Dilma critica agressões a Lula e prevê "banho de violência" nas eleições

Mirthyani Bezerra

Do UOL, em São Paulo

A ex-presidente Dilma Rousseff (PT) afirmou nesta segunda-feira (26) que os casos de violência registrados durante a caravana do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no Sul do país precisam ser encarados como "um momento de radicalização do golpe", fazendo referência ao processo de impeachment sofrido por ela em 2016, e que o "aumento do grau de violência" vai se refletir nas eleições majoritárias desse ano: "um banho de violência sobre nós".

"O Brasil passa por um momento de radicalização do golpe. Todo golpe se radicaliza e aumenta os graus de violência para conter a consciência das pessoas e a expressão política. Como não consegue conter com argumentos, usa as formas mais violentas de expressão", disse em entrevista a jornalistas de veículos internacionais no Rio de Janeiro.

Dilma disse ainda que a imprensa internacional precisa estar atenta ao "processo muito violento que vai se caracterizar a campanha eleitoral" no Brasil. "Fiquem atentos, está havendo no Brasil um processo muito violento que vai se caracterizar nesta campanha eleitoral. É um processo político, porque senão como explicar uma senadora do Rio Grande do Sul [Ana Amélia Lemos (PP-RS) que elogiou os atos dos manifestantes contrários a Lula] que defenda o rebenque, o chicote, para nos receber, como método político e de diálogo? Nós tememos pelo resto", acrescentou.

A ex-presidente iniciou a conversa com jornalistas elencando os casos de agressões a militantes do PT durante a passagem de Lula pela região. A Polícia Civil do Rio Grande do Sul está investigando a agressão a quatro mulheres militantes do partido, ocorridas em Cruz Alta (RS). O próprio Lula foi alvo de ovos lançados de um prédio durante discurso em São Miguel do Oeste (SC). Além disso, manifestantes têm bloqueado rodovias na tentativa de impedir que Lula entre nas cidades, como aconteceu em Passo Fundo (RS).

Dilma disse ter chamado a imprensa internacional porque ela foi "quem primeiro divulgou o golpe", que sempre esteve atenta à presidente nos seus momentos finais à frente do Palácio do Planalto. "Tememos pelo resto e acreditamos que a imprensa internacional, que tem mais diversidade, pode servir como canal de denúncias", disse.

Tanto Dilma como o ex-ministro Celso Amorim compararam os atos de violência sofridos pelos petistas durante a caravana ao caso da vereadora assassinada no Rio de Janeiro, Marielle Franco (PSOL-RJ).

Dilma disse que usaram as formas mais violentas de expressão contra Marielle e disse que ela foi morta por um "crime de opinião". "Por isso que eu acho que com a vereadora Marielle aconteceu isso. É possível aceitar que matem uma vereadora por crime de opinião? Ainda mais por ser mulher, negra e combativa? É possível aceitar no Brasil que estejamos com uma forma mitigada de democracia?", questionou.

Amorim, que é o possível candidato do PT ao governo do Rio de Janeiro, corroborou a ideia de Dilma, mas comparou o assassinato de Marielle aos atos contra o ex-presidente Lula, afirmando que ambos os fatos refletem a escalada do fascismo no Brasil.

"Alemanha nazista começou assim, eram pequenas milícias que impediam os democratas falarem. Não é à toa que a vereadora Marielle foi assassinada, executada. Não era só porque era negra, claro que tudo isso facilitou, o fato de ser negra, homossexual, favelada, mas porque ela tinha opiniões políticas e opiniões políticas fortes, e ela teve que ser silenciada, como a voz do Lula tem que ser silenciada durante essa campanha. Isso é um avanço do fascismo", disse. 

Receba notícias do UOL. É grátis!

UOL Newsletter

Para começar e terminar o dia bem informado.

Quero Receber

Veja também

UOL Cursos Online

Todos os cursos