Reunião sobre prévias tucanas em SP foi "arapuca pró-Doria", critica Aníbal

Janaina Garcia

Do UOL, em São Paulo

  • Ana Volpe/Agência Senado

    José Aníbal (PSDB-SP) é suplente do senador José Serra

    José Aníbal (PSDB-SP) é suplente do senador José Serra

Candidato às prévias que escolherão o nome do PSDB na eleição para governador de São Paulo, o suplente do senador José Serra e economista José Aníbal fez duras críticas nesta terça-feira (6) à executiva estadual do partido e ao prefeito João Doria pelo que considerou um favorecimento da sigla ao rival na disputa interna pela indicação às urnas.

Em entrevista ao UOL, Aníbal classificou como "arapuca" a reunião do diretório ocorrida na segunda (5). Na ocasião, ele viu ser derrotada por 70 votos a 34 a proposta de realização de prévias nos dias 25 de março e 2 de abril, defendida por ele e pelos também pré-candidatos Floriano Pesaro, secretário estadual, e Luiz Felipe d'Ávila, cientista político. A sugestão vitoriosa, de prévias em 18 e 25 de março, era a defendida por Doria e aliados, além da própria executiva estadual.

As críticas tiveram como foco não apenas o resultado da reunião, mas, principalmente, a forma como ela foi comandada e como transcorreu, marcada por vaias e insultos lançados por partidários do prefeito de São Paulo – grande parte, de uma claque não integrante do diretório. Em mais de uma ocasião, o coordenador do processo, o secretário-geral do diretório, Evandro Losacco, ameaçou esvaziar o local a fim de que ficassem só os integrantes com direito a voto.

"Aquilo parecia uma arapuca armada com a complacência da executiva estadual e dos aliados do prefeito. Tenho absoluta certeza que muitos que votaram a proposta 1 [que venceu] o fizeram por constrangimento total. Afinal, havia uma sequência de berros com quem votasse na outra proposta", disse. "Colocaram dentro do mesmo lugar, intencionalmente, uma tropa de choque para hostilizar o adversário [de Doria]. Isso é gravíssimo! Já fui o presidente nacional desse partido", reclamou.

"Tema da vitória" de Senna irrita tucano

Ainda sobre a executiva, Aníbal afirmou que o presidente, deputado estadual Pedro Tobias, e o secretário, César Gontijo, "armaram o roteiro, mas não nos informaram". "Eles estavam informadíssimos de como tudo transcorreria. Quando nos chamaram para a reunião, informaram apenas que seria 'sobre as prévias'. No fim, se sabia até de aluguel de música. Nem na eleição desta executiva, ano passado, fizeram isso: Pedro Tobias fechou a reunião só para os integrantes em pontos que não fossem consenso. E agora, qual a explicação?", indagou.

Janaina Garcia/UOL
Prefeito de São Paulo, João Doria discursa após sua proposta de prévias sair vencedora em reunião do diretório estadual do PSDB
A música à qual Aníbal se refere é o "tema da vitória" do ex-piloto de Fórmula 1 Ayrton Senna (1960-1994), usado por Doria desde os eventos no Lide, grupo de empresários do qual está licenciado e que hoje é comandado por seus familiares. A música foi tocada após o discurso do prefeito, que deixou o diretório nos braços da militância aos gritos de "Doria governador".

Irritado com a hostilidade dos apoiadores do prefeito e com a negativa em se realizar votação secreta sobre as datas das prévias, Aníbal saiu ontem antes de Doria discursar. Indiretamente, o prefeito criticou a atitude. "Lamento que algumas pessoas que estavam aqui gritando 'democracia' foram embora. Isso não é um bom caminho. Os grandes sabem ganhar, mas também sabem perder", discursou.

Aníbal respondeu: "Acha que eu vou ouvir o que esse cara fala? A democracia não me exige ouvir quem a transgride".

Ele é um político carreirista com uma fachada de gestor; um cara de marketing que se veste de gari. Mas quando se espreme, não sai nada. Por isso ele não quer debater
José Aníbal, sobre o prefeito João Doria

Durante a reunião, Aníbal foi hostilizado também porque mandou "calar a boca" um militante que defendia as duas outras opções de datas e que gritou "Quem sabe faz a hora". Nesta terça, o político negou ter se exaltado. "O que eu fiz foi mostrar que estávamos em uma reunião partidária, não em um circo (...) Estão confundindo partido com botequim, onde se ganha no grito. O processo tem que ser mais respeitoso".

Secretário de Alckmin reclama de "Fla-Flu" 

Secretário de Desenvolvimento Social do governo Alckmin, Floriano Pesaro reforçou que é candidato às prévias e que já recebeu aval da executiva, ainda que precise oficializar o nome no diretório. Ele elogiou o prefeito, mas ponderou que o clima de torcida organizada é prejudicial à unidade partidária.

Reprodução/Site Oficial
Floriano Pesaro é secretário de Alckmin e pré-candidato ao governo
"O prefeito Doria ainda não se assumiu candidato, não se colocou ainda de forma clara, e isso, de alguma forma, prejudica o debate. Mas acho que uma candidatura dele é muito positiva para o partido. Ele é um homem que ganhou a eleição com amplo apoio popular", disse.

"Mas não me agrada esse tipo de comportamento Fla-Flu, com manifestações raivosas, como se não estivéssemos tratando de pessoas do mesmo partido e, a priori, com as mesmas ideologias e posturas. Reprovo veementemente essa agressividade: é preciso respeito à história de cada um".

Raquel Cunha/Folhapress
Luiz Felipe d'Avila, pré-candidato ao governo de SP pelo PSDB
Favorável à proposta derrotada para as datas de prévias, Luiz Felipe d'Ávila também reclamou do clima na reunião e disse que, já com aval da executiva, oficializa a candidatura ainda esta semana.

"Vai ter prévia, mas é péssimo um clima tumultuado como o da reunião do diretório. Se já foi tanta tensão por algo tão pequeno, o que esperar das questões maiores? Foi uma reação absolutamente desproporcional", queixou-se D'Ávila, que disse ainda esperar que sejam feitos debates. "Prévia sem debate enfraquece o próprio conceito da prévia".

Prefeito de Praia Grande minimiza tensão

Também pré-candidato às prévias, o prefeito de Praia Grande (Baixada Santista), Alberto Mourão, admitiu que terá dificuldades para alinhavar 20% de apoio à sua candidatura entre os cerca de 4 mil convencionais do PSDB no Estado.

Divulgação/PSDB
Alberto Mourão foi eleito prefeito de Praia Grande (SP) em 2016
"Tenho só uma semana", afirmou, referindo-se ao prazo final para isso, dia 13. "É uma tarefa herculana conseguir essas assinaturas, teria que correr o Estado nesse curto espaço de tempo", reconheceu.

Sobre a reunião dessa segunda, resumiu: "É normal a claque; há oba-oba para todos os gostos. Mas acredito que o partido saiu mais energizado contra uma candidatura que não seja a própria", ponderou.

Outro lado

Procuradas, as assessorias da executiva estadual do PSDB e do prefeito João Doria preferiram não se manifestar sobre as críticas de Aníbal.

Ontem, após a reunião do diretório, o presidente do PSDB negou que haja um racha no partido em São Paulo ante o clima de hostilidade a Aníbal na reunião. "Militantes são animados, e toda disputa não tem mesmo uma unanimidade", minimizou Pedro Tobias.

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