Operação Lava Jato

Moro: citar ação dos EUA no caso Lula é "fantasia" de "palanque eleitoral"

Nathan Lopes

Do UOL, em São Paulo

  • Marcelo Chello/CJPress/Estadão Conteúdo

    Moro fez críticas à defesa de Lula a respeito de petição em processo do Instituto Lula

    Moro fez críticas à defesa de Lula a respeito de petição em processo do Instituto Lula

O juiz federal Sergio Moro disse nesta quarta-feira (28) em um despacho judicial que a tese da defesa do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) sobre influência estrangeira na Lava Jato é "fantasia". Para o magistrado, esse tipo de discurso, que qualificou ser usado com "grande irresponsabilidade", é uma "fantasia" usada em "palanques eleitorais".

Na segunda-feira (26), os advogados de Lula apresentaram uma petição a Moro relatando manifestações de membros do Departamento de Justiça dos Estados Unidos de que havia auxílio com o Brasil para a "construção de casos", incluindo a Lava Jato.

"A fantasia de que a Operação Lava Jato ou de que as investigações contra o acusado Luiz Inácio Lula da Silva teriam sido influenciadas ou dirigidas por autoridades estrangeiras talvez possa ser utilizada, com grande irresponsabilidade, em palanques eleitorais, já que infelizmente há quem se iluda com teorias da conspiração", disse Moro em despacho publicado nesta quarta-feira (28) no processo que envolve um terreno para o Instituto Lula e o aluguel de um apartamento usado pelo petista em São Bernardo do Campo (SP).

Os defensores de Lula fazem referência a um vídeo de julho de 2017 em que Kenneth Blanco, então vice-procurador adjunto do Departamento de Justiça dos EUA, faz referência ao processo do tríplex do Guarujá (SP).

"De fato, na semana passada, os promotores no Brasil ganharam um processo contra o ex-presidente Lula da Silva, que foi acusado de receber propina da empresa de engenharia OAS em troca de ajuda para ganhar contratos com a petrolífera estatal, Petrobras", disse na ocasião. "É um caso que nesse momento colocou o Brasil à frente da luta contra a corrupção, tanto internamente, como no exterior".

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Cooperação ou distorção?

Com base nessa fala, a defesa de Lula avaliou haver cooperação "ilegal e escamoteada" entre a Lava Jato e os EUA.

Moro avalia que houve distorção nas falas das autoridades estrangeiras. "Não cabe, porém, à defesa apresentar teses da espécie perante as Cortes de Justiça, inclusive distorcendo o sentido de expressões utilizadas por autoridades estrangeiras, e esperar que sejam levadas a sério".

O magistrado pontua que, "eventualmente, conversas informais entre autoridades de países cooperantes podem ocorrer mesmo antes da formalização dos pedidos de cooperação". Ele ainda ressalta que os EUA não foram o principal país a cooperar com o Brasil na Lava Jato. "Sem desmerecer o auxílio pontual das autoridades norte-americanas, a cooperação principal veio da Suíça, que disponibilizou documentos bancários que revelaram que executivos da Petrobras e políticos inescrupulosos ali mantiveram ativos criminosos".

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No processo do Instituto, Moro disse que não há provas que vieram da cooperação dos EUA. "Assim, a petição da defesa de Luiz Inácio Lula da Silva é vazia e não tem sentido. Aliás, não indica qualquer prova destes autos que poderia ter sido maculada pela fantasiosa cooperação irregular".

Para Moro, a expressão "construção de casos", citada pela defesa na petição, diz respeito à "coleta de provas para a apresentação de acusações, não tendo o sentido negativo sugerido pela Defesa de que estar-se-iam falsificando provas ou forjando acusações".

Com a petição, a defesa queria que as declarações das autoridades americanas fossem incluídas no processo. O objetivo era anular a ação. Também foi solicitado a Moro que a força-tarefa da Lava Jato esclarecesse se houve encontros com representantes dos EUA. O magistrado negou os pedidos.

Em nota, a defesa de Lula disse que há equívoco de Moro ao tratar a petição "como 'fantasia'". "Teria o alto dirigente do Departamento de Justiça dos Estados Unidos da América fantasiado naquela reveladora exposição pública? Não se crê", traz a nota assinada por José Roberto Batochio e Cristiano Zanin Martins.

Para os advogados, "causa perplexidade que o próprio juízo tenha se apressado em apresentar uma defesa do formalmente irregular procedimento denunciado em vez de ouvir os membros da força-tarefa da Lava Jato que teriam dele participado, trocando informações sem observar os ritos oficiais e fora dos canais institucionais". 

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