Condenação de Lula reforça fratura na sociedade, diz cientista político
Juliana Carpanez
Do UOL, em São Paulo
A condenação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), nesta quarta-feira (24), reforça uma fratura na sociedade brasileira criada pela radicalização política.
Essa é a opinião de Antonio Carlos Mazzeo, cientista político e professor do departamento de história da USP (Universidade de São Paulo).
O PT vai reforçar a candidatura [de Lula] e jogar suas bases na rua. Essa fratura está sendo organizada, construída, e o PT vai trabalhar nela reforçando as críticas às elites, aos setores conservadores, à 'mídia manipuladora'
Antonio Carlos Mazzeo, cientista político
O especialista faz a ressalva de que essa fratura não existe apenas por causa do PT. "Um percentual mínimo da população detém a riqueza nacional. Isso não acontece de forma descolada da reação da sociedade, por mais que seja uma sociedade despolitizada como a brasileira. Existem aqueles que pensam, que organizam, que formam opinião. O apoio a Lula nas pesquisas vem justamente de uma organização política do PT, que tem capilaridade", continua.
Mazzeo explica essa capilaridade dizendo que, dentro do PT, existem muitos núcleos associados a movimentos sociais. É o caso do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra).
"O PT é muito forte para eles, eles são fortes para o PT, assim como acontece com outros setores: acadêmicos, artistas e sociedade civil organizada, que dão apoio ao Lula e denunciam o julgamento."
Lula pode não ser uma unanimidade. Mas representa uma liderança que aglutina parte da sociedade. Ele criou uma identidade forte com o povo brasileiro
Antonio Carlos Mazzeo
Assim como acontece na sociedade, o especialista não acredita que o possível candidato à Presidência seja uma unanimidade dentro do partido. Mas sua aceitação nas pesquisas fez com que se tornasse a primeira opção para as eleições presidenciais de 2018. "É o cara que vai bem no primeiro e segundo turno. Mesmo não sendo unânime dentro do partido, criou-se esse consenso forte dentro do PT."
Para Mazzeo, não é real que Lula seja a única alternativa para a corrida de 2018, conforme o PT vem apregoando. "Nenhum partido tem só um plano, até porque o processo eleitoral é muito dinâmico. Mas o PT fala isso por uma questão de pressão política." Com a decisão desta quarta, o petista cai na Lei da Ficha Limpa e pode ser impedido de disputar a eleição presidencial, marcada para 7 de outubro. Lula dependerá de recursos na Justiça para conseguir concorrer.
O cientista político cita dois possíveis candidatos para o PT apoiar, caso o ex-presidente Lula não possa concorrer. O primeiro seria Ciro Gomes (PDT), que ele considera a melhor aposta para uma esquerda social democrata. Outra alternativa, que poderia empolgar movimentos sociais, seria Guilherme Boulos, ligado ao MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem Teto).
"Se não for o Lula [o candidato à Presidência], fica tudo mais difícil para o PT, que também ficará rachado", conclui Mazzeo.
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