadora, o partido vai pressionar para que o STF paute o julgamento das ADCs (Ações Declaratórias de Constitucionalidade) sobre a possibilidade de prisão antes de um processo passar por todas as instâncias.

"Temos como ponto principal de nossa atuação agora, junto com os setores democráticos da sociedade, a reivindicação que o Supremo paute, o quanto antes, o julgamento da ADC que está para ser avaliada", disse.

Segundo Gleisi, ao negar o habeas corpus de Lula, uma parte do Supremo não cumpriu o dever do tribunal de ser "guardião da Constituição". Ela disse ainda que os ministros deixaram claro que a atual jurisprudência da Corte permitindo a prisão após a condenação em segunda instância será revista.

O presidente Lula continua sendo o nosso candidato. Ele está bem, sereno e com a consciência tranquila

Gleisi Hoffmann, presidente do PT

Para Gleisi, o direito à presunção de inocência foi retirado ontem de "um homem inocente, mas logo será restabelecido".

A presidente do PT reafirmou que Lula continua sendo o pré-candidato do partido para a disputa presidencial deste ano, apesar da aparente iminência de sua prisão e do risco de ele se tornar inelegível.

Em voto considerado decisivo, a ministra Rosa Weber negou o recurso de Lula e afirmou que seguia o entendimento vigente, mas que sua posição pessoal é contrária à prisão após a condenação em segunda instância. Conheça os argumentos de cada ministro para rejeitar ou aceitar o pedido de Lula.

O diretório nacional do PT se reuniu na tarde desta quinta-feira, em São Paulo, para debater os rumos do partido depois da decisão do STF. A direção do partido também convocou um ato com Lula nesta sexta, às 18h, no Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, em São Bernardo do Campo (SP).

Petistas reclamam de presidente do STF

A presidente do STF, Cármen Lúcia, foi um dos principais alvos de críticas de petistas. Ao chegar à sede do partido, o presidente do PT-SP e pré-candidato do partido ao governo paulista, Luiz Marinho, disse que ela fez uma "manobra escancarada" ao pautar o recurso de Lula antes das ADCs. "Você tem uma pauta de repercussão geral e pauta uma coisa de repercussão individual. Isso é um erro", disse.

Antes, no Instituto Lula, o líder do PT na Câmara, Paulo Pimenta (PT-RS), afirmou que Cármen Lúcia "manipulou deliberadamente a pauta do STF", cometendo uma "violência institucional" contra Lula e criando instabilidade no país.

Para o deputado, a prisão após a segunda instância só foi pautada no STF em 2016 por causa da Operação Lava Jato, como estratégia para fazer presos fecharem acordos de delação premiada.

Segundo Pimenta, a chance de Lula ser preso "ainda não está colocada" do ponto de vista jurídico, pois ainda há recursos disponíveis no TRF-4. Há semanas, a defesa do ex-presidente avalia entrar com os chamados "embargos dos embargos", mas é incerto se o tribunal vai aceitar o recurso e avaliar que ele poderia suspender, até seu julgamento, a execução da ordem de prisão.

Até o momento, o que petistas têm deixado claro em declarações à imprensa e conversas informais é que o partido buscará pressionar o STF a pautar as ADCs e mobilizar a militância para uma "vigília" em frente ao prédio de Lula, em São Bernardo do Campo (SP).

Na reunião desta tarde, as lideranças da legenda devem debater, entre outros assuntos, a organização de uma mobilização nacional em defesa de Lula e informes passados pelo departamento jurídico do partido.

O peso do momento para Lula e o PT pode ser medido pela mobilização dos principais nomes do partido em São Paulo. Além de Gleisi, Pimenta e Marinho, entre eles estão o ex-prefeito Fernando Haddad, a ex-presidente Dilma Rousseff, o ex-chanceler Celso Amorim, assim como deputados, senadores, ex-parlamentares, ex-ministros e dirigentes do partido.

Vários destes nomes passaram pelo Instituto Lula na manhã desta quinta, mas o próprio ex-presidente não teria participado de reuniões feitas no local --apesar de estar lá, onde deve passar o dia. Segundo Luiz Marinho, Lula foi "poupado".

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