"Não nascemos pra bater, mas não vamos apanhar", diz Lula durante caravana

Bernardo Barbosa*

Do UOL, em Foz do Iguaçu (PR)

Alvo de protestos durante a passagem de sua caravana pelo Sul, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) disse nesta segunda-feira (26) que irá resistir aos ataques violentos. "Não aceitamos virar a outra face. Não nascemos para bater, mas não vamos apanhar", afirmou nesta noite, em ato em Foz do Iguaçu (PR).

O petista foi mais uma vez recebido com protestos, como aconteceu em quase todas as cidades pelas quais passou em sua viagem pelo Sul, iniciada há uma semana. O acesso à cidade foi dificultado por uma nova manifestação de ruralistas.

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"Hoje aqui em Foz e em Francisco Beltrão, a Polícia [Militar] colocou ordem. Nunca tinha pensado que enfrentaríamos esse tipo de violência. Mas nós vamos terminar nossa caravana em Curitiba", disse a militantes, referindo-se à última parada de seu tour, na quarta-feira, na capital paranaense.

Conforme relatou a Folha de S. Paulo, a Polícia Militar do Paraná usou bombas de gás lacrimogêneo para dispersar um grupo de manifestantes contrários ao ex-presidente na tarde desta segunda em Foz do Iguaçu.

No ato, o petista fez uma retrospectiva sobre as cidades em que enfrentou protestos. "Em Passo Fundo, o reitor estava pronto para me receber na universidade de medicina. E outra vez não permitiram. (...) Em Chapecó (SC), tentaram evitar que meu avião pousasse. Passaram o dia inteiro na porta do hotel provocando. Houve muita briga, um bando de fascista", disse.

Lula reclamou de não poder entrar na Unila (Universidade Federal da Integração Latino-Americana) na tarde desta segunda, devido à manifestação contra a sua presença em Foz do Iguaçu. "Não pode, porque eu estou num partido e eles em outro, ferirem a democracia", afirmou. 

O evento ocorreu poucas horas após o TRF-4 (Tribunal Regional Federal da 4ª Região) negar um recurso de Lula contra a sua condenação em segunda instância no caso do tríplex do Guarujá (SP). Em Foz, o ex-presidente disse não respeitar a decisão do tribunal e afirmou que agora, "mais do que nunca", quer voltar ao Palácio do Planalto. Ele é o pré-candidato do PT à Presidência.

"Eu não respeito a decisão porque minha neta não vai precisar ter vergonha de um avô covarde. Eu quero agora mais do que nunca ser candidato à Presidência da República", discursou. "Ninguém é dono de uma coisa uma coisa que não tem. Eles dizem que o apartamento, é meu mas eu não tenho. Não posso permitir que digam que sou dono de uma coisa que não sou, e estou brigando em defesa da minha inocência."

O petista também voltou a dizer que espera que o STF (Supremo Tribunal Federal) julgue o mérito de seu pedido de habeas corpus contra a prisão após análise de recursos na segunda instância. O julgamento está marcado para o dia 4 de abril.

"Eles não sabem o que é um pernambucano com 72 anos de idade! O respeito que eu quero que eles tenham comigo é julgar o mérito do processo. Me prender pra me tirar da rua? Eu estarei na rua pelas pernas de vocês", disse.

Lula alegou ser vítima de um golpe, assim como a ex-presidente Dilma Rousseff (PT), que sofreu impeachment em 2016. "Respeito é bom. Temos que aprender a dar, mas também temos que exigir que eles tenham. Já deram golpe militar em toda a América Latina, agora sofisticaram o golpe", disse.

Ao terminar o discurso de uma hora, Lula reafirmou sua candidatura. "Não se preocupem com o que está acontecendo comigo, se preocupem com o que está acontecendo com esse país. (...) Mesmo que eu tiver um minuto de vida será dedicado a recuperar a soberania desse país."

Dificuldades de acesso

A reportagem do UOL não conseguiu chegar ao local do evento. No momento em que tentava se aproximar do Sindicato dos Eletricitários, onde Lula discursou, manifestantes antipetistas estavam impedindo o acesso de quem tentava chegar ao lugar. Pouco depois, a polícia disparou bombas de gás lacrimogêneo para dispersar os manifestantes.

Segundo Rosângela Rocha, que tentava chegar ao ato público de Lula, os antipetistas "foram para cima" de quem tentava passar. Ela acompanhava três instrumentistas, todas mulheres, de um grupo de maracatu que se apresentaria no local. Ela relatou que os manifestantes tentaram arrancar os instrumentos musicais das mãos do grupo.

"Eram homens grandes sem o menor respeito pelas pessoas. A gente não está pedindo muito nesse país, a gente está pedindo respeito uns pelos outros. Não importa se você é Lula ou Bolsonaro, se você é qualquer coisa. Respeitar o ser humano é prioritário", disse ela. "A gente está cansado dessa brincadeira de você não poder exercer o seu direito de fazer aquilo que você tem vontade. Ninguém está impedindo eles de se manifestarem."

Rosângela contou também que, além de tentarem tirar os instrumentos do grupo, manifestantes as chamaram de "macumbeiras", de forma pejorativa.

"Qual é o problema de uma pessoa do candomblé passar por essa rua? Acho um absurdo uma coisa dessas acontecer num país que é livre, que é laico", afirmou.

Rosângela e seu grupo chegaram a reclamar da situação para policiais rodoviários que fechavam a rua. Ela disse ter ouvido de um deles que, "infelizmente", a maioria dos policiais fazia a proteção do local onde Lula estava, "porque tinha gente que queria invadir".

"Acho que está correto também, mas eu estou sendo impedida de exercer meu direito", disse. "Tem muita gente que quer ir lá e não está podendo porque 50 pessoas te impedem de participar daquilo que você tem vontade, tem direito."

Cerca de meia hora depois, o UOL retornou ao local do bloqueio, que já estava com policiamento reforçado e com o protesto disperso. A reportagem viu um rapaz sendo abordado pela polícia por, aparentemente, estar com um coquetel molotov. Não foi possível identificar se ele pertencia a algum grupo.

Agressões a jornalistas

Os manifestantes antipetistas também hostilizaram pelo menos um colaborador da Folha, inclusive jogando ovos em sua direção, segundo notícia publicada pelo jornal. Tentativas de intimidação já haviam ocorrido com uma outra jornalista do veículo em São Leopoldo (RS) e contra uma repórter da "Zero Hora" em Passo Fundo (RS).

A hostilidade ao trabalho da imprensa chegou ao ponto da agressão física mais cedo hoje, durante a passagem de Lula por Francisco Beltrão (PR). Um segurança do ex-presidente deu um tapa na cara do repórter Sérgio Roxo, do jornal "O Globo", no momento em que o jornalista tentava filmar a abordagem dos seguranças a dois rapazes suspeitos de participar de protestos antipetistas. Roxo deve registrar um boletim de ocorrência.

* Colaborou Daniela Garcia, do UOL, em São Paulo

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